Sim, eu sei muito bem que a carga tributária do Brasil não está entre as menores do mundo e que existe a sensação de que o dinheiro dos nossos impostos não está sendo bem investido, ou pior ainda: está indo para o bolso dos corruptos. É lógico que isso é motivo para insatisfação geral e com razão. Mas a solução de menos impostos não me parece ser uma saída plausível. Uma redução da carga tributária diminuiria, como consequência, os investimentos em saúde, em educação e em programas sociais. Não é possível ter educação e saúde pública de qualidade com uma carga tributária baixa. Países como Suécia, Finlândia, Noruega, Islândia, Dinamarca, França, Alemanha, Itália e Bélgica possuem um serviço público de qualidade e referência no mundo inteiro. E ao contrário do que dizem os neoliberais, a carga tributária desses países é de mais de 40% do PIB, maior que os 34% do Brasil. Carga tributária baixa você vê em países como Coreia do Norte, Angola, Congo, Chade, Afeganistão e Guiné Equatorial, onde mal se chega aos 8% do PIB. E nesses países não há um serviço público decente, porque não há dinheiro para se investir nisso. É uma incoerência querer serviço público da Suécia com a carga tributária da Guiné Equatorial.
Reduzir a carga tributária só dá a falsa sensação de que estamos sendo "menos roubados". Porém há de lembrar que não existe país sem corrupção. O que existe são países que combatem melhor a corrupção. Reduzir imposto – além de não servir para combater a corrupção – ainda dá um motivo a mais para os corruptos roubarem mais para compensarem o "déficit". E o dinheiro continua indo para o ralo do mesmo jeito, seja pela corrupção, pelos gastos públicos irresponsáveis ou pelos juros da dívida interna.
Tem gente pagando imposto de menos e ganhando juros demais |
O que precisamos fazer para resolver esse problema são duas coisas. A primeira é combater a corrupção de forma eficiente e aprender a votar em políticos que sejam competentes. E antes que algum sem noção venha dizer que é tudo "culpa do PT", lamento informar que tanto a corrupção quanto a incompetência são males que afligem todos os partidos políticos. É uma tolice ingênua achar que apenas os partidos que não gostamos são corruptos. E a segunda coisa a ser feita é uma reforma tributária que simplifique o sistema de impostos e o torne proporcional à renda de cada um.
Temos que reduzir ou acabar com esses impostos sobre os produtos e os redirecionar proporcionalmente para a renda. Não é justo viver em um país onde os pobres e a classe média sejam sobrecarregados por impostos e os mais ricos paguem muito pouco. E pior que isso é o pobre pagar o mesmo imposto que o rico que vem embutido nos produtos. É preciso haver uma justiça, uma proporcionalidade na cobrança de impostos. Isso porque eu nem mencionei que a maior parte dos impostos vai pagar a dívida pública para encher os cofres de rentistas e bancos. Isso significa, na prática, que a maior parte dos impostos que pagamos está voltando em forma de juros para a nossa elite econômica ao invés de ir para saúde, educação e demais serviços públicos que trazem bem estar social. No final das contas, o Estado brasileiro é uma espécie de Robin Hood ao contrário, porque tira dos pobres para dar para os ricos.
Enfim, essa história de "imposto zero" é coisa de quem vive de fábulas anarcocapitalistas. E também não há como privatizar tudo, porque nem tudo gera lucro e para isso existe o Estado: para cuidar de um bem comum e essencial a todos.
Menos Marx mais Mises fala do capitalismo protestante e do socialismo catolico aguardo.....
ResponderExcluirVc quis dizer teologia da prosperidade versus teologia da libertação? Não tenho muito interesse em debater isso não. Prefiro ver as coisas de um ponto de vista mais laico e mais humanista.
Excluir