sábado, 29 de dezembro de 2018

A maior banda de rock que jamais existiu


Apesar de nunca ter feito menção alguma sobre este assunto aqui neste blog, eu criei ao longo dos últimos vinte anos uma batelada de bandas de rock fictícias para a estória de um livro/quadrinho/desenho que se chamaria Sociedade do Rock. Esse livro/desenho teria, como o próprio nome sugere, a trama de várias bandas de rock brasileiras e de seus integrantes rumo ao sucesso. Eu cheguei a esboçar algumas tirinhas e a criar algumas ilustrações dessa história fictícia, produzindo o roteiro, criando os personagens, inventando bandas e até compondo músicas para essas bandas de acordo com estilo de cada uma. Foram dezenas de bandas e centenas de personagens que contavam em tempo real o que se passava num Brasil de um universo paralelo idêntico ao nosso. Tinham bandas de punk rock, de hard rock, de metal e de pop rock nessa história que mostrava a trajetória e o planejamento dos músicos e produtores desde a formação inicial até o fim das mesmas. Mas de todas as bandas que criei, a principal e mais famosa era, sem dúvidas, a banda de pop/rock chamada Unno, cujo nome veio em um sonho junto com a capa do primeiro EP dela. E é justamente em torno desta banda que a história principal girava.

Pois bem, como não tive como conciliar a criação dessa história com outros projetos pessoais, acabei o engavetando durante os últimos anos, mas a história da Sociedade do Rock está pré-escrita, esperando apenas por um pouco de tempo e recursos para ser retomada. Enfim, mas não é sobre isso que este post se trata, mas sim sobre a riquíssima história por trás da banda Unno.

Os lendários integrantes da Unno: Tom, Ellie, Klindo, Panther e Hiroshi

A história por trás da Unno
Criada no ano 2000, a Unno era uma banda progressista paulistana que tinha uma história incrível e reunia remanescentes de outras duas bandas – a DeterGente e a Wacas Malhadas – que se uniram em torno de um projeto em comum. O nome Unno veio veio justamente daí: da união dessas duas antigas bandas. Os cinco integrantes principais da banda – Klindo (Plínio Kloid), Ellie (Elisângela Santana), Panther (Mauro Oliveira), Tom (Tomás Pelegrini) e Max (Higor Sampaio, substituído depois por Hiroshi) – traziam personalidades únicas e tinham suas histórias contadas a partir do próprio ponto de vista deles. Cada um desses personagens foi criado com todo carinho e atenção nos mínimos detalhes, incluindo defeitos, qualidades, manias, sotaques, ideias, sonhos, família, ideologia, espiritualidade, posicionamento político e até grupo sanguíneo.

Enfim, o que eu quero chamar atenção com esta postagem não é nem para a banda, nem para o quadrinho, nem para a história e nem para as músicas: mas, sim, para a importância vital que a banda teve para o contexto social e político dentro do universo em que ela estava inserida.

Desenho à mão da Unno feito em 2002

A Unno e a reinvenção do amor
A Unno durou ao todo dez anos, de 2000 até 2010, e lançou oficialmente sete discos, sendo um deles de coletânea (lançado em 2011), um ao vivo e um acústico. O primeiro álbum da banda, lançado em março de 2001, foi disparado o mais vendido graças ao alto investimento e ao belíssimo trabalho por trás dele que envolvia financiadores, publicitários, empresários, produtores, técnicos, figurinistas, luthiers, estilistas e designers. Este primeiro álbum, intitulado A Reinvenção do Amor, tinha músicas que seguiam uma ordem cronológica em cima de um fio condutor central que era a solidariedade. Nesta época, a caçula e única garota da banda, a Ellie, tinha um irmãozinho que estava com leucemia e precisava de um transplante de medula óssea para poder continuar vivo. Foi aí que seus companheiros de banda, produtores, empresários e financiadores tiveram a ideia de usar a doação como tema central do disco para incentivar as pessoas a doarem sangue, órgãos e, claro, medula óssea. E a magia da história do primeiro disco está justamente nisso: na capacidade de mover uma legião de pessoas para o bem.

Eu tive o trabalho de compor várias canções para a banda que tinham como foco a solidariedade, a doação, a adoção, o carinho, a amizade, o respeito, a empatia, o altruísmo, a esperança, a tolerância, o perdão, a caridade e, sobretudo, o amor. Por isso, o nome do disco era A Reinvenção do Amor. Entre as canções, uma abordava a infância perdida num hospital, outra abordava a velhice em um asilo, outra falava do amor aos animais, outra da saudade dos entes queridos que se foram, outra da perda de um filho... mas a música mais importante do disco era Essa Chama Não Pode Apagar, porque ela falava de como todos nós podemos nos tornar imortais nos corações que deixamos para trás – mas não apenas isso: essa música era um verdadeiro hino de tudo que as pessoas mais precisam fazer hoje: amar uns aos outros.
A canção Essa Chama Não Pode Apagar surgiu em um sonho meu. O início da canção, sei lá como, já veio pronto no meu subconsciente: "Eu quero inventar um sentimento em que todos possam acreditar, construir um mundo sem fronteiras, ser criança para saber perdoar". Essa canção sintetiza tudo que mais falta hoje no mundo: respeito, tolerância, solidariedade e amor.

Primeiro EP da banda lançado em 2000 revelado num sonho

Este primeiro disco da Unno foi, dentro da estória, responsável por uma onda de solidariedade que conectou todos os fãs e até mesmo as pessoas que não curtiam as músicas da banda. A transformação social a partir da Reinvenção do Amor foi algo comovente, porque ajudou a salvar muitas vidas, engajou ONGs, mobilizou pessoas em campanhas de solidariedade e uniu os diferentes em nome de um bem maior. Dando um spoiler da história, o irmão caçula da Ellie foi salvo por uma doação de medula graças justamente a essa campanha, mostrando que quando as pessoas se unem por um ideal, é muito mais fácil alcançá-lo. Pois como bem questionou Bob Marley certa vez: "se todos nós dermos as mãos, quem sacará as armas?"


Férias da banda desenhada à mão em 2003

O legado da Unno
O motivo de ter escrito este post em meio à turbulência política que estamos vivendo foi justamente porque há algumas semanas atrás eu sonhei que estava assistindo a um show da Unno em Salvador, onde a banda se reuniu novamente oito anos após o seu fim para homenagear o mestre Moa do Katendê e todas as vítimas da intolerância e do fascismo que tem crescido sem controle no Brasil. Foi incrível ver meus próprios personagens ao vivo pedindo para que as pessoas abracem a causa que eles sempre defenderam: o diálogo, a diplomacia, a cordialidade, o respeito e a solidariedade. Eu sinto como se a Unno, seus integrantes e todas as ideias que ela defende estivessem vivos de verdade dentro de mim. Daí me vi na obrigação de divulgar tudo isso como forma de mostrar a necessidade urgente que há de se criar um fio condutor social baseado na solidariedade e no respeito mútuo. Precisamos reinventar o amor e a nós mesmos também.

Nos discos seguintes ao fabuloso A Reinvenção do Amor, o tom mudou um pouco e banda ficou menos pop e mais rock n roll. O segundo disco, o Ideias Profanas, lançado em 2004, foi considerado o álbum mais "esquerdista" da história do rock devido às suas críticas ácidas ao capitalismo, às religiões, ao patriarcado, ao racismo, à heteronormatividade, aos plutocratas e ao pensamento reacionário que hoje virou moda no Brasil. O som havia ficado muito mais pesado com uma pegada mais punk/hard rock, ressaltando lado rebelde da banda. Este segundo álbum foi produzido por uma gravadora independente nos Estados Unidos, porque a gravadora brasileira que produziu o primeiro disco (a Pop Records) o considerou "antipop" e "subversivo demais" para ser viável comercialmente. E, de fato, este álbum vendeu muito menos que o primeiro, até porque suas canções foram muito boicotadas pelas rádios e pela televisão devido às suas críticas perigosas ao sistema.

O terceiro e o quarto disco (de 2006 e 2008, respectivamente) seguiram por um caminho mais alternativo, com um rock mais refinado, mas mantendo a pegada pop do primeiro álbum por razões comerciais. No final de 2008, Ellie deixou a banda para seguir carreira solo. Em 2009, Klindo, o personagem mais polêmico e carismático da história, deixou a banda após muitas brigas e confusões mundo afora (vou escrever um post só sobre ele, porque ele merece). E em 2010, Tom Pelegrini, o coração da banda, deixou a Unno para tratar de um câncer na tireoide, o que causou o fim da banda. E agora, em 2018, eles resolveram se reunir no meu sonho (à exceção do Klindo que hoje mora nos EUA) para trazer uma mensagem de esperança e amor para a humanidade. É por isso que eu digo que a Unno foi a maior banda de rock que jamais existiu.

Namastê!

É disso que eu estou falando!

2 comentários:

  1. Wellington você já ouviu Sabaton, Powerwolf ou alguma outra banda de power metal? Se ouviu o que acha delas?

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    1. Não ouvi ainda. Aliás, tenho escutado muito pouca música nos últimos anos.

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