quinta-feira, 12 de outubro de 2023

O melhor jeito de ser imortal é sendo mortal


Quando eu tinha por volta dos meus 17 anos, comecei a fazer uma série de reflexões a respeito da existência do deus judaico-cristão. Foi numa daquelas reflexões que concluí como deve ser horrível a vida de um deus. Imagine que horror seria se você fosse onisciente (soubesse de tudo), onipresente (estivesse em todos os lugares) e onipotente (capaz de tudo). A sua existência não teria graça alguma, ainda mais agravada pelo fato de que você seria literalmente imortal. Não poder morrer nunca é algo terrível e que fica ainda pior quando você tem o conhecimento sobre todas as coisas. Não existe nenhum sentido em viver uma vida em que você não pode mais aprender coisa alguma e que pode fazer tudo o que quiser. Seria um tédio, uma anedonia interminável. Pode parecer absurdo, mas o que torna a vida especial é justamente o fato dela acabar e de não sabermos de tudo. Enquanto mortais, estamos sempre buscando por algo que nos empurra para frente e nos motiva a viver. Até a morte é um motivo a mais para vivermos esta vida com mais intensidade, já que amanhã poderá não haver uma segunda chance para nós. O sofrimento e as angústias da existência um dia chegam ao fim para os mortais, mas para os imortais, ela durará para sempre.

É por isso que às vezes acho que somos reencarnações de um mesmo deus imortal. A única forma desse deus não sofrer com a imortalidade onisciente seria encarnando em seres mortais com uma espécie de reboot de memórias e de consciência a cada nascimento. O melhor jeito de ser imortal, quem diria, é morrendo. O engraçado é que enquanto nós invejamos os deuses por eles serem imortais, os deuses nos invejam de volta por sermos mortais. Isso só escancara a ideia de que apesar das dores, a vida é a nossa única chance de amar, de aprender, de conquistar e de se surpreender com a dádiva de cada segundo que estamos vivos.

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