segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

A classe média sofre de síndrome de Estocolmo


Para quem nunca ouviu falar, a síndrome de Estocolmo é um estado psicológico em que uma pessoa, submetida a um tempo prolongado de intimidação, passa a ter simpatia e até mesmo sentimento de amor ou amizade perante o seu agressor. Quando uma vítima passa a admirar o seu sequestrador, por exemplo, podemos dizer que se trata da síndrome de Estocolmo. Mas a síndrome de Estocolmo não ocorre apenas em casos de crime comum...
Tenho notado que este mesmo comportamento se aplica à classe média brasileira, porque a lavagem cerebral que a mídia "vejista" faz nas pessoas desta classe as torna simpatizantes do tucanato e do neoliberalismo. Enquanto a mídia direitista cria na classe média um medo macarthista tosco, ela reage de forma violenta contra tudo que possa considerar de esquerda, seja soltando bombas em institutos ou atacando pessoas na rua. A classe média sempre foi o público-alvo do fascismo que a usa como massa de manobra para depois destruí-la quando atingir seus objetivos. Os super ricos não estão nem aí para a classe média: classe média esta que defende sem questionar todas as pautas da plutocracia nacional, achando, ingenuamente, que está defendendo a si mesma. Pobre classe média, mais uma vez apaixonada pela lábia dos seus algozes que têm praticado uma verdadeira pedofilia intelectual nos politicamente incautos.

Acorda, Brasil.

domingo, 28 de fevereiro de 2016

Homenagem ao senador Aécio


A grande mídia (Veja, Globo, Folha, Época, etc.) e suas 'filiais' na internet (Revoltados On Line, Canal do Otário, Kim Kataguiri, TV Revolta, etc.) costumam poupar de forma totalmente descarada os escândalos envolvendo os nomes dos políticos do PSDB, fato. Imagine que escândalo que a mídia não faria se o Lula batesse na mulher, dirigisse bêbado, construísse um aeroporto nas terras do tio, fosse dedurado por um delator como sendo o mais chato na cobrança de propina, tivesse um amigo dono de um helicóptero pego com quase meia tonelada de cocaína... Imagine também a franga que a imprensa não soltaria se descobrisse que o Lula teve participação em superfaturamentos envolvendo hemoderivados ou negociado com empresas estrangeiras a entrega do nosso petróleo. Mas o que vemos é uma mídia tendenciosa onde uma canoa de 4 mil reais comprada por uma ex-primeira-dama vira manchete de capa, mas onde a Lista de Furnas e o Trensalão mal são citados. Nós só podemos concluir que algo de muito podre está acontecendo com a imprensa brasileira.


Mas, enfim, não foi sobre esse assunto que eu queria abordar. Este post tem o intuito de reunir várias canções feitas em homenagem ao senador tucano Aécio Neves. Vou deixar elas abaixo para mostrar todo o "carinho" que o povo tem pelo senador:








sábado, 27 de fevereiro de 2016

Sobre a sensualidade e objetificação no Street Fighter

Um brutamontes desse lutar contra uma mulher não é machismo, mas a roupa dela é?

Desde meados de janeiro deste ano que me comprometo a escrever pelo menos um post por dia como forma de dar dinâmica ao blog. Tenho tentado, na medida do possível, abordar os mais de 50 temas que estão na fila de espera para serem publicados desde o ano passado. Porém, tem duas coisas que têm me atrasado na divulgação desses posts, que são as lambanças da política brasileira e os justiceiros sociais, especialmente os que advêm do feminismo radical. E desta vez, mais uma vez, tenho que me dar ao trabalho de desconstruir a argumentação torpe de pessoas que têm atacado o game Street Fighter 5 o acusando de "machista" devido à sensualidade de suas personagens femininas. Mas antes de refutar qualquer coisa, vamos primeiro pensar sobre o que é sensualidade.

A subjetividade das paixões
A sensualidade é um sentimento ligado ao prazer dos sentidos, em especial à luxúria, ao erotismo. A sensualidade não é uma característica (ou um conjunto de características), como alguns pensam: ela é o próprio sentimento de volúpia que aflora ao enxergarmos algo belo e atraente em alguém ou algo. La Gioconda, de Leonardo da Vinci, apesar de ser apenas uma pintura mostrando uma mulher aparentemente serena e recatada, é considerada por muitas pessoas como uma representação extremamente sensual devido a sua simetria e razão áurea – além do seu sorriso que denota, a depender do ângulo que se olha, uma tímida devassidão. Isso pode parecer um pseudo eruditismo pernóstico de minha parte, mas o que quero dizer é que a sensualidade está nos olhos de quem a vê. Da mesma forma que é subjetivo achar sensualidade numa mulher que caminha usando trajes de banho no calçadão de Ipanema, como cantou o poetinha Vinícius de Moraes – é também subjetivo achar sensualidade num quadro renascentista. A sensualidade está na "maldade" de quem olha. Tudo depende do contexto histórico-cultural e do observador em questão. Portanto, achar sensualidade em personagens de quadrinhos, revistas e games é algo, por tabela, também subjetivo. E essa subjetividade serve apenas como critério de julgamento moral – e nunca como um valor ético para se tomar decisões.  

Chun-Li: a revolucionária injustiçada
Desde o Street Fighter 2 - The World Warrior, lançado no início dos anos 90 pela Capcom, que personagens femininas "sensuais" aparecem no jogo. A primeira delas, a lutadora chinesa Chun-Li, chamou atenção não apenas por ser uma mulher lutando contra um bando de marmanjos, mas também por suas roupas não muito recatadas, do ponto de vista da moral subjetiva da maioria. A Chun-Li, ao invés de ser tratada como uma personagem revolucionária por inserir uma figura feminina num ambiente tipicamente dominado por homens, acabou virando bode expiatório dos puritanos que prestavam mais atenção no comprimento do seu vestido, do que na eficiência dos seus golpes. É claro que os games daquela época tinham como público-alvo os homens, por isso uma mulher jovem e bela cairia melhor que outra que chamasse menos atenção. O grande paradoxo dessa história é que hoje há feministas que saem quase nuas nas ruas em protestos organizados e ninguém as acusa de machismo ou objetificação. Mas os trajes de lutadoras nos games – às vezes menos ínfimos que os das próprias manifestantes – são machistas e objetificadores segundo elas mesmas. Então o que me parece diferenciar se algo é objetificação ou não é se este algo atende aos interesses dessas feministas: se atender, não é; se não atender, é. Este critério arbitrário é que realmente tem me incomodado, ainda mais quando as roupas das lutadoras do jogo se parecem muito com as roupas usadas por mulheres comuns nas ruas.

Seria objetificação sexual se isso fosse nos games?

Portanto, essa história de que a sensualidade, as roupas ou as poses "degradam" ou "coisificam" as mulheres é um julgamento totalmente arbitrário, subjetivo e sexista. Querer impor os tipos de roupa que as mulheres devem usar em nome da sua ideologia é algo que só não soa machista na cabeça tendenciosa de machistas e feministas radicais abolicionistas. Portanto, pare e pense melhor antes de compartilhar nas redes sociais qualquer meme da Anita Sarkeesian. O mundo vai agradecer ao seu bom senso caso você faça isso.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

A recolonização do Brasil #1


O meu objetivo neste blog não é e nunca foi dar ênfase à política, mas o que acontece no Brasil atualmente é algo tão grave que seria uma omissão irresponsável de minha parte ficar em silêncio diante dos fatos.
Antes de seguir sobre o tema do título do post, vamos falar logo sobre a Operação Lava Jato.
A Operação Lava Jato tem, essencialmente, três funções ocultas por trás da caça dos envolvidos no escândalo da Petrobras:

1 - Prender o Lula (ou pelo menos desmoralizá-lo) e enterrar o PT.
2 - Desmontar a Petrobrás, mostrando que ela será mais útil privatizada do que sob o controle do Estado "ladrão".
3 - Distrair o povo dos fatos que beneficiam a plutocracia e aos políticos "entreguistas", tais como a recente venda do pré-sal à Chevron.

Moro segurando um cartaz do Capitão Óbvio

É isso mesmo. Enquanto o povo despolitizado, de memória curta e que pouco lê além de jornais e revistas tendenciosos está distraído com os escândalos do PT, os políticos entreguistas e corruptos de outros partidos estão deitando e rolando. José Serra, com apoio do presidente do senado Renan Calheiros, conseguiu um dos feitos mais lastimáveis da nossa história política recente: dar um grande passo no congresso para entregar parte do pré-sal que é nosso, dos brasileiros, para uma das maiores petrolíferas americanas, a Chevron. Parte do nosso patrimônio, de nossa soberania nacional, está prestes a deixar de ser nossa. A Petrobras não pediu ao senador José Serra, autor desse projeto, para ser desobrigada da participação legal mínima de 30%. Apesar de seu perfil de homem do mercado, o presidente da estatal, Ademir Bendine, se disse contrário ao projeto. Enquanto os neoliberais da internet e a mídia entreguista tentam demonstrar com mil falácias que o pré-sal não vale a pena, o povo vai perdendo uma parte importante da sua riqueza. Ora, se o pré-sal não vale a pena, porque esse interesse da Chevron em seduzir os nossos políticos para obtê-lo? Será que o petróleo vai continuar barato para sempre? Ou será que o preço do petróleo vai oscilar como sempre ocorreu ao longo da história? Quem tem o mínimo de juízo crítico precisa se manifestar contra essa aberração e pressionar a câmara dos deputados para vetar esse atentado contra todo o país.
E é aqui onde eu me pergunto: onde estão os patriotas brasileiros? É muito fácil ser patriota em época de Copa do Mundo, onde apenas uma partida ou uma taça estão em jogo. Agora quando o futuro do país está em jogo, a parte do povo que se considera patriota e bem informada sobre política acha que patriotismo é berrar histericamente "Bolsonaro presidente" ou então: "Vai pra Cuba".  A indignação seletiva de quem acompanha o passo a passo da Operação Lava Jato como se fosse um folhetim é a prova de que a maioria da população aceita a lavagem cerebral midiática sem a menor resistência, se esquecendo que a imprensa é o quarto poder e que ela possui lado e interesses próprios. Aliás, a mídia tenta impor um voto de cabresto ao povo quando dá notícias tendenciosas, escondendo e manipulando fatos ao seu bel-prazer.

Eles chegaram mais cedo para a festa

O que fica muito claro é que ninguém pensa no futuro, somente no agora, em soluções imediatas e rasas. É por isso que a direita está fazendo tanto sucesso na internet. Se um dia eu tiver netos, daqui a, talvez, uns quarenta anos e eles me perguntarem sobre como os brasileiros permitiram a venda das nossas riquezas naturais em 2016 (como provavelmente deverá constar em seus e-books de história lá no futuro), eu vou ter que responder a eles em tom de melancolia: meus netinhos, nada podíamos fazer porque o Brasil era duplamente colonizado naquela época. O país era colonizado pelas oligarquias norte-americanas; e o povo, mesmo o da classe média, era colonizado intelectualmente pela mídia pró-colonização. Nós éramos a senzala dos Estados Unidos. Se não tivéssemos sido saqueados, ou melhor, se não tivéssemos nos vendido, hoje o Brasil seria um país de primeiro mundo. Pena que ninguém gostava de ler e achava que o conhecimento acadêmico era "marxismo cultural". Sobrou a mídia para fazer uma bela lavagem cerebral.


Enquanto isso, aqui em 2016, neoliberais, bolsonaretes, fascistas, reacionários e despolitizados em geral se acham patriotas por odiarem o PT, a história caminha para a recolonização do Brasil. Lindo, né?


quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Meus 5 videoclipes favoritos


Sempre fui um grande fã de música, mas ao mesmo tempo eu também era apaixonado por videoclipes, especialmente lá pelos anos 90, quando eu assistia regularmente a MTV. Alguns clipes me marcaram tanto que eu passei a gostar da música deles por causa do clipe em si.

A seguir, compartilho os cinco clipes que mais me marcaram ao longo da vida, seja pela criatividade, pelo sentimento que eles passam, pelo figurino, pela crítica ou pelo charme:

Shiny Happy People (R.E.M.)


Legal Tender (The B-52's)


Another Brick in The Wall (Pink Floyd)


Dani California (Red Hot Chili Peppers)


The Scientist (Coldplay)

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Quem vencerá as eleições presidenciais de 2018?

2018 vem aí: façam suas apostas!

Na semana passada, eu estive observando uma pesquisa interna feita numa página de direita do Facebook sobre em quem as pessoas votariam para Presidente da República em 2018. O resultado não poderia ter sido mais sem noção: Jair Bolsonaro venceu com 85% dos votos, seguido de Aécio Neves com menos de 10% dos votos. É claro que essa pesquisa foi tendenciosa, mas pelo crescimento da direita e do conservadorismo no Brasil, eu não duvido nada que o próximo presidente possa ser alguém da ala "antiesquerdista". Por conta disso, a esquerda política terá que pensar numa solução estratégica para não ser derrotada antes mesmo das eleições começarem. Explico melhor a seguir.

Sim, os tucanos estarão de volta

Atual conjuntura política
Os partidos de esquerda "de verdade" no Brasil são todos pequenos e inexpressivos: PCB, PSTU, PCO, PSOL e até PC do B. Nenhum deles têm chance alguma de vencer qualquer eleição presidencial. Porém, temos os de centro-esquerda, de mentalidade mais keynesiana, como o PT, PDT e PSB, que são mais fortes. Temos também os de centro-direita, como o DEM, PSDB, PPS e PSC, que são um bloco bem heterogêneo. Já o PMDB, REDE e o PV são indefiníveis. O ponto central aqui é que a esquerda terá que se unir a algum partido keynesiano caso não queira que o Brasil fique em cima do muro entre privateiros e indefiníveis. É preciso que a esquerda se foque em um único nome para que não tenhamos o risco de ter a centro-direita disputando o segundo turno com a extrema-direita de Jair Bolsonaro. A direita liberal já tem o seu candidato: Aécio Neves. O ex-governador de Minas teve seu nome citado em diversos escândalos, mas ninguém investiga, ninguém quer saber e ninguém dá destaque por uma razão óbvia: para preservar a sua imagem. Enquanto isso, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, já começou a ser achincalhado pela direita justamente como prova de que ele não deverá concorrer em 2018, afinal, como a direita vai apoiar para presidente alguém que ela mesma chama de "ditador"? Já os indefiníveis estão aí apenas atrás de visibilidade, ministérios e regalias, porque sabem que não irão vencer. Então a questão aqui é clara: quem vai concorrer contra Aécio Neves em 2018?

Quem será o próximo dessa turma?

Lula não deveria ser candidato
O PT está diante de uma situação difícil, porque não há candidatos pelo Partido dos Trabalhadores que tenham chances de alguma coisa fora o próprio Lula. Jaques Wagner, Fernando Pimentel, Tarso Genro ou mesmo Fernando Haddad não possuem relevância nacional, carisma ou simpatia popular comparável com a do Lula. O único que realmente toca o coração do povo é o próprio Lula. Mas levando em consideração toda a campanha difamatória da mídia, o péssimo governo do PT, os escândalos, o antipetismo e o crescimento alucinante de jovens conservadores, mesmo que Lula se candidatasse, certamente perderia a eleição. E mesmo que ele vencesse, as forças oposicionistas com certeza absoluta o tirariam do poder através de algum impeachment ou golpe de Estado qualquer. O fato é que Lula não vai servir para outra coisa a não ser atrapalhar a própria esquerda. Com Lula candidato, nomes relevantes entre os keynesianos, como Ciro Gomes, por exemplo, não iriam ao segundo turno e Aécio Neves venceria facilmente um segundo turno contra o PT. Então, para o bem do país, Lula – por melhor que ela tenha sido para o povão – não deveria concorrer à presidência. Ao invés disso, ele deve apoiar outro partido progressista que dê sangue novo à política: sangue novo este que não pode deixar a população mais desfavorecida entregue à própria sorte nas mãos de políticas neoliberais.


Ciro parece isolado

Quem vai ser então?
O único nome do lado progressista que eu considero preparado, honesto e relevante é o do Ciro Gomes do PDT. Numa eleição sem o PT, os votos da esquerda moderada se concentrariam no Ciro Gomes e dariam a ele a chance de ficar na frente de um dos indefiníveis (Marina Silva, por exemplo) para disputar o segundo turno com o senador Aécio Neves. Eu não vejo outra solução. Apesar disso, ainda acho que Aécio venceria mesmo assim e seria presidente. E mesmo se Bolsonaro se candidatasse (o que ajudaria a dividir os votos dos reacionários no primeiro turno), no segundo turno, Aécio Neves provavelmente venceria devido ao apoio massivo da grande mídia, dos jovens reacionários e da ralé subintelecutalizada que faz tudo que um tal de Olavo diz.
O maior problema que pode acontecer é se Jair Bolsonaro se converter ao neoliberalismo e virar candidato do PSDB. Aí é game over na certa, porque o tal "mito" vai dar uma lavada histórica nas urnas contra qualquer adversário ainda no primeiro turno.

Já imaginou se eles vencem?

Portanto, camaradas, o futuro do Brasil é mais sombrio do que se pode imaginar. As privatizações, o FMI, o neocolonialismo e todo o saudosismo reacionário dos tempos de FHC estarão de volta. Espero que as coisas mudem até lá.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Galeria de Arte da Sasha Grey


Para quem perdeu o post onde eu nomeei a Sasha Grey como musa deste blog, é bom que fique claro que ela certamente aparecerá várias vezes por aqui, seja para ilustrar os posts com sua beleza incomensurável ou para inspirar a todos nós com a sua sabedoria incognoscível a meros mortais. Mas musa que é musa de verdade precisa de homenagens – e foi pensando nisso que criei um post só com desenhos e ilustrações de fãs em reverência a essa verdadeira deusa. Com vocês, as sagradas pinceladas artísticas em nome da musa inspiradora de milhões de fãs:






















Ave Sasha!

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Leis Antiprostituição: Uma analogia com o aborto e as drogas

Manifesto contra a prostituição na França

Numa coisa todo mundo concorda: a prostituição da forma como ocorre atualmente no Brasil favorece tanto a exploração das prostitutas pelos cafetões quanto a violência contra mulheres (e travestis) que usam o sexo como fonte de renda. Há um consenso geral com relação a isso porque é exatamente isso que ocorre na maioria dos casos. Temos ainda aliciamento de menores, tráfico humano e outras coisas terríveis ligadas à prostituição. Posto isso, temos três posicionamentos diante desse fato. Vamos refletir sobre cada um deles.

O primeiro posicionamento é o conservador, típico de quem lucra com a exploração sexual das mulheres e adolescentes. Este posicionamento defende que as coisas devem continuar exatamente como estão e que apenas proibindo certos aspectos abusivos é suficiente para evitar crimes contra as prostitutas. Só existem três tipos de pessoas que pensam assim: as ingênuas, os políticos envolvidos em esquemas de prostituição e os cafetões.

O segundo posicionamento é o abolicionista, que defende a extinção total da prostituição, tornando o ato de pagar por sexo (e nunca o de vendê-lo) um crime. O ponto central aqui é que a prostituição sempre será degradante, violenta e perigosa para quem se prostitui. Esse pensamento é frequente entre religiosos teocráticos, moralistas, ONGs de feministas dworkinianas, ativistas de direitos humanos e, claro, vendedores de bonecas sexuais. Esse pensamento de usar as leis para criminalizar a prostituição foi usado com (não tanto) sucesso na Suécia e também foi idealizado na França.

O terceiro posicionamento é o da regulamentação da atividade de prostituta. A prostituição aqui tornar-se-ia uma profissão legítima, com regras, sindicatos e legislação trabalhista para proteger as garotas de programa. A finalidade dessa formalização seria a de eliminar as atividades criminosas e ilegais ligadas à prostituição – além de combater o estigma rançoso de que prostitutas não merecem respeito ou de que são dignas de pena. Esta linha de pensamento é típica dos libertários.

Daí vem a pergunta que não quer calar: qual dessas opções acima é a melhor? Dá para notar claramente que o primeiro posicionamento, o conservador, é que não é o melhor mesmo. As coisas como estão só servem para aumentar o turismo sexual e a exploração ilegal das prostitutas. Então ficamos em dúvida entre as duas opções que restaram: ou a proibição, ou a regulamentação. Antes de dar o meu posicionamento, já conhecido por quem acompanha este blog há mais tempo, quero citar o caso do aborto e das drogas para ilustrar o que penso sobre o assunto.

Criminosas ou trabalhadoras: eis a questão

As drogas (excetuando-se o álcool e o cigarro) são ilegais, inteiramente proibidas para uso recreativo. Você como indivíduo não tem liberdade para usar drogas "ilícitas" porque o Estado proíbe. Mas será que esta proibição funciona mesmo na prática? A proibição das drogas gera tráfico, violência e um crime organizado bastante difícil de se combater. As pessoas que querem usar drogas estão dispostas a correr riscos e, mesmo sabendo da sua ilegalidade, compram a droga do traficante, já que não há outra maneira de obtê-la.
O caso do aborto é muito similar ao das drogas. O Estado mais uma vez usa leis quase teocráticas para restringir ao máximo o aborto, ameaçando de prisão qualquer mulher que desobedeça as suas leis patriarcais. Na prática, essa proibição do aborto só funciona para as mulheres pobres. Enquanto as mulheres mais abastadas viajam para os países ricos para abortar legalmente por lá, as mais pobres que optam por interromper a gravidez precisam se submeter a clínicas clandestinas que são verdadeiros açougues, com condições precárias que colocam em risco a vida dessas mulheres.
O ponto chave dessa discussão é que o Estado não deveria legislar sobre o que cada um deve fazer com o seu próprio corpo. Seria um absurdo, por exemplo, o Estado proibir as pessoas de usarem piercing, de fazer tatuagens ou até mesmo de beber a própria urina. Em liberdades individuais o Estado não deveria se meter. Se você quer usar drogas e alterar a bioquímica dos seus neurotransmissores, isso não é problema do Estado, é problema seu. Se você deseja interromper a gravidez de forma segura, isso é direito seu, afinal, o Estado (ou a Igreja) não vai subsidiar a sua gravidez e nem vai se responsabilizar por uma criança que nem mesmo o próprio pai assume. Além do mais, mulheres não são parideiras do Estado, que devem criar cidadãos para sustentar os parasitas estatais. O que o Estado deve legislar são pontos específicos onde a sua liberdade individual passa a interferir diretamente na liberdade dos outros. Se você usa drogas e vai dirigir, por exemplo, isso já não é um problema só seu, mas sim da coletividade, afinal, você pode causar um acidente estando sob o efeito de drogas psicoativas. No caso do aborto, o Estado deve proibir apenas quando o feto tiver formado o sistema nervoso, porque, neste caso, por se tratar de um humano senciente dentro de outro, seria considerado um assassinato.
Então o mesmo raciocínio eu aplico à prostituição. O Estado não deve ter autoridade de dizer o que você pode ou não fazer com o seu próprio corpo. Se você quer transar e depois cobrar pedágio por isso, isso não é problema do Estado. É um direito seu pagar ou receber por sexo ou por qualquer outra atividade sexual ou não. Se você quiser cobrar por um beijo, isso é direito seu. Cobrar por um abraço, também é direito seu. É o seu corpo e você cria suas regras sobre ele.


Se não ficou claro, eu digo com todas as letras que sou inteiramente a favor da regulamentação da prostituição como forma de desmarginalizar e proteger as prostitutas. A prostituição é um trabalho perigoso? Sim, sem dúvida. Mas a profissão de dublê também é e ninguém liga para quantas mulheres dublês morrem, ficam tetraplégicas ou desmembradas. O moralismo seletivo oriundo da nossa moral cristã-patriarcal não quer jamais que as prostitutas tenham direitos e liberdade, porque isso causaria um hecatombe tanto no patriarcado quanto na nossa cultura pseudo-puritana tão defendida por religiosos dogmáticos. Imagine o horror que seria uma prostituta tendo uma carteira de trabalho, defendendo melhorias nas condições de trabalho e sendo tratada como um ser humano digno de respeito, e não como uma delinquente sexual de "vida fácil". Imagine que agonia seria para o patriarcado ter que aceitar que a palavra "puta" não seria mais um xingamento e ver "homens honrados" se casando e formando família com prostitutas.
Prostitutas precisam de respeito e de direitos – e não de pena.

A seguir deixo um vídeo didático do deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ) que explica como funciona a Lei Gabriela Leite: lei esta que pretende regular a prostituição no Brasil.



PS1: Sobre a prostituição como única saída para muitas mulheres pobres sobreviverem num mundo capitalista onde há poucas vagas de empregos formais para mulheres, o problema, neste caso, não é a prostituição em si, mas o sistema como um todo. Há pessoas, especialmente entre as feministas mais ferrenhas, que acham que proibindo a prostituição, a exploração feminina neste meio vai reduzir. Sim, vai mesmo, como ocorreu na Suécia. Só que como o problema aí não é a prostituição em si, as mulheres que antes se prostituíam seriam forçadas a entrar em outro ramo: subempregos, trabalho semiescravo, criminalidade, mendicidade e até escravas de maridos machistas. Acabar com a prostituição não abre novas vagas de empregos formais para mulheres e nem melhora os salários delas. O sistema é que precisa mudar para que a prostituição não seja a única saída para as mulheres mais pobres ou sem oportunidades. A prostituição deve ser uma oportunidade de trabalho como qualquer outra, e não a única oportunidade.

PS2: Sobre a comparação da prostituição com a venda de órgãos, a venda de órgãos, como o próprio nome já está dizendo: é uma venda. Na prostituição você não está vendendo nada, você está oferecendo um serviço sexual, ou, na pior das hipóteses, "alugando o corpo". Você não pode se vender ou vender partes do seu corpo porque isso fere a sua liberdade individual: ninguém pode ser propriedade legal de outra pessoa. Além disso, o mercado negro de órgãos se vale de aliciamento de pessoas pobres e até de sequestros para remover cirurgicamente partes do seu corpo contra a sua vontade.

Alguns sites que abordam o tema:
-Folha - Suécia avalia eficácia de lei de combate à prostituição
-Carta Capital - Prostituição e crime
-Não aguento quando - Prostituição
-Escreva Lola Escreva - O feminismo é empoderador para a prostituta 
-O Dia - Prostitutas param o trânsito em Niterói pedindo a legalização da profissão 
-Blog Marcha Mundial das Mulheres - Por que seguimos ignorando o que elas estão nos dizendo?