segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

Ser de direita é algo sempre ruim?


Na internet em geral há muita gente que se considera de direita e que acha que todo mundo que é o oposto – ou seja: de esquerda – é burro, preguiçoso, autoritário, parasita e outros adjetivos mais infames. É claro que esses rótulos são sempre estúpidos, porque são generalizações irresponsáveis. Há pessoas de esquerda que são burras, sim. Assim como também há pessoas de direita que são burras. Mas não é o seu posicionamento político que define a sua inteligência. O que eu considero ser burrice é você defender uma ideologia que é contrária aos seus direitos e interesses, como, por exemplo, ser um rico de esquerda ou um pobre de direita.


Se eu fosse banqueiro, usineiro, rentista, dono de um grande conglomerado ou presidente de uma multinacional, com certeza absoluta eu seria de direita. Eu seria a favor de livre mercado, de menos impostos, de menos leis trabalhistas, de menos Estado, de mais privatizações e seria um defensor ferrenho do capitalismo. Nesse cenário, eu não seria um neoliberal por ser mau, mas sim por pensar em mim mesmo, na minha fortuna e nos meus negócios. É por isso, de um modo geral, que são homens com um senso de individualidade muito doentio que querem aumentar a sua fortuna e manter seus privilégios às custas do empobrecimento coletivo. Quando um trabalhador ganha muito menos que alguém que fica rico sem trabalhar, é porque há uma distorção no sistema, porque é o trabalho que gera riqueza, e não o parasitismo. E, infelizmente, a maioria das pessoas muito ricas mantém seus privilégios através dessas distorções que geram esse parasitismo: essa plutocracia predatória que há na maioria dos países capitalistas onde as ideologias de direita dominam o senso comum.


Infelizmente, não é possível que dentro do capitalismo financeiro uma pessoa com forte empatia e senso coletivista chegue à presidência de uma multinacional. Você precisa ser narcisista, egocêntrico, individualista, autoconfiante e ter traços de psicopatia para passar por cima dos outros antes que os outros passem por cima de você na briga pela vaga. O capitalismo é isso: uma selva onde é cada um por si. Pessoas que se dão bem nesse tipo de sistema podem e devem mesmo ser de direita e não há problemas lógicos nisso, porque o capitalismo é individualista e desumano por natureza. O problema é quando você é um pobre trabalhador assalariado e se diz de direita. Ideologias de direita são responsáveis pela exploração dos trabalhadores, pela mais-valia, pela escravidão do salário e pela individualização dos problemas de ordem coletiva, como o desemprego, por exemplo.


Os trabalhadores assalariados, que são a maioria da população, precisam abraçar ideologias de esquerda, porque é justamente a esquerda que se preocupa com a remuneração justa pelo trabalho, com o cuidado com as pessoas mais pobres, com a distribuição justa de riquezas e com um modelo sociedade mais cooperativista e menos competitiva (vulgo predatória). Ser pobre e de direita é uma atitude pouco inteligente, mas como vivemos em um Estado burguês e com uma grande mídia que atende aos interesses da alta burguesia, dificilmente os pobres e trabalhadores terão alguma condição de perceber que estão sendo enganados, sofrendo lavagem cerebral para aceitar a sua própria situação de miséria como sendo culpa da sua "falta de mérito". A verdade é que a culpa pela miséria não é do indivíduo: é do sistema desumano, desigual e individualista.


Essa história de trabalhar duro e de poupar para viver de renda quando ficar velho, por exemplo, é uma ideia ultraliberal para tornar os pobres "direitistas" sem perceberem. Nada contra quem quer fazer isso, mas quando isso é colocado como a única solução possível por uma mídia corporativa tendenciosa, aí temos claramente uma forma de alienar a população. Somente um Estado burguês de direita ultraliberal poderia impor essas ideias como se fossem verdades absolutas. Você se destacar e se esforçar no seu trabalho é uma coisa, outra coisa é você ganhar uma remuneração justa por isso. O Estado deveria garantir não apenas um salário justo como também que todos tenham uma aposentadoria justa para o fim da vida.
Portanto, o desafio dos pobres, dos pequenos empreendedores e dos trabalhadores em geral é se libertar dessa visão neoliberal e entender que ser de esquerda não é ser necessariamente a favor de ditaduras, de autoritarismos ou da destruição da meritocracia. Ser de esquerda é ser altruísta, é ter empatia e procurar o melhor para os menos favorecidos e para os que produzem a riqueza de uma nação. Se quer ser de direita, que seja; mas entenda as consequências dessa sua escolha e o que ela representa para você e para a classe a qual você pertence.

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