quinta-feira, 11 de agosto de 2016

O povo precisa aprender a votar para o poder legislativo


Quando uso a palavra 'povo', estou a me referir à grande massa de eleitores ativos no Brasil: trabalhadores assalariados, indivíduos das classes menos favorecidas e grupos historicamente reprimidos. É justamente este povo formado por negros, pardos, mulheres e proletários que decide as eleições por ser maioria numérica da população. Mas alguma coisa está errada, porque a maioria dos políticos deste país NÃO está representando essas pessoas e nem governa para elas. A maioria dos políticos, especialmente do poder legislativo, são fanáticos religiosos, representantes do empresariado, ruralistas, fascistas, misóginos e hábeis ladrões oportunistas. Sei que a corrupção é uma constante na política brasileira, mas não é ela que mais me preocupa, e sim a falta de uma ideologia voltada para atender às necessidades do povo. É no mínimo estranho que um país desigual, de maioria pobre, excluída e proletária tenha políticos de direita ou do 'centrão' dominando o poder legislativo. O que falta no Brasil é educação política nas escolas e um curso preparatório (habilitação) para tirar título de eleitor. Nunca poderemos ter democracia num país que tem compra de votos, voto de cabresto, voto em troca de cargos, voto em troca de favores ou voto por jingle bonitinho. Isso sem falar na grande mídia brasileira, que sempre teve o péssimo hábito de manipular a opinião pública para que os candidatos dela sempre pareçam mais honestos que os voltados para as necessidades do povo.


Falando nisso, ontem vimos uma das cenas mais grotescas da história no senado federal, onde a maioria dos senadores votou preliminarmente pelo fim das férias e do 13º salário, pelo aumento da idade da aposentadoria, pelo congelamento de salários por 20 anos e pela privatização de empresas públicas. Os trabalhadores, que formam a grande massa de eleitores, estão tendo os seus direitos básicos surrupiados por uma corja de parlamentares vendidos que aceitam qualquer propina vinda do grande capital. Plutocratas, entreguistas e cleptocratas estão unindo as suas forças para impor suas agendas antidemocráticas contra a população. E se não houver reação nas ruas, a coisa vai piorar, e muito.
A causa maior disso, como ficou implícito neste texto, é que o povo não sabe votar para o legislativo. É o legislativo que está atacando os direitos dos trabalhadores, mulheres, aposentados e minorias. É o legislativo que está dando um Golpe de Estado para impor um plano de governo que jamais venceria nas urnas. É o legislativo que é o grande câncer desse país. Mas para mudar o legislativo, é preciso mudar a forma como escolhemos nossos candidatos, a forma como enxergamos a política. O povo aprendeu a votar para o executivo, mas ainda precisa aprender a votar para o legislativo. Devido ao tal "quociente eleitoral" muitos deputados salafrários estão entrando na Câmara sem receber voto majoritário. Isso precisa acabar. O povo precisa primeiro aprender a votar em políticos que defendam os seus direitos, o que significa, a nível de Brasil, ter que votar em partidos de esquerda. E, segundo, o povo precisa também votar em pessoas honestas. Não basta ser de esquerda, tem que ser honesto até os ossos, porque a grande mídia, o judiciário e o MPF vão esquadrinhar até o último átomo dos políticos de esquerda atrás de qualquer indício de corrupção para tirá-los de lá – enquanto que os políticos de direita tradicionalmente são poupados dessas investigações.
Depois que a maioria no legislativo estiver do lado do povo, aí, sim, será imperativo exigir uma Assembleia Constituinte que acabe com esse presidencialismo de coalizão, o financiamento privado de valor ilimitado de campanhas eleitorais e a possibilidade de Golpes parlamentares travestidos de legalidade.


Essa proposta toda pode parecer coisa de socialista utópico, mas esse é o caminho mais correto a ser seguido para que o povo não seja mais castigado e explorado do que já está sendo. Nunca fui muito simpático com lutas de classes e revoluções, mas se o direito dos trabalhadores não for respeitado junto com a democracia, temo que o Brasil realmente vire, num futuro próximo, uma Cuba gigante na América do Sul. Nomes como Fidel Castro e Che Guevara não foram frutos de democracias igualitárias e nem surgiram por acaso. Havia todo um contexto de repressão, desigualdade, injustiça social e desrespeito à democracia que despertou o espírito de luta desses homens.

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