quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012
O deslumbramento pela existência
Acredito que todos nós já tivemos em algum momento da vida o privilégio de parar para admirar o quão deslumbrante é o simples ato de existir. Quando digo existir, não me refiro a essa sensação banal de sabermos que estamos vivos - eu me refiro a uma sensação mais profunda. Acredito que existir não é simplesmente estar vivo, mas sim saber o quanto cada um de nós é único e especial. E juntamente com o encantamento da percepção da nossa própria existência, temos também o encantamento com tudo mais o que existe. Eu me atrevo a dizer que admirar o universo é um dos gestos mais sublimes que podemos ter em vida, afinal, olhar para o universo é uma forma de olharmos para nós mesmos, pois nós somos o próprio universo: somos uma parte consciente do universo que se emociona, que pensa e que se encanta.
Uma das sensações mais encantadoras da qual somos capazes de experimentar na vida é justamente esse deslumbramento mágico por tudo o que existe. Isso pode parecer um devaneio romântico, mas se pararmos para olhar ao nosso redor, perceberemos que há muitas coisas encantadoras no nosso cotidiano e que passam despercebidas: desde uma flor que brota num canto inóspito ao imponente azul do céu. Parar para enxergar tais coisas é uma forma de se dar um presente, pois não há preço no mundo que pague por esse deslumbramento.
Imagine que ao invés de existir o universo, não existisse nada. Quando digo nada, é o nada absoluto: sem pessoas, sem seres vivos, sem planetas, sem sóis, sem tempo, sem espaço, sem universo: enfim, sem coisa alguma.
Um universo feito de nada seria incrivelmente monótono e vazio, pois não haveria o existir. Mas, por algum motivo ainda não muito bem compreendido, o nada não prevaleceu - e então tudo o que há teve a chance de existir. Melhor assim, pois dessa maneira tivemos a chance de existir e de contemplar tudo mais o que existe. E já que existimos, por que não permitir se encantar pela beleza do universo ao nosso redor?
Acredito que somos incrivelmente sortudos por sermos capazes de usar os nossos sentidos e a nossa inteligência para percebermos que há algo ao invés de nada. E esse algo é surpreendentemente belo. Temos uma ampla variedade de plantas, animais, paisagens, oceanos, planetas, estrelas, galáxias e uma infinidade de outras coisas que coexistem junto conosco para serem admiradas e sentidas. Eu nunca soube explicar muito bem por que somos capazes de olhar para tudo o que há e nos sentirmos encantados com a complexidade e a variedade de tais coisas. O fato é que somos privilegiados por sermos capazes de sentir tudo isso e de podermos contemplar a magnificência de um universo que existe. Ainda bem que existimos!
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Well, existir é interagir e aprender com os elementos da vida. Aprendi uma vez com um musgo nascendo entre os paralelepípedos de uma rua movimentada. A sua vontade de nascer me cobrava a coragem para viver. A vida é pura magia. Lindo texto!
ResponderExcluirBeijos meus
Sabe, llManuh, acho que falta exatamente essa visão que você teve diante do musgo para algumas pessoas. Coisas raras acontecem o tempo todo, basta um pouco de sensibilidade para senti-las. A vida pode ser dura e desleal, mas ela também nos reserva surpresas agradáveis.
ExcluirAbraços.
deve ser difícil ver um musgo em paralelepípedos em São Paulo
ExcluirCreio ser exatamente o conhecimento da finitude da vida, a morte, que impulsiona as pessoas para além de si mesmas.
ResponderExcluirUma vez conquistada a transcendência, pode-se jogar o necessário fora.
É por aí que entram todas as idéias que nos fazem crer que somos únicos, porém num só pacote, segmentado, tentam nos uniformizar.
Abraço.
Olá, Eudyr.
ExcluirEsqueci de mencionar no texto que não apenas cada um de nós é finito - mas tudo o que nos cerca também é. E por tais coisas só existirem uma vez na história do cosmo, não há outro tempo para admirá-las senão agora. É por isso que gosto tanto da doutrina do eterno retorno do Nietzsche, que nos induz a repetir ao infinito aquilo que traz significado à nossa existência.
Abraço.
Olá!
ResponderExcluirAdorei o texto! Reflexivo, real e instigante! Parabéns pela percepcção e pela capacidade de traduzir o que todos sentimos!!
Gostei também dos comentários da llManuh e do Eudyr! E saboreando as palavras de vocês três, lembrei-me de um texto que escrevi há séculos atrás o qual compartilho abaixo:
A vida quando precisa acontecer não há quem a segure...
Limpando as gaiolas de meus canários Belgas (Kaká e Sol) percebi uma mudinha linda de alpiste no bebedouro de uma das gaiolas!
Eles comem o alpiste e vão com o biquinho sujo beber água, fica uma sementinha na água!
Pronto!
É o suficiente para que o milagre da vida aconteça!
E que linda é essa mudinha promissora: tem raízes (aproximadamente 6 cm) sim, medi! O caule tem 4 cm e há 3 folhinhas lindas que se parecem com uma flor, bem verdinhas!
Daí fiquei pensando na polinização feita pelos passarinhos na natureza...
A importância de tal evento!
Se a vida aconteceu dentro do bebedouro de meus passarinhos imagine a maravilha que ocorre mundo a fora?
Maravilhosamente fantástico!
Abração!
Pois é, Luciene, isso é a prova de que a vida é um dos fenômenos mais fantásticos do universo. Não há como ficar indiferente a isso.
ExcluirAbraços.
Estive de férias com amigos e eles não entenderam meu encantamento perante a natureza que eu insistia em elogiar. Eu me sinto uma privilegiada por ter essa sensibilidade... e sinto muito que nem todos sejam capazes de parar um pouco e apreciar esses milagres.
ResponderExcluirÉ uma pena que a maioria das pessoas seja extremamente pragmática e só consiga enxergar o resultado sem prestar atenção no processo. Uma das maiores dádivas que a natureza nos oferece é justamente essa capacidade única entre os humanos de se encantar com a maravilha de tudo que há a nossa volta. Você é uma pessoa sortuda por conseguir desfrutar desse privilégio.
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