As eleições burguesas, como bem citou o professor Humberto Matos, do didático canal Saia da Matrix, foram idealizadas e realizadas para a esquerda perder sempre. Isso ficou visível não apenas no resultado das eleições municipais de 2020, mas durante praticamente toda a história republicana do Brasil. Qualquer ideia minimamente à esquerda sempre foi censurada, golpeada ou tratada como um "comunismo terrorista". É verdade que o PT esteve no controle do poder executivo durante mais de dez anos, mas as propostas petistas nunca foram de esquerda propriamente dita quando o partido decidiu levar a sério as eleições. O PT apenas realizou uma "conciliação" de classes sem modificar a estrutura hierárquica do capitalismo financeiro. O PT nunca foi reformista e muito menos revolucionário, porque jamais chegaria ao poder com essas intenções. Apesar dos programas sociais, da redução da desigualdade e do aumento do consumo entre os mais pobres, o PT não é, do ponto vista acadêmico, um partido de esquerda. Aliás, eu afirmo com convicção que não há partidos de esquerda no Brasil que tenham chances eleitorais relevantes. O que temos são partidos de centro (PT, Psol, PC do B), partidos de centro-direita (PDT e PSB) e partidos de direita tradicional (todos os outros). O tal "centrão" que tanto é falado por aí nunca foi de centro: ele sempre foi um arranjo de partidos de direita que defendem os interesses corporativos de bancos, latifundiários, pastores evangélicos e empresas privadas.
O que os meios de comunicação tradicionais da burguesia estão fazendo é aproveitando a conjuntura para tentar ressignificar a palavra "centro". Tratam o PT e Psol como "esquerda", Bolsonaro como "direita" e todo o resto como "centro". Essa confusão só serve para favorecer políticos de direita que querem descolar do Bolsonarismo, como, por exemplo, as principais figuras do DEM e PSDB. Outra conversa que também tem aparecido com certa frequência é a ideia despolitizante de que não existe mais esquerda ou direita. Isso é uma falácia, porque ela só serve para esconder dos incautos a real luta que é a luta de classes. Dentro do capitalismo existe sempre uma classe exploradora (burguesia) e uma classe explorada (proletariado). A esquerda é o único lado que defende os trabalhadores, porque tanto a direita quanto o centro trabalham para manter o status quo. Como no Brasil praticamente só o PT defende os trabalhadores, até por sua base sindical e sua história junto aos movimentos sociais, o que resta para esquerda eleitoral é se reinventar e seguir "enxugando gelo" ao lado do PT, traçando novas estratégias para se eleger e amenizar um pouco as grandes injustiças sociais do capitalismo.
A solução para superar esse círculo vicioso onde a burguesia sempre vence é entender que continuar jogando esse jogo é inútil. É preciso que surjam novas lideranças, novas premissas, novas abordagens e uma mudança real na estrutura do sistema. Somente movendo mentes e corações vamos conseguir por fim a esse ciclo maldito que só será possível quando o capitalismo for, de fato, superado. Temos que seguir fazendo o mínimo que é participando das eleições, mas sem perder de vista o objetivo final que é a criação de um novo modo de produção onde as injustiças sociais sejam eliminadas e onde não existam mais exploradores e explorados.
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