Quem conhece este bloguinho há mais tempo sabe que eu sou um pacifista incorrigível que abomina qualquer discurso de ódio. Algumas pessoas podem ter ficado confusas com o post passado onde eu conclui que a misandria não existe apesar das falas agressivas contra os homens vindas de algumas mulheres mais exaltadas. Só que, como bem deixei escrito naquela postagem, a misandria não existe como uma ameaça real. A misandria em um mundo machista é apenas uma maneira das pessoas oprimidas – mulheres, no caso – darem um grito de "basta!" quando o feminismo sozinho não é suficiente para que elas sejam ouvidas. Daí que é preciso radicalizar. É claro que há frases absurdas supostamente atribuídas a feministas, mas as pessoas precisam entender que isso fica da boca para fora, feito com a intenção de chocar mesmo, de provocar, de fazer com que as pessoas acordem para essa estrutura de opressão que massacra as mulheres dia e noite há milênios. E quando digo "mulheres", refiro-me ao que a figura feminina representa socialmente, porque tanto a homofobia quanto a transmisoginia também são formas indiretas de atacar as mulheres. No caso da homofobia, basta ver que os gays mais atacados são justamente os mais "afeminados", pois eles são mais parecidos com uma mulher.
Pense na misandria como algo na mesma categoria da "heterofobia" ou do "racismo reverso". Ou seja: não passam de lendas urbanas; não existem de fato. São apenas contravalores caricatos para balancear essa equação da desigualdade. Homens não têm motivos para odiar as mulheres, porque elas não criaram um sistema de opressão contra eles. Mas mesmo assim muitos homens as odeiam. Aliás, o sistema patriarcal inteiro odeia as mulheres, fazendo com que elas mesmas se odeiem. Enquanto que mesmo tendo motivos de sobra para odiar os homens, a grande maioria das mulheres amam os homens. E até essa misandria é algo muito mais brando que a misoginia, porque não ocorre na mesma proporção. Não há uma ameaça real na misandria. Há ameaça real na misoginia, na homofobia, no racismo. Ódio contra homens não é se nivelar por baixo, não é um discurso de ódio como a misoginia: é mais uma reação, um desabafo. A única misandria realmente perigosa é quando ela parte de homens contra si mesmos. Na história, inclusive, há vários casos de homens que matavam outros homens por considerá-los inferiores ou perigosos. Apesar deste tipo de caso ser chamado tecnicamente de androcídio, ele é que se encaixaria melhor no termo 'misandria'. Portanto, ao invés de se indignarem contra essa coisa sarcástica que é a misandria, os homens deveriam direcionar sua indignação contra a misoginia: misoginia esta que ocorre de todas as formas possíveis e imagináveis 24 horas por dia.
Enfim, eu preferiria que todos dessem as mãos e fossem felizes para sempre, mas o mundo que vivemos ainda não permite isso. Enquanto esse dia de igualdade entre os seres humanos não chega, temos que lutar por um mundo mais humano, mais tolerante e em que ninguém precise dizer que sente ódio para se defender da crueldade de um sistema.
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