"Ideológica" aqui significa apenas se for socialista. O resto pode. |
Já tive a oportunidade de dizer em outros posts que essa história de "doutrinação comunista" nas escolas e universidades brasileiras é uma das maiores mentiras disseminadas pela direita reacionária. Os professores de ciências humanas (que muitas vezes nada têm a ver com essa história) costumam ser as maiores vítimas desse boato que só serve para impor um medo macarthista desnecessário e dividir a sociedade. Não existe doutrinação marxista na grade curricular de nenhuma escola ou universidade deste país. O que acontece é que alguns professores, especialmente os de história, podem ser parciais ao abordar assuntos específicos envolvendo os modos de produção. Isso porque eles estudaram a fundo as relações de produção e conhecem bem como cada sistema funciona na teoria e quem os controla na prática. Os professores são os guardiões do conhecimento e o que eles ensinam, por não passar necessariamente pelo crivo moral da burguesia dominante, pode acabar por ser interpretado de maneira errada pelos incautos políticos. Portanto, afirmar que a transmissão do conhecimento – conhecimento este transmitido sem a distorção dos grandes meios de comunicação – se trata de uma "doutrinação gramsciana" é algo totalmente desconexo com a realidade. Os grandes meios de comunicação têm interesses próprios em manter as pessoas alienadas sobre política. O conspirador que começou a disseminar essa boataria sobre o ensino brasileiro ser marxista foi um sujeito que se orgulha de ter parado de estudar no ensino fundamental e que pouco conhece sobre o mundo acadêmico para dar palpites sobre o mesmo. Esse conspirador é, nada mais, nada menos, que o astrólogo fascista Olavo de Carvalho. E as crias ideológicas do Olavo continuam a repetir sem a menor vergonha na cara as suas insanidades em revistas, jornais e até na internet – fato este que ajudou a popularizar esta teoria estapafúrdia.
Olavo sendo Olavo |
Engraçado como há uma histeria generalizada com relação ao medo do socialismo no Brasil, a ponto de alegarem essa tal "doutrinação". O que ninguém reclama é que sempre houve doutrinação capitalista e cristã nas escolas, com direito a parlamentares cogitarem leis para tornar o ensino cristão obrigatório nas escolas. Ninguém reclama de doutrinação capitalista ou cristã porque ela faz parte do status quo. É muito mais cômodo seguir a manada do que botar a cabeça para pensar. As pessoas que defendem essa ideia debiloide de que há aulas de comunismo nas escolas ou são ignorantes, ou são desonestas, ou estão com medo da mudança, de sair da sua zona de conforto. A classe média e os ricos estão confortáveis com o capitalismo. Eles temem perder seus privilégios, temem o crescimento do ateísmo, temem ter seus lucros e dividendos tributados, temem pegar filas para comprar papel higiênico, temem que o Brasil tenha uma educação tão boa quanto a cubana, temem a reforma agrária e temem perder o maior dos vícios do mundo moderno: o consumismo desenfreado. Essas pessoas pensam apenas em si mesmas, ignorando os pobres e miseráveis que seriam beneficiados por políticas mais igualitárias.
Enquanto isso, nas páginas de direita |
Todos os alunos têm o direito de estudar, ou pelo menos conhecer, os modos de produção e os pensadores ligados a cada um deles. Estudar Mises ou Marx não deveria ser errado, muito pelo contrário: o país precisa de educação política nas escolas. Concordo que doutrinação de qualquer tipo é errado – mas não apenas a socialista. O problema é procurar pelo em ovo para justificar o medo reacionário de quem sempre teve tudo. A mídia sempre fez doutrinação e lavagem cerebral para que a população aceitasse inerte as injustiças e problemas inerentes ao capitalismo e ninguém reclama disso. Enfim, a casa grande só reclama quando tem os seus privilégios contestados ou quando gente usando chinelo de dedo entra num avião.
discordo totalmente hoje estão criando repetidores de ideias e n pensadores as escolas poderiam mostra os dois lados que mal tem ? cade o pensamento critico?
ResponderExcluirCom relação ao ensino fundamental e médio, talvez sim. Mas pelo que tenho visto nas graduações de ciências humanas, há bastante pensamento crítico inserido nelas.
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