domingo, 19 de fevereiro de 2012

O perigo da castidade

Cinto de castidade medieval

Se existe uma coisa que me incomoda seriamente é a ideia de castidade defendida pelas igrejas de denominação cristã. Isso porque eu acho inconcebível e inaceitável que alguma entidade, seja ela qual for, queira controlar a vida íntima das pessoas. Vida íntima é algo totalmente particular e pessoal e não compete a nenhum órgão público, instituição ou estado querer manipulá-la, principalmente se utilizando do medo. O máximo que uma entidade pode fazer é aconselhar, mas jamais impor.

Por que diabos inventaram a castidade?
A ideia central da castidade é baseada em dois argumentos. O primeiro é o de prevenção contra doenças sexualmente transmissíveis e o segundo é a prevenção contra gravidez indesejada. Se você se mantém casto, não pegará DSTs por vias sexuais e nem terá filhos. Filhos só seriam possíveis nesse cenário após o casamento, quando o sexo é permitido pela igreja. O apelo social da castidade está no fato de que ela evita mães solteiras, filhos bastardos e desestruturação familiar.
Bom, até aí tudo bem. O problema é que por mais que a igreja proíba ou ameace as pessoas, elas continuam fazendo sexo antes do casamento. Nem mesmo a ameaça do fogo eterno conseguiu controlar os hormônios das pessoas. Além de ser falha nesse aspecto, a castidade também ganhou uma concorrência muito mais forte, que foram os métodos contraceptivos. Ao usar o preservativo, você elimina numa tacada só o risco de contrair DSTs e de uma gravidez indesejada, isso, claro, sem precisar abrir mão do sexo! Uau!
Ora, se as pessoas, podem transar à vontade e livre de riscos usando preservativos, então pra que a castidade?
É justamente aí que entra a parte que eu discordo e combato veementemente, que é a questão da imoralidade.

Seria correto dar esse tratamento às crianças por elas se tocarem?

Terrorismo psicológico
Responda-me uma coisa: como é que algo natural - feito livremente por todos os animais sexuados da natureza - pode ser considerado imoral? Por que as pessoas tocarem o próprio corpo em busca de prazer seguro é imoral?
Não existe explicação plausível para proibir as pessoas de vivenciarem sua vida sexual por questões subjetivamente morais. Essa história de luxúria, de pecado da carne e de fornicação é algo inerente apenas a algumas religiões. O budismo, por exemplo, vê o prazer sexual como algo sagrado (ver no vídeo do Gaiarsa lá no final do post). Por que os cristãos seriam obrigados a renunciar o prazer de algo que pertence a todos nós naturalmente?

O pior da castidade é que até mesmo crianças que tocam nos próprios genitais por uma questão de auto-reconhecimento são repreendidas por isso. E quando essas crianças ficam mais velhas, elas crescem com traumas sexuais e culpas. Onde é que isso é saudável para alguém? E em níveis altos de culpa, já vi vários relatos de pessoas pensarem em suicídio e até mesmo de chegarem ao ponto de se mutilarem fisicamente para se manterem "castos". (Tire a prova nos links lá no final desse post)

Mas terrorismo de assustar mesmo foi quando o Papa Bento XVI, em sua viagem ao continente africano em 2009, condenou o uso de preservativos em países onde a epidemia da AIDS afeta mais da metade da população. Segundo ele, o uso de preservativos agravava a epidemia (link no final da página). Isso é um tremendo absurdo, porque uma autoridade religiosa se opor ao uso de preservativos num país tomado pela AIDS é um CRIME CONTRA A HUMANIDADE. O índice de mortes por causa da AIDS é altíssimo em alguns desses países e, por essa razão, todas as armas que estiverem ao nosso alcance para combater essa epidemia devem ser usadas, inclusive o preservativo. Claro que a desculpa dos religiosos é a mesma: 'ah, mesmo com camisinha o número de mortes continua alto'. Mas é claro: se as pessoas não usam o preservativo, é lógico que elas continuarão a se contaminar.
O que o Papa teria que fazer é encorajar a castidade como uma das formas de prevenção à AIDS, mas JAMAIS condenar o uso de preservativos. As pessoas precisam ter o direito de escolha sobre o que elas querem fazer com a sua vida sexual, desde que seja feito com responsabilidade.

Alguém pode me explicar pra que isso??

A castidade faz sentido?
Um dos motivos pelos quais eu comecei a contestar a religião que eu seguia, a cristã, no caso, foi justamente a condenação que ela dirigia à sexualidade. Veja abaixo algumas questões que eu levantei quando eu comecei a refletir sobre sexo e religião:

1 - Por que todos os animais sexuados da natureza fazem sexo livremente e apenas o ser humano precisa casar para fazê-lo?
2 - Se um deus perfeito e onisciente criou o sexo, então como o sexo criado por ele pode ser pecado? Não seria mais simples deus nos ter feito assexuados? Assim não haveria estupro, pedofilia, incesto, luxúria, etc.
3 - Se a masturbação é pecado, então para que serve o clitóris? Ele está lá só para enfeitar? E por que apenas a masturbação humana é pecaminosa? Uma infinidade de espécies de animais também se masturba, como mostrado na reportagem do Hypescience.
4 - Se as pessoas já nascem homossexuais, então por que condená-las por algo que elas não escolheram ser?

Essas quatro questões mostram claramente as contradições das ideias cristãs sobre a 'pecaminosidade' do sexo. O que fica evidente para mim é que a religião usa métodos extremamente toscos, como o medo e a culpa, para manipular a sexualidade das pessoas.

O destino absurdo para quem não aceita a castidade

Consequências da castidade
Além da frustração, do sentimento de culpa, da vergonha e de toda a autoflagelação provocada contra as pessoas que sentem prazer sexual fora dos moldes permitidos pela Igreja, a castidade traz outros problemas muito sérios.

Vou citar quatro problemas muito comuns que afligem as pessoas que se casam virgens:

1 - Péssima vida sexual para as mulheres
Segundo muitas igrejas, a única forma correta de se fazer sexo, mesmo no casamento, é visando a reprodução. Ou seja: o sexo é limitado à penetração vaginal. As preliminares, o sexo oral e outras sensações gostosas são vistas como abominações, imorais e pecaminosas. Além da mulher ser inexperiente ao casar, ela só poderá experimentar a penetração - isso sem estimulação para que ela lubrifique - e, ainda assim, visando apenas a reprodução. Isso sempre me soou estupidamente machista, mas é a verdade divina para muitos crentes. Aí eu me pergunto: como uma mulher pode ser feliz com um sexo desses?

2 - Casamentos apressados
Já que o sexo é proibido antes do casamento, então o jeito é casar o mais cedo possível para experimentar logo os prazeres sexuais. Isso é terrível, porque causa casamentos apressados onde muitas pessoas só se casam para se aliviar sexualmente. Isso gera casamentos ruins com pessoas erradas e leva a outro problema muito comum descrito no item seguinte:

3 - Problemas sexuais femininos
Cistite é coisa séria
Você já ouviu falar em cistite de lua-de-mel? Saiba que esse problema é muito comum e que ainda hoje afeta muitas mulheres. A cistite de lua-de-mel é uma inflamação provocada na uretra feminina como consequência de um número muito grande de relações sexuais feita em pouco tempo e/ou de forma abrupta. Ela tem esse nome porque ocorria geralmente durante a lua-de-mel, especialmente entre mulheres que casavam virgens.
Outro problema muito sério é a atrofia dos músculos pubococcígeos e circunvaginais devido à falta de uso dos mesmos durante todos os anos que antecederam o casamento.
Agora imagine o conjunto desse cenário: o casamento é feito às pressas, o sexo é ruim, a mulher sente culpa por ter prazer, a mulher tem cistite e ainda por cima tem os seus músculos sexuais atrofiados. Isso é o que eu chamo de castração psicológica.

Virgindade no casamento dá nisso
4 - Problemas sexuais masculinos
Já para os homens temos a famigerada ejaculação precoce. Imagine um cara inexperiente, que absorveu inconscientemente que o sexo é pecado e que está ansioso para começar a transar. Felizes são aqueles que nessa fase conseguem transar por mais de 15 segundos seguidos.

Conclusão
Eu acho que essa ideia sadomasoquista da castidade deveria ou ser abolida, ou então ser opcional. Penso que a educação sexual e o planejamento familiar são muito mais saudáveis e eficazes que essa ideia medieval de proibir, culpar e castigar.

Seja livre!

Curta a seguir um vídeo do psiquiatra José Ângelo Gaiarsa, que diz sem papas na língua algumas verdades sobre sexo.


Só vendo para crer:
Posições proibidas pela igreja
Papa Bento XVI diz que preservativos agravam a epidemia da AIDS
Homem decepa mão e pênis a mando de Deus
Homem corta o próprio falo por causa de religião
10 animais que se masturbam

8 comentários:

  1. Primeiro: você não sabe a diferença entre castidade e abstinência, pois pensa que são coisas iguais.

    Segundo: você ignora que a castidade também tem o efeito de modificar toda a estrutura energética e fisiológica do corpo. Por que você não tenta fazer um trabalho pesado depois de ejacular dez vezes por dia durante uma semana?

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    1. O significado de castidade varia de acordo com o contexto. E é claro que ela tem alguns aspectos positivos, mas a crítica aqui é a ideia de forçar a castidade como se ela fosse uma doutrina. As pessoas devem praticar a castidade ou a abstinência apenas se quiserem.

      Obrigado pela participação.

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  2. Sinceramente eu não sei pq tanta crítica. Faz parte da doutrina, simples, cada religião tem um conjunto de doutrinas diferente, se vc não concorda não participa. É como criticar a mulher que usa burca, ela não se sente oprimida, aquilo está enraizado nela, faz parte dela e ela se sente bem com aquilo (eu sei que não são todas, que existem países que é obrigatório, mas na Europa por exemplo, existem mulçumanas que usam mesmo sem ser obrigatório). A doutrina da castidade é bíblica e cristãos basicamente o que está escrito na Bíblia, assim como os mulçumanos o Alcorão, etc.

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    1. O problema não é a ideia da castidade e nem a prática dela. O problema é quando as religiões a impõe à força. Faz voto de castidade quem quer, mas tentar proibir o uso de preservativos em nome da castidade é algo que foge a minha compreensão.

      Grato pela participação.

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  3. A castidade não é uma cultura de estufa, antes, das disciplinas a maior, que maior firmeza confere ao casto.

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  4. Eu era menino pequeno e já ouvia dizer que no mundo tem 2 tipos de homem: o que pensa com a cabeça de cima e o que pensa com a cabeça de baixo...

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  5. Aos masturbadores inveterados há um duro recado de que a masturbação é um ato intrínseca e gravemente desordenado...

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  6. Dê largas à sua concupiscência...e prepara-te...:)

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