terça-feira, 23 de julho de 2013

Os aspectos positivos das religiões


busca por quem nós somos é uma busca espiritual de todos os seres humanos.
Mesmo aqueles que não creem em divindades possuem, em sua essência, algo imaterial que nos leva a buscar respostas para as nossas inquietações existenciais. Esta busca pela compreensão de todo esse mistério que nos cerca e de quem nós somos é uma busca espiritual, pois ela mexe com algo que está na nossa essência: o significado. Isso é o que podemos chamar de fé objetiva ou fé pragmática.
A religião surge dentro deste contexto, pois ela se apodera desse aspecto espiritual para impor os seus dogmas e mandamentos aos fiéis, transformando-os em verdadeiros rebanhos. O que fez a religião sobreviver até os dias de hoje foi justamente o "sequestro" da espiritualidade, aprisionando-a dentro de um modelo padrão para que este fosse seguido pelos fiéis. Este sequestro da espiritualidade por parte das religiões traz aspectos positivos e negativos. Neste post, vamos focar no lado bom que as religiões têm para oferecer para a sociedade e para as pessoas.

A religião pode ser uma ferramenta para o bem da humanidade

A analogia da faca
Apesar da religião, para mim, não passar de uma espécie de fã clube de uma entidade invisível, ela se encaixa numa analogia que eu apelidei de o dilema da faca. Este dilema se traduz na seguinte ideia: uma faca não é boa e nem má, pois o que a torna boa ou má é uso que se faz dela. Pode-se usar uma faca para cortar uma fruta, por exemplo – ou pode-se usar esta mesma faca como uma arma para ferir alguém. A faca é apenas uma ferramenta que pode ser usada para o bem ou para o mal. Com as religiões ocorre a mesma coisa, pois você pode usá-las para tornar as pessoas melhores ou pode usá-las também como subterfúgio para justificar crimes, suicídios e atentados terroristas. Então note que o problema não é a religião em si, mas, sim, a forma como ela é usada. 
Esse mesmo dilema também ocorre com a ciência: pois a mesma ciência que trabalha a favor da vida e do progresso pode ser usada para fabricação armas de destruição em massa ou causar consequências desastrosas, como, por exemplo, o uso indiscriminado de antibióticos (que aumenta a resistência das bactérias) ou o uso da talidomida por gestantes (que causou má formação congênita em muitas crianças).

A nossa espécie evoluiu acreditando em seres sobrenaturais

De onde vem a fé?
Para não tornar esse post muito extenso, vou listar os principais aspectos positivos das religiões em tópicos. Mas, primeiramente, é preciso relevar uma informação importante que muitas pessoas, geralmente antiteístas, ignoram: a de que a fé é algo natural e intrínseco ao ser humano.

PONTO CHAVE: POR QUE TEMOS FÉ?
O ser humano possui fé basicamente por três razões:
1º) Necessidade de atribuir causa e propósito para as coisas.
2º) O conhecimento de que um dia vamos morrer.
3º) A nossa solidão existencial num mundo e num universo indiferente a nós.

Explicando melhor:
É muito duro e até mesmo insuportável para a maioria das pessoas pensar que nós somos fruto do acaso, que a nossa vida não tem um propósito e de que não passamos de mais uma espécie de animal lutando pela sobrevivência. A crença de que há algo superior a nós e que esse algo é responsável pela harmonia e complexidade do universo é uma inferência natural do ser humano. Esses são alguns dos alicerces que as religiões tomaram para si, massificando-os em ideologias pré-fabricadas para que as pessoas chegassem a um consenso sobre o metafísico e o divino. Desta forma, ninguém precisa filosofar sozinho ou se preocupar com questões existenciais, basta, simplesmente, ter fé.

Será que a religião não nos ensina nada mesmo de bom?

O que a religião tem de bom para nos oferecer?
Agora, sim, vamos aos principais pontos positivos das religiões:

1 - INCLUSÃO SOCIAL
Muitas pessoas nunca receberam atenção, carinho e amor de pais e familiares – e o que resta para essas pessoas muitas vezes é o abandono, a dor e a solidão. Não raramente, pessoas assim entram em depressão, entram para o mundo do crime, usam drogas ou se prostituem. As religiões normalmente trazem para essas pessoas excluídas um convívio social sadio, um engajamento social e um ambiente onde ela é aceita e amada pelos que estão a sua volta.
Além disso, as igrejas funcionam como grandes clubes sociais onde as pessoas sentem-se parte de um grupo. Sendo assim, a igreja passa a ser um local onde as pessoas podem se encontrar para conversar, fazer amigos, interagir socialmente e conhecer novas pessoas. Esse tipo de ambiente é relativamente escasso hoje em dia, pois existem poucos locais onde pessoas de todas as idades possam se encontrar e formar vínculos afetivos e sociais no seu cotidiano. Os próprios cultos, cerimônias, retiros e encontros de jovens servem como uma reunião social sadia para muitas pessoas.

2 - FORMAÇÃO MORAL
Existem pessoas – especialmente crianças e adolescentes – que nunca receberam educação doméstica, que nunca receberam valores morais, que os pais os abandonaram nas ruas, que não tiveram ninguém para ensiná-las a diferenciar o certo do errado e que vivem no mais absoluto vale-tudo moral. Muitas dessas pessoas simplesmente são esquecidas pela sociedade e vivem na total marginalidade e desesperança. A religião, neste aspecto, serve para ensiná-las o que é certo e errado, o que é ético e o que elas podem ou não fazer sem ferir os direitos dos outros.

3 - FREIO CONTRA A CRIMINALIDADE
Não está no gibi o número de pessoas que deixaram as drogas, os vícios, o mundo do crime, a promiscuidade e a vida desregrada para viver de acordo com os propósitos da sua religião. Além do mais, é sempre preferível que alguém te aponte uma Bíblia do que te aponte uma arma.
Podemos acrescentar também que existem pessoas que não têm um limite moral e se sentem livres para fazer o que quiser. A ideia de um deus punitivo ajuda as pessoas a não cometerem crimes por temor a Deus.

4 - SOLIDARIEDADE E HUMANISMO
Muitas religiões se propõem a ajudar ao próximo, a difundir o altruísmo e a estimular a solidariedade e a caridade para com os nossos irmãos mais necessitados. Muitas instituições beneficentes, asilos, orfanatos e creches recebem ajuda financeira e trabalho voluntário vindo de igrejas.
Existem aqueles que alegam que há egoísmo por parte de quem ajuda os semelhantes, pois muita gente ajuda apenas para obter uma recompensa divina após a morte. Sei que isso é mesquinho, mas, neste caso, os fins justificam os meios. É melhor que as pessoas sejam solidárias por almejarem um paraíso do que não ajudarem ninguém.

5 - BENEFÍCIOS PESSOAIS
A religião, queira ou não, traz a cura de doenças por psicossomática (placebo), traz o aumento da confiança e da coragem para lidar com as adversidades, traz esperança, aumenta a autoestima e ensina a lidar com dores e doenças incuráveis. Sem falar naquela ideia de que Deus está do seu lado te dando força e te auxiliando nos momentos difíceis.
Algumas religiões trazem ainda a meditação, a reflexão através de orações e nos permite fazer autoexames de consciência todas as noites antes de ir dormir. Isso não apenas nos torna melhores, como nos serve como exercício de autoconhecimento. Além do mais, os exames de consciência antes de dormir ajudam a tirar o peso da consciência e o complexo de culpa quando se pede perdão a Deus.

6 - ANTIDEPRESSIVO
A crença num Pai bondoso que te ama, que diz que você não surgiu por acaso, que diz que você vai encontrar seus entes queridos após a morte e que te ajuda nos momentos difíceis é algo que amansa muitas das nossas inquietações existenciais, pois a fé traz conforto e traz alívio da ansiedade e da depressão. Muitas pessoas não têm estrutura emocional e psicológica para viver sem uma religião que as dê esse conforto emocional. Deus, de certa forma, funciona como uma espécie de psiquiatra, onde a pessoa conversa consigo mesma e desabafa sobre seus problemas, angústias e anseios – e isso faz um bem danado para todos nós.

7 - FELICIDADE
Existem pessoas que entram em êxtase existencial e sentem uma felicidade plena na experiência de um contato com a entidade que elas acreditam. Coisa que ocorre parecida em shows de rock, onde os fãs entram em êxtase, acendem isqueiros, choram e se abraçam felizes. Outro exemplo disso são os retiros espirituais e meditações que trazem bem-estar, conforto e paz interior.

8 - SIGNIFICADO
Como foi citado lá no início, não saber por que o universo existe e o que ocorre após a morte causa aflição para muita gente, logo, a religião serve de paliativo para lidar com essas questões sem que ninguém precise pensar a esse respeito. A religião traz respostas imediatas para as questões fundamentais, dando um significado mais profundo à vida das pessoas, ainda que ilusório.

9 - ASPECTOS CULTURAIS
A religião é responsável por diversos aspectos culturais de um povo, desde feriados, festas populares, fogueiras para santos, construção de patrimônios históricos e indo até expressões verbais como: "Ai meus Deus", "Deus me livre", "Afe, Maria", "Que Diabo é isso?", etc.


Uma boa educação substitui a religião?

Religião versus educação
Muitos ateus afirmam que a educação secular de qualidade elimina a necessidade da educação oferecida pelas religiões, coisa que eu concordo em parte. O grande problema é que é mais fácil (e mais rentável) fazer alguém temer a Deus, do que dar conceitos básicos de educação que construam uma boa índole nas pessoas "ignorantes". Daí que a lei do menor esforço é que leva a religião a prevalecer sobre a educação. Porém, a razão é muito mais eficaz na formação do caráter de uma pessoa do que o medo.
A razão para eu apoiar a religião neste aspecto está no fato de que vai demorar muito tempo para que tenhamos uma educação de qualidade para todos aqui no Brasil. E até lá, religião vai ter que servir para preencher esta lacuna.

CONCLUINDO
Como disse certa vez o escritor suíço Alain de Botton: "E daí se todas as crenças não passarem de conto de fadas? Vamos ver o que elas têm de bom a nos oferecer." É mais ou menos assim que penso, pois a religião – assim como a ciência – é uma ferramenta que pode ser usada tanto para o bem quanto para o mal. E se há algo ruim na religião, não acho que seja necessário eliminá-la por inteiro apenas por causa das coisas ruins. Se é para combater algo, que seja combatido o lado ruim das religiões, mas este é um assunto para outro post.

Leitura recomendada: 
Religião para Ateus, de Alain de Botton

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