É engraçado ver como muitos intelectuais encaram com um romantismo ingênuo a possibilidade de se criar revoluções a partir da periferia. Causar uma modificação profunda e radical no sistema através do trabalho de base não é algo fácil como muitos teorizam por aí. A luta da esquerda não é apenas contra o sistema capitalista, mas também contra as estruturas locais de poder que ajudam a sustentar esse mesmo capitalismo. Boa parte das periferias é controlada por mandachuvas do poder paralelo, tais como coronéis, traficantes, milicianos, líderes de seitas religiosas, organizações criminosas, torcidas organizadas... É muito wishful thinking achar que basta a esquerda fazer um trabalho de base nas periferias para iniciar a mudança rumo ao socialismo ou outro sistema que o valha. Mas não é bem assim que as coisas funcionam na prática. Será necessário lidar antes com esses grupos de poder local. Não dá para ficar pagando "pedágio" para traficante sempre que entrar numa favela para "politizar" a população. Fora que a própria população, no geral, tem enraizado um pensamento muito nocivo, que é a de se tornar opressora. É muito comum ver gente pobre se inspirando nos magnatas, nos ricos, nos coronéis e até nos traficantes. Aliado a isso, tem o pensamento consumista, de ostentação, que é natural do ser humano. Enfim, para combater as grandes estruturas de poder da burguesia, temos que pensar antes em como lidar com as pequenas estruturas de poder local. Talvez a educação, as artes, o trabalho voluntário, os esportes ou até mesmo as igrejas possam ser nossos aliados nesse sentido. É preciso furar esse bloqueio que impede que as pessoas tenham o pensamento certo para mudar a vida delas e a história do país.
sexta-feira, 11 de dezembro de 2020
Politizar as massas não é tão fácil quanto parece
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