Cristãos são como comunistas e vice versa

Muitas pessoas ficaram boiando quando o Papa Francisco disse certa vez que "cristãos são como comunistas e vice versa". Isso porque, como todos sabem, os regimes comunistas nunca tiveram muita simpatia por religiões e nem os cristãos costumam concordar que o Estado deve redistribuir as riquezas. E sim, de fato comunismo e cristianismo são coisas diferentes, afinal, quem disse que deveríamos dar tudo aos pobres não foi Marx, mas Cristo. Apesar disso, se pararmos para pensar um pouco, há elementos essenciais que são compartilhados tanto por cristãos quanto por socialistas e comunistas. Por exemplo: a preocupação com os mais pobres, a partilha, a visão fraterna da humanidade, o desapego ao dinheiro e a necessidade de inclusão social são algumas das preocupações tanto de cristãos quanto de comunistas.

“São os comunistas os que pensam como os cristãos. Cristo falou de uma sociedade onde os pobres, os frágeis e os excluídos sejam os que decidam. Não os demagogos, mas o povo, os pobres, os que têm fé em Deus ou não, mas são eles a quem temos que ajudar a obter a igualdade e a liberdade” (Papa Francisco)

Jesus era maltrapilho, pobre, subversivo, falava de amor, de perdão, de altruísmo... Ou seja, era uma espécie de hippie da antiguidade: alguém que se colocava claramente contra o pensamento vigente da época de forma totalmente revolucionária. Já nos dias hoje, quem é subversivo, contra o sistema, à favor do respeito às diferenças e defensor de prostitutas e ladrões é progressista. Aliás, falar de amor hoje em dia, com essa cultura do ódio que temos hoje, já pode ser considerado um ato revolucionário. Por isso que hoje, quem se opõe ao comunismo (ou mesmo ao progressismo), por tabela, também acaba se opondo ao próprio Jesus.
Não raramente, as pessoas que odeiam os pobres, a divisão de riquezas e a inclusão social são fascistas, retrógradas, reacionárias, de direita, individualistas, egoístas e defensoras do sistema de opressão controlado pela burguesia. Se uma pessoa se diz cristã, ela pode até ser contra o comunismo, mas não pode ser contra os pobres, não pode alimentar o ódio e nem pode ter apego excessivo ao dinheiro e ao luxo. E o grande paradoxo é que apesar de vivermos num país de maioria cristã, temos a classe média mais egoísta, racista, elitista e fascista do mundo. Não por acaso, por isso, os cristãos mais reacionários ficaram totalmente enlouquecidos diante das frases do Papa Francisco sobre o comunismo, chegando a alegar que eram "fake news", que "cristão de verdade têm que combater o socialismo", que "cristão não vota no PT" e outras apelações tragicômicas. E quando não restavam mais argumentos e a ficha caía, o que sobrava para esses reaças era atacar o papa Francisco.

É por essas e outras que o maior erro da igreja católica foi de ter combatido a Teologia da Libertação, porque isso permitiu que muitas pessoas conseguissem manter um duplipensar que as faz acreditar que são cristãs, quando, na verdade, não passam de hereges mefistofélicas, ou se preferir, de anticristãs mesmo.