Há algumas semanas atrás, eu estava jogando o belo game Life is Strange Before The Storm e me deparei com uma cena bonita e filosófica envolvendo as protagonistas. Após descobrir uma verdade dolorosa sobre seu passado e sobre sua vida, a jovem Rachel Amber deitou-se em sua cama e fez uma reflexão interessante ao lado da sua amiga Chloe Price. Ela disse, olhando para o planetário improvisado em seu quarto, que muitas das estrelas que vemos no céu já não existem mais. As luzes das estrelas às vezes levam milhões (ou até bilhões) de anos para chegarem aos nossos olhos. E muitas dessas estrelas morreram antes da luz delas chegar ao nosso planeta. Ou seja: quando olhamos para uma estrela, estamos olhando não como ela é hoje, mas sim como ela era há milhares ou milhões de anos atrás. É como se o céu fosse uma máquina do tempo que nos permite ver um passado muito longínquo.
Rachel e Chloe em um momento filosófico. |
Foi nessa vibe que eu me lembrei do Hubble deep field (campo profundo do Hubble), que foi, nada menos, que a fotografia mais importante já tirada pela humanidade. Esta imagem do Hubble mostra o ponto mais distante do universo já visto pela nossa espécie, mostrando galáxias que estão a bilhões de anos-luz de distância da Terra. As luzes dessas galáxias levaram impressionantes 13 bilhões de anos até chegarem às lentes do Hubble – o que significa, consequentemente, que a imagem mostra como o universo era há 13 bilhões de anos atrás. Levando em consideração que a Terra surgiu há 4,5 bilhões de anos, a imagem do Hubble mostra exatamente como universo estava há 8,5 bilhões de anos antes da Terra existir. E isso tem dois significados muito mais profundos do que podemos imaginar à primeira vista.
O primeiro significado é que como disse a Rachel Amber, o que vemos ao olhar para o céu é na, verdade, uma ilusão: uma mentira, pois aquelas estrelas não estão ali de verdade. Porém, olhando do ponto de vista da Chloe – que perdeu o pai, mas sonha de forma bastante enigmática com ele – as estrelas podem até estar mortas, mas o que importa é que elas estão vivas para nós. As pessoas aqui na Terra basearam-se ao longo da história em estrelas mortas que nos parecem vivas para tomar suas decisões. Da astrologia até a agricultura (que dependia da astronomia), as estrelas, mesmo não existindo mais, serviram para influenciar as nossa vidas e as nossas escolhas desde tempos remotos. Isso significa que quando lidamos com perdas, especialmente de entes queridos, temos que pensar sobre o quão vivas estas pessoas ainda permanecem dentro de nós. Eu mesmo, por exemplo, perdi o meu pai há três anos. Porém, as palavras sábias dele ecoam até hoje na minha memória e influenciam muitas das minhas decisões. O meu pai é como uma estrela que se foi, mas o seu brilho chega até mim como se ele ainda estivesse ao meu lado. Então, de certa forma, as pessoas são como estrelas, porque mesmo quando elas deixam de existir, elas continuam vivas dentro de nós, guiando nossos passos e nossas decisões. O que importa não é o que existe, mas o que sentimos que existe dentro de nós. Isso serve, de certa forma, para fortalecer a fé e a espiritualidade de muitas pessoas. E também serve para que muitos ateus desenvolvam uma visão menos radical e negativa da fé alheia, pois essa fé tem um efeito placebo psicossomático que pode ser benéfico para muitos religiosos.
Campo profundo do Hubble. |
O segundo significado, por outro lado, é que o universo jogou na nossa cara que não há entidades sobrenaturais (deuses) criando coisa alguma no universo. Vimos como o universo era 8,5 bilhões de anos antes da Terra surgir e não havia qualquer divindade construindo planetas e estrelas. O que criou as estrelas e as galáxias foram as forças da natureza. A gravidade foi que formou as galáxias, estrelas e planetas. Não há qualquer sinal de deuses construindo o que quer que seja. O universo funciona sozinho a partir de suas próprias leis. Isso sem mencionar, claro, os discos protoplanetários, que são os planetas em formação graças a ação da gravidade. Todos os planetas se formam e se formaram desta maneira, inclusive a Terra. Somos frutos de um acaso cósmico. Isso mostra que nós somos um subproduto dos 13,7 bilhões de anos de evolução cósmica. Somos parte do universo e de sua história. Foi o universo que nos criou, e não ditadores celestiais que querem controlar as vidas das pessoas.
É por tudo isso que eu amo as estrelas: porque elas são minhas maiores professoras.
Rapaz, que belo texto, sem grandes rodeios com rigor científico mas muito profundo, filosoficamente falando. Me fez pensar na vida. Guardei aqui nos favoritos.
ResponderExcluirOlá, Francisco.
ExcluirEu reli o texto e o achei um pouco confuso devido a alguns errinhos e ideias mal expressadas. Daí que eu fiz as correções e ajustes necessários e agora ele está bem mais conciso.
Enfim, que bom que você gostou. Agradeço enormemente pela sua participação.
Um grande abraço.