terça-feira, 29 de abril de 2014

Darwin estava certo!


Depois do ato de racismo registrado contra o jogador brasileiro Daniel Alves – onde jogaram uma banana em sua direção no jogo entre Barcelona e Villarreal e o próprio jogador respondeu ao ato comendo a banana – o meme "somos todos macacos" em solidariedade ao mesmo acabou viralizando no mundo inteiro. Mas essa frase famosa de que somos todos macacos não é nova, alguém, ou melhor: um naturalista britânico conhecido por Charles Darwin, concluiu que somos realmente todos macacos de acordo com os estudos divulgados no seu livro A Origem das Espécies. Se Darwin estivesse vivo, ele realmente estaria muito orgulhoso, afinal, somos mesmo todos primatas.

Viva la evolución! 

domingo, 27 de abril de 2014

O RadFem e a militância heterofóbica


"Todo sexo heterossexual é estupro". Esta frase aparentemente absurda foi retirada do livro 'Intercurso' (Intercourse, 1987, EUA) da feminista radical Andrea Dworkin. Digo aparentemente absurda porque ela reflete o sentimento de ódio e nojo que muitas mulheres homossexuais sentiram ao serem coagidas socialmente a relacionarem-se com homens. O famoso "estupro corretivo para lésbicas" foi (e ainda é) uma realidade em muitos países que surgiu como forma de combater a homossexualidade feminina. O discurso de ódio que se segue por parte de muitas dessas mulheres com relação ao sexo heterossexual é perfeitamente compreensível se for visto dentro deste contexto. O problema é que fora deste contexto de repressão homofóbica, a ideia de repudiar o sexo heterossexual não tem sentido e é tão hostil quanto condenar o sexo homossexual. E, infelizmente, tem muita gente por aí que vem levando a sério essas ideias radicais e as incorporando ao seu discurso como se elas fizessem parte do feminismo ortodoxo. É justamente aí que mora o perigo e é daí que nascem movimentos radicais contra a pornografia, contra a prostituição, contra o funk ou contra qualquer atividade que "celebre" o sexo heterossexual.

Militância feminista antipornografia

O Radical Feminism, mais conhecido por RadFem, é um movimento de feministas radicais não ortodoxas que condenam o sexo heterossexual por considerá-lo uma forma de opressão patriarcal. Entre outras coisas, elas defendem o lesbianismo político e o fim de "mecanismos opressores" tais como como a heterossexualidade, a prostituição e a pornografia. Além da já citada Andrea Dworkin, a este grupo pertencem também nomes como Sheila Jeffreys e Gail Dines, que ficaram famosas por sua militância antipornografia. Além disso, o termo "objetificação" foi praticamente batizado por essas militantes ao descreverem a forma com que elas enxergam as mulheres dentro e fora do ato sexual entre um homem e uma mulher.

Alguém sabe a diferença entre conotação e denotação?

Para quem não sabe, Andrea Dworkin está para o feminismo assim como Nessahan Alita está para o masculinismo, ou seja: são péssimos exemplos a serem seguidos devido aos seus extremismos e teorias conspiratórias absurdas. Já a Sheila Jeffrey é uma radical cega que condena até mesmo a transexualidade – e a Gail Dines, na minha opinião, é a pior cria da espécie. Todas elas transformaram a pornografia e a prostituição em bodes expiatórios, declarando guerra às mesmas sem levar em consideração que os verdadeiros culpados por suas dores são, na verdade, o machismo e a homofobia. Sobre a pornografia, tão combatida pelas RadFems, veja algumas frases da socióloga Gail Dines que inspiraram muitas radicais, dando a entender que o que motiva a violência contra a mulher é a pornografia, e não o machismo:

"Ao invés de fazer amor, homens fazem ódio com os corpos das mulheres - enquanto ele a penetra brutalmente, a chama de nomes vis e demonstra nada além de ódio, desprezo e nojo"

"Pornografia, por definição, são imagens baseadas na desigualdade, na humilhação, na desumanização"

"A legislação deveria definir a pornografia como uma violação dos direitos civis das mulheres"

Malditos Legos machistas e opressores!

Além do conceito sobre pornografia ser totalmente torpe, elas usam wishful thinking e falácias diversas para tentar combater o que segundo elas é o "grande mal da humanidade". Eu até critiquei a pornografia em alguns posts, mas uma coisa é você fazer críticas, outra coisa é você militar fanaticamente contra algo de forma totalmente desmiolada. Vou deixar abaixo um vídeo que mostra uma crítica construtiva à pornografia tradicional, mostrando porque a censura a essa forma de entretenimento adulto é uma bobagem.


Um fato interessante sobre toda essa história é que boa parte dessas militantes antiprostituição e antipornografia idealizam um sexo romântico em suas descrições de "sexo ideal". Sexo ideal, para elas, é aquele sexo onde o príncipe encantado encontra a sua princesa no castelo de cristal e eles fazem amor ao som de música clássica com muita intimidade, paixão e emotividade. Engraçado que é exatamente esta ideia que o patriarcado tentou passar para as mulheres: que para elas o sexo tinha que ser sempre romântico e apenas com o homem de suas vidas. Enquanto que ensinavam aos homens a serem livres para transarem com quem quisessem de forma intensa, "suja", imoral e descompromissada: exatamente o tipo de sexo que foi negligenciado a elas e que essas radicais tanto condenam dizendo ser "estupro". Haja frigidez e segregação sexual!

sexta-feira, 25 de abril de 2014

As melhores músicas não cantadas em inglês

Que o inglês transformou-se praticamente na língua oficial do mundo, isso ninguém duvida. A maior prova disso é que a maior parte das músicas de sucesso do mundo são cantadas em inglês. Mas, como alguns já sabem, nem toda música boa é cantada em inglês. A seguir vou deixar uma lista de músicas que são cantadas em outras línguas e que eu considero serem pelo menos muito boas. Saca só:

Tunak Tunak Tun - Daler Mehndi (indiano)


Kalluri Vaanil - Prabhu Deva (indiano)


Estação da Luz - Alceu Valença (português)


Asa Branca - Luiz Gonzaga (português) 


Vai Passar - Chico Buarque (português) 


Maria, Maria - Milton Nascimento (português)


Homem Primata - Titãs (português)


Carinhoso - Pixinguinha (português)


O Fortuna - Carmina Burana (latim)


Ameno - Era (latim)


Now We Are Free - Lisa Gerrard (língua desconhecida) 


Hoppípolla - Sigur Rós (islandês) 


La Barca - Luiz Miguel (espanhol)


La Solitudine - Laura Pausini (italiano)


Con Te Partirò - Andrea Bocelli (italiano)


Pata Pata - Miriam Makeba (xhosa)


Denno Keisatsu Cybercops - Mika Chiba (japonês)


Dengeki Sentai Changeman - Hironobu Kageyama (japonês)

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Críticas ao feminismo - complemento


No penúltimo post a este, onde eu critiquei o feminismo pragmático, algumas argumentações talvez não tenham ficado claras – além de terem faltado algumas outras. Por esta razão, vou fazer alguns esclarecimentos rápidos para que não haja nenhum mal entendido.

Violência doméstica
A violência contra a mulher é um dos maiores cânceres sociais da humanidade. A quantidade de mulheres que são assassinadas, violentadas e espancadas por seus (ex)companheiros é assustadora. E a impunidade é extremamente alta para esses crimes. Eu, como pacifista, abomino inteiramente a violência contra a mulher. Inclusive, acho a Lei Maria da Penha muito branda, pois ela não é suficientemente rigorosa para se coibir eficientemente essa violência. Posto isso, o que tentei colocar na postagem anterior foi que a violência contra a mulher não é a única forma de violência doméstica que existe. O que devemos fazer é lutar contra toda e qualquer forma de violência, seja contra mulheres, homens, crianças, idosos ou adultos. A violência não merece nenhuma chance, porque ela não tem justificativa. Defender apenas um lado, ainda que ele seja o mais atingido pela violência, é extremamente parcial e injusto. A vida de uma mulher não deveria valer mais que a vida de um homem. Por isso, eu defendo também o fim da violência doméstica contra os "opressores" homens.

Feminismo e religião
Algo interessante que notei é que apesar de feminismo e religião serem quase como água e óleo, existe, para minha surpresa, um ponto de intersecção entre ambos. Este ponto de intersecção está justamente na área que abrange a sexualidade. Enquanto a religião, por exemplo, condena a prostituição, pornografia e a objetificação por considerá-las "imorais"; as feministas abolicionistas, por sua vez, condenam essas mesmas coisas por acharem que é uma "exploração da mulher". Os discursos são diferentes, mas o resultado é o mesmo: controle. O problema aqui é que ou o feminismo acaba se aliando às religiões (sobretudo à direita cristã) neste sentido, ou então acaba se comportando como se também fosse uma religião. Enfim, não vou repetir tudo o que escrevi neste post. O único ponto que eu me incomodo aqui é que a ideia de vigiar e proibir certas coisas nunca me pareceu algo muito revolucionário, porque acaba servindo para limitar a liberdade individual das mulheres pessoas e também a liberdade de expressão.

Sobre a prostituição
Acabar com a prostituição é uma utopia feminista/religiosa. Isso ocorre porque o sexo para o homem possui uma conotação diferente do que é para a maioria das mulheres. Sexo não é tão fácil de se conseguir quanto parece para a maioria dos homens heterossexuais, afinal, são os homens que precisam fazer toda a dança do acasalamento social para tentar seduzir uma mulher de seu interesse – e isso toma tempo e dinheiro (além de incluir riscos, como o de rejeição, por exemplo). Além disso, não são todos os homens que têm talento, tempo, paciência e coragem para tentar seduzir mulheres em um ritual de conquista que pode levar semanas ou meses antes de levá-la para cama. Se não fosse pela prostituição, muitos homens jamais teriam chance alguma de transar. Por isso que a prostituição prospera: porque existe a possibilidade de ter sexo fácil, rápido, de qualidade, sem burocracia e sem maiores conversas a um preço acessível para qualquer homem. É muito fácil para os românticos pensar que sexo deveria ser sempre de graça, sendo uma mera troca de prazeres – mas não é assim que o mundo funciona. Mesmo que as mulheres não fossem reprimidas sexualmente, mesmo que todos os homens fossem lindos e mesmo que a população feminina fosse dez vezes maior que a masculina, ainda assim, a prostituição existiria e prosperaria. Como disse certa vez o Dr. Asmodeu em seu blog: nenhum moralista vai admitir isso: mas falta sexo no mundo. E sexo não é brincadeira: é uma necessidade fisiológica.
O grande problema da prostituição, na minha opinião, é a exploração das garotas por cafetões. Mas neste caso não é necessário proibir a prostituição como um todo, basta uma regulamentação forte que criminalize os modelos ilegais de prostituição. Criminalizar toda forma de prostituição não daria certo, pois haveria um enorme mercado negro para isso.

Objetificação
Tratar um ser humano como objeto, propriedade ou mercadoria é crime, ponto. Tráfico humano, sequestro, cárcere privado, trabalho escravo, abuso sexual, assédio, invasão de privacidade, atentado ao pudor: alguém duvida que essas coisas sejam erradas? Ser um "objeto decorativo" hipersexualizado num programa de tevê pode até ser uma forma de objetificação sexual – mas não é crime justamente porque a pessoa objetificada consente nisso e também porque não há a ideia de posse ou propriedade. Se a mulher quer virar um enfeite televisivo para trazer mais audiência a um programa, isso é um direito de escolha dela. Aliás, ser panicat é mais difícil (e mais rentável) que passar em medicina na Fuvest. Se você não quer ser uma mulher-objeto, faça outra coisa na vida: estude, trabalhe e faça qualquer outra coisa menos balançar a bunda na tevê. E tem outra coisa: a gente precisa parar de achar que as mulheres são sempre vítimas da sociedade machista e patriarcal. As mulheres – assim como os homens – são elementos ativos na nossa sociedade. Ninguém é forçado a trabalhar num comercial de cerveja que mostra mulheres sendo tratadas como "gostosas". Acho a crítica válida, mas é preciso respeitar a mulher (ou o homem) que quiser ganhar dinheiro com seus atributos físicos.

Iuzomismo
Este ponto talvez não tenha ficado claro no post anterior, mas o que tentei afirmar foi que, infelizmente, muitas feministas ridicularizam o sofrimento masculino gerado pelo próprio sexismo. Ao invés de mostrarem aos homens que o culpado pelo sofrimento deles é o machismo, inventam termos infantis para menosprezá-los, como "iuzomismo", "mimimi do opressor", "male tears", etc. E os homens transexuais? Será que alguém ainda acha que a nossa identidade de gênero é definida pelos nossos órgãos sexuais? Será que os homens trans também devem ter seus sofrimentos ridicularizados por eles serem homens? E será que também já não basta o machismo ter reprimido por tanto tempo o direito dos homens chorarem?

Padrão de beleza
Muita mulher por aí reclama que os homens não notam as mulheres feias, gordas e velhas – como se homens gordos, pobres e feios também não sofressem mais dificuldade para ter uma parceira que um cara mais atraente. Aprendam uma coisa: atração sexual não é caridade: é instinto. E sim: a nossa biologia conspira para que busquemos parceiros com mais beleza e que sejam mais saudáveis. Ter maior beleza significa ter maior chance de procriar e de ter filhos que também terão mais chances de procriação por serem belos. A seleção natural fez com que as pessoas que se sentiam atraídas pelos padrões de beleza vigente tivessem mais descendentes. E todos nós somos descendentes dessas pessoas. Claro que cada pessoa tem o seu próprio degradê de beleza que vai do muito feio ao muito bonito. E pelo fato desses degradês serem diferentes de pessoa para pessoa que vemos gente com menos poder de atração se dando bem com o gênero que a atrai. Afinal, o que é bonito para mim pode ser feio para você e vice-versa. Mas o que prevalece para a maioria das pessoas é o modelo de beleza padrão, por isso ele é tão requisitado.
O problema todo é que muita mulher reclama que o padrão de beleza é cruel e tal e que elas querem ser notadas. E quando finalmente são notadas, acham que é objetificação. Aí também já é de lascar.

Sobre a cor do Kinder Ovo
Concordo que normatizar se um brinquedo é para meninas ou para meninos é uma forma de impor padrões de gênero. Acontece que a maioria da população brasileira ainda não acordou para esse fato. Na maioria das famílias, meninas continuam brincando com "brinquedos de meninas" e meninos continuam brincando com "brinquedos para meninos". Se a empresa que fabrica o Kinder Ovo fugir dessa sua linha tradicional, corre o risco de ser rejeitada pelo consumidor. Afinal, seria frustrante abrir um Kinder Ovo e vir um brinquedo que você não gosta. A razão para vir com cores diferentes é apenas para diferenciar o brinde. Enfim, se não gosta do Kinder Ovo, não compre: simples assim. Compra o Kinder Ovo quem quer. Se acha a marca sexista, porque não opta pela concorrente ou não pressiona para a marca fabricar um que tenha um brinde "neutro" (unissex)?
PS: Descobri que o Kinder Ovo tem uma versão neutra, que são os Natoons.

Para terminar, aquela frase no final do post passado não traduz a minha forma de pensar: ela foi apenas um exemplo de que existem várias formas de se enxergar o feminismo. Se não me engano, a frase foi proferida pela blogueira Karen Straughan em um de seus vídeos no Youtube. A frase ficou apenas como uma reflexão para entenderem que tudo pode (e deve) ser criticado, inclusive feminismo.

E se você acha que eu estou tratando com desdém a luta feminista por igualdade, então por favor, esqueça tudo que eu falei e faça o que achar melhor. Não estou aqui para dizer a ninguém o que fazer, estou apenas expressando a minha opinião. Se não gostou, dê a sua também.

Namastê!

domingo, 20 de abril de 2014

Feliz Páscoa!


Feliz Páscoa a todos, independente de serem religiosos, ateus, satanistas ou gokuístas. E meu agradecimento especial a Goku, que morreu tantas vezes para nos salvar. Obrigado, Goku! Kamém!

terça-feira, 15 de abril de 2014

Críticas ao feminismo


Antes de começar o post em si, vamos dividir o feminismo em dois: o feminismo ortodoxo, que é o feminismo que busca a igualdade entre homens e mulheres – e o feminismo pragmático (também apelidado de feminismo new wave), que é aquele que faz uma interpretação subjetiva do feminismo ortodoxo para colocá-lo em prática. Não tenho qualquer crítica ao feminismo ortodoxo, porque ele é justo e necessário. Há até um teste para saber se você é um(a) feminista ortodoxa. Contudo, a minha crítica neste post vai inteiramente para o feminismo pragmático por uma razão muito simples: porque ele perde o rumo em meio a suas reivindicações controversas. E todo movimento sem rumo tende ao fanatismo, à histeria e à confusão.

Considerações iniciais
Preste bem atenção: não estou dizendo aqui como as mulheres devem atuar no feminismo, estou apenas propondo uma reflexão. As mulheres é que devem protagonizar e liderar o movimento feminista. Portanto, se alguém vier nos comentários dizer que minhas críticas são uma "cagação de regra", por favor, volte para a alfabetização. Se você não sabe ouvir críticas ao seu movimento, me desculpa a sinceridade, mas você é um(a) fundamentalista. Isso porque todo fanático toma qualquer crítica à sua ideologia como se ela fosse uma ofensa pessoal. Aprenda de uma vez por todas que não é porque a sua causa é justa que ela está imune a críticas. E as críticas que eu vou fazer são para o bem do próprio feminismo, para que ele não vire extremista e torne-se motivo de deboche, como já dizia um filósofo conservador:

 

"Daqui a uns séculos vão ver nossa época como a época da histeria feminina sem limites". 
(Luiz Felipe Pondé)




Críticas ao feminismo pragmático
A seguir, eu elaborei uma lista com 14 críticas específicas. Algumas delas são bem clichê, mas há outras que é preciso um pouco de sensibilidade para perceber que são construtivas. Pois bem, então vamos começar pela mais recorrente das críticas:

1) Igualdade, sim: mas só para o que as interessa
Feministas? Onde?
Você já viu alguma feminista brigar pelo direito de trabalhar em minas de carvão ou em trabalhos perigosos? Você já viu alguma feminista brigar pelo direito de pagar o mesmo valor de seguro de automóveis que os homens? Já viu alguma feminista lutar pelo fim do machismo nas Forças Armadas? Já viu alguma feminista brigar para que homens e mulheres tenham o mesmo tempo de licença após o nascimento dos filhos? Já viu alguma feminista protestar pelo fim do cavalheirismo? Já viu alguma feminista exigir tempo igual de aposentadoria para homens e mulheres? Já viu alguma feminista lutar para que homens e mulheres sejam condenados ao mesmo tempo de pena para o mesmo crime? Sim, eu já vi algumas feministas fazendo essas coisas todas que citei, mas elas são uma minoria quase desprezível.
Se a proposta é igualdade, então temos que aprender a abrir mão de certos privilégios. Do contrário, homens continuarão sobrecarregados de tarefas "masculinas" e mulheres sobrecarregadas de tarefas "femininas". Se é para abolir o sexismo e as desigualdades de gênero, então vamos ser coerentes.

2) Negar a violência da mulher contra o homem
Sim: muitos homens apanham de suas mulheres. E não: isso não tem a menor graça. Violência não tem graça nenhuma. E se você acha que as mulheres batem só com soquinhos e pontapés, me desculpa, mas você precisa se informar. As mulheres usam a chantagem para poder agredir os seus companheiros e saírem impunes de suas agressões físicas e verbais. E quando elas batem, usam panelas, vassouras, cinzeiros, pedras, talheres, cadeiras, mesas, estantes, louças, vasos e até armas brancas. E o homem que apanha não denuncia a companheira por vergonha, e, se revidarem, serão enquadrados pela Lei Maria da Penha, que só protege as mulheres. E, em casos extremos, homens são mutilados genitalmente por vingança, virando motivo de piada no programa do Alborghetti.

3) Considerar a linguagem uma forma de opressão
Poucas coisas são tão ridículas quanto escrever palavras com aqueles "X" no final para denotar gênero "neutro" ou para não colocar o plural no masculino. Fora a sem-noçãozice de usar os substantivos comum de dois gêneros com um "a" no final, como na palavra 'presidentA'. Eu até concordo que as linguagens evoluem, mas considerá-las uma forma de sexismo me faz lembrar aquela frase do Luiz Pondé lá em cima.

4) Considerar a heterossexualidade uma forma de opressão
Não é porque você é a favor da criminalização da homofobia que vai virar uma heterofóbica. Tem muitas feministas por aí que atacam outras mulheres heterossexuais, acusando-as de "perpetuarem o patriarcado" e de "erotizarem a própria opressão". Ainda bem que as mães dessas feministas insanas discordavam delas... ou melhor: que pena que não concordavam, pois assim idiotas como elas não teriam nascido para dizer tanta besteira. E se você duvida disso, procure conhecer feministas como Andrea Dworkin, Catherine MacKinnon, Sheila Jeffrys e outras radicais. Este documento mostra que o RadFem (Radical Feminism) não está para brincadeira neste aspecto.

5) Misturar o feminismo com outros movimentos
Eu tenho visto numa frequência cada vez maior feministas associando o machismo ao especismo, o veganismo ao feminismo e a onivoria ao patriarcado. E o pior é que essas feministas-veganas tendem a atacar outras feministas acusando-as de não serem "feministas de verdade" (a velha falácia do escocês). Feminismo é a luta por direitos iguais, apenas isso. Querer forçar todas as feministas a serem vegetarianas acusando-as de traidoras caso elas não parem de comer carne é de uma estupidez colossal. O mesmo vale para outras ideologias, como o socialismo, o ateísmo ou mesmo o niilismo.

6) Achar que o machismo está apenas no homem
O que tem de mulher machista neste mundo não é brincadeira. Só quem já foi xingada de piranha, vadia e biscate por outra mulher entende o que eu quero dizer. E muitas são machistas conscientes, pois adoram o cavalheirismo e também adoram ser sustentadas pelos seus maridos. Isso sem mencionar as conservadoras, como a falecida Margaret Thatcher, que têm uma verdadeira aversão ao feminismo. Nunca iremos eliminar o machismo do mundo enquanto não tivermos a consciência de que esse comportamento está presente não apenas em homens, mas também em mulheres.

7) Achar que só os homens estupram
As feministas radicais adoram dizer por aí que todo homem é um estuprador em potencial. Mas o que elas têm a dizer de mulheres que estupram outras mulheres nas cadeias, que estupram crianças ou que estupram até mesmo homens? A imensa maioria desses casos não é denunciada porque ninguém leva a sério um estupro cometido por uma mulher, exatamente porque a sociedade é machista e sempre coloca a mulher como frágil demais para cometer um crime tão hediondo. Sei...

8) Achar que só os homens são pervertidos
Se você acha que toda mulher é santa, pura e casta, acho bom rever seus conceitos. Assista este vídeo onde as mulheres ficam olhando com segundas intenções para o pênis de um homem por baixo da calça dele num metrô para entender o que eu estou dizendo.

9) Confundir feminismo com revanchismo
Feminismo NÃO é vingança pelos crimes cometidos pelo patriarcado: feminismo é a busca pela igualdade entre os gêneros, ponto. Somente as feminazis confundem essas duas linhas de pensamento.

10) Achar que criticar o feminismo é sempre uma forma de machismo
Se este post não servir de exemplo, então nada mais vai servir.

11) Querer virar homens (inverter valores)
Querer ter direitos iguais não é a mesma coisa de repetir as bobagens sexistas que os homens fazem. Querer que as mulheres sejam duronas, que neguem seus sentimentos, que sejam desleixadas com a própria aparência, que sejam negligentes com a própria saúde, que virem workaholics, que provem toda hora que são corajosas ou que sejam avaliadas apenas pelo seu desempenho profissional e sexual é uma forma burra de buscar a igualdade. Todos devem ser livres para fazer o que quiser sem imposições de padrões normativos de gênero. Não precisa deixar de ser feminina para ser feminista.

12) Achar que toda objetificação é ruim
Por favor, leia este post e compreenda de uma vez por todas porque ser objetificada aumenta o poder de atração de uma mulher e também as chances dela conquistar os homens que ela deseja. Objetificar é natural. O que não é natural é fazer campanhas ridículas querendo censurar peito e bunda na tevê por achar que isso é objetificação sexual da mulher e que mulheres não são mercadoria para serem "consumidas".

13) Perder a noção do ridículo
A  maior prova que o feminismo ortodoxo virou platônico é quando vemos algumas feministas reclamando da cor do Kinder Ovo ou de pictogramas clássicos nas portas dos banheiros masculino e feminino. Além da tragicômica da Anita Sarkeesian vir com o teste de Bechdel até para jogos de videogames, temos que aturar gritos de censura contra livros, filmes, novelas e até material escolar. Às vezes a coisa fica tão paranoica e tão conspiranoica, que até o mestre dos bitolados, Olavo de Carvalho, ficaria com inveja de tanta paranoia.

14) Achar que direitos iguais é "iuzomismo"
Antes de me pedirem para enxugar as minhas "male tears", perguntem-se a si mesmas se vocês já ouviram falar de transexualidade. Se você despreza a opinião dos homens apenas porque eles têm um pênis, você está sendo transfóbica sem perceber. Se os homens querem, por exemplo, ter o direito de usar saia igual às mulheres, qual é o problema? Afinal, as mulheres também não lutaram pelo direito de usar calças compridas? Veja bem: não estou dizendo que as mulheres devem lutar pelos direitos dos homens, mas devem evitar refutá-los por considerá-los "mimimi do opressor" ou "mansplaining". Afinal, o machismo também é ruim para os homens. Não se pode mudar o mundo enxergando metade da humanidade como sendo opressora e inimiga. Se não sabe dialogar com os supostos "opressores", então o machismo jamais vai cair. Lembrem-se, crianças: o sexismo é ruim para todo mundo, sejam homens ou mulheres.

"O problema do feminismo é que ele parte do pressuposto de que as mulheres são frágeis, passivas, vítimas e precisam de um movimento para protegê-las. Eu não preciso de seguir ideologias como se fosse uma ovelha adestrada, porque eu crio as minhas próprias regras. Igualdade se conquista com atitude, e não com chororô. Sou mulher, sou forte, sou ativa e lutarei pelos meus direitos até o fim. Nenhum homem e nenhuma mulher devem me dizer o que fazer."
(autora desconhecida)

Se a sua reação depois de ler este post for esta:

Desculpa, mas você precisa enxergar o mundo sem as suas lentes cor-de-rosa.

PS: Esta postagem tem uma complementação neste link onde eu esclareço melhor sobre alguns pontos pendentes apresentados aqui.

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Objetificação: a palavra final


Nós somos seres sexuados, certo? Nós possuímos dimorfismo sexual, concorda? Consequentemente, somos sexualmente atraentes para outras pessoas, queiramos ou não. Nem o religioso mais fanático do mundo nega esse fato, tanto é que criaram uma porção de leis punitivas para combater a luxúria e promover a castidade. Portanto, usar a desculpa da "objetificação das pessoas" como meio de negar a nossa sexualidade, a nossa sensualidade, os nossos desejos, as nossas fantasias e os nossos impulsos sexuais são de uma carolice e de uma frigidez completamente fanáticas. E para os que são contra uso e exposição de corpos humanos por eles usarem pouca roupa ou por serem sensuais, alegando que isso é "objetificação", eu sinto em dizer, mas quem pensa assim está precisando voltar urgentemente para a Idade Média.

Corpos bem definidos e pouca roupa são objetificação?

Afinal: o que vem a ser a objetificação?
Para se ter uma ideia, eu escrevi tantos posts sobre este tema, que precisei criar uma tag no menu só para poder agrupá-los. Porém, em nenhum desses posts escritos sobre esse assunto eu deixei claro qual é o conceito de objetificação. Aliás, eu nunca vi ninguém conceituar de forma clara o que é objetificação, nem feministas, nem moralistas e nem religiosos: que são os que mais usam este termo. Pelo que eu analisei após ler uma porção de textos na internet sobre o assunto, eu concluí que a objetificação nada mais é que tratar ou representar um ser humano como objeto. Existem conotações metafóricas e reais nesse aspecto, mas objetificar, por si só, não é algo necessariamente ruim. No mundo BDSM, por exemplo, a objetificação é um fetiche muito comum e saudável – além dela ser usada também em artes performáticas, representações artísticas, revistas, livros, publicidades e em mais em uma porção de exemplos. O grande problema não é a objetificação em si. O problema é a objetificação nociva, que nada mais é que tratar um ser humano como objeto sem o consentimento do mesmo. Note aí que há uma diferença muito grande entre uma coisa e outra. Objetificar não é errado, o errado é fazer isso sem o consentimento da pessoa "objetificada". Para entender melhor, vamos a alguns exemplos:

1-Alguém servir de brinquedinho sexual do parceiro de forma mutuamente consensual.
Não é uma objetificação nociva, justamente porque há consentimento mútuo. Não importa se você é um objeto sexual, um objeto decorativo ou uma estátua: isso não é da conta de ninguém se você escolheu isso.

2-Assediar sexualmente pessoas na rua.
É uma objetificação nociva porque as pessoas assediadas não dão autorização para serem avaliadas, tocadas ou molestadas como se fossem objetos de uso público. Aliás, essa é uma das razões principais para a invenção desta palavra.

3-Alguém adotar posturas corporais consideradas 'sensuais' em comerciais.
No meu ponto de vista, não é uma objetificação nociva, isso porque os modelos e atores que fazem comerciais estão ali porque querem. Além disso, sensualidade não é "objetificação sexual". Qual é o problema de uma mulher ser sexy? Corpos bem definidos também não são objetificação sexual. Se querem proibir esse tipo de publicidade, usem outro argumento, como o do respeito à moral e aos bons costumes, mas o de objetificação é muito forçado.

4-Mostrar um comercial onde homens invisíveis atacam as mulheres.
É a encenação de uma objetificação nociva, porque está sendo representado no comercial um tratamento de objeto a pessoas sem que elas queiram. Mas o comercial, em si, não está objetificando as atrizes e modelos, pois elas consentiram em participar dele.

5-Avaliar publicamente os corpos das pessoas.
Sim, isso é uma objetificação nociva, porque ninguém é objeto para ser publicamente avaliado com assobios, cantadas grosseiras ou gestos obscenos. Podemos avaliar mentalmente as pessoas ou até comentar algo sobre elas de forma privada, mas fazer isso de forma pública e descarada não é apenas objetificação, é uma tremenda falta de respeito.

6-Se vestir de forma sexy, tornando-se o objeto de desejo e prazer de outras pessoas.
Não existe objetificação alguma nisso. Se alguém se ofende com isso, por favor, se mude para o Afeganistão.

Madonna: sensualidade ou objetificação?

Abaixo vou deixar um vídeo excelente sobre o assunto que ajuda a dar uma ideia melhor sobre o panorama geral do tema proposto:



Sensualizar objetifica?
Como foi dito no início do post, frequentemente as pessoas confundem a "coisificação" (que é o mesmo que objetificação) com sensualidade, achando que isso é "objetificação sexual". Alguns religiosos adoram esta confusão (e a fazem de propósito), porque a moral cristã detesta nudez e sensualidade por razões óbvias. Queira ou não, o nosso corpo ainda é a maior fonte de atração sexual graças ao dimorfismo sexual, então o "meu corpo não é objeto para ser desejado" não passa de uma aberração como discurso lógico. Toda mulher é livre sexualmente e nada e nem ninguém deve ficar regulando como ela deve se vestir ou se comportar. Já a tal "hipersexualização" do corpo feminino sempre me pareceu uma ideia deveras moralista e totalmente arbitrária e subjetiva. E moralismo por moralismo, todos eles não passam de um chorume reacionário. A sensualidade, queiramos ou não, é a nossa melhor arma de conquista no mercado sexual.

Nem tudo é objetificação

O papel da religião na objetificação
Os religiosos moralistas pegaram esse conceito de objetificação e o distorceram ao seu bel prazer, tentando fundi-lo à força com o mandamento "Não desejar a mulher do próximo". Daí que qualquer banner com mulheres em poses "apelativas" ou com "roupas provocantes" virou alvo de objetificação. E tem muitas mulheres, inclusive feministas, que vão nessa onda, caindo na lábia moralista de quem nunca se importou com elas. O problema é que existe uma diferença abismal entre você ser desrespeitada na rua e entre uma mulher aparecer de roupa sensual num comercial de cerveja. Não bastasse isso, essa ligação de religiosos com a objetificação é tão forte, que o próprio pastor Silas Malafaia a usa de forma rasteira para tentar se aproximar das feministas. E adivinhe só: como solução para isso, a jornalista conservadora Rachel Sheherazade aconselhou num telejornal para "as mulheres se valorizarem" a fim de não serem objetificadas. Pois é...

Burcas evitam a objetificação?
Esse discurso todo lembra bem os países de teocracia islâmica, porque esses países são extremamente machistas e moralistas. Lá não há objetificação da mulher porque tal coisa é considerada imoral – tanto é que as mulheres são forçadas a cobrir o corpo inteiro com burcas. Se os fanáticos religiosos daqui querem transformar o Brasil numa teocracia com essa conversa moralista, então podem pegar o seu aviãozinho e se mudar para o Paquistão, porque o nosso Estado (ainda) é laico.


A sensualidade feminina deve ser abolida?

Causas da objetificação
Responda rápido: o que causa a objetificação da mulher? É a roupa que a mulher usa? É a sensualidade da mulher? É alguma posição ou postura corporal que a mulher adota? É o homem que a deseja? É o homem que a olha? São os homens que a desejam sexualmente? É a mídia machista? A causa da objetificação nociva está no machismo nosso de cada dia. Mas a causa da objetificação em si está nos nossos instintos mesmo, porque ao ser desejada sexualmente, uma mulher automaticamente se transforma num objeto de desejo sexual de quem a desejou. E o contrário também: as mulheres que passam a desejar um homem também estão o objetificando. Daí eu pergunto: qual é o problema nisso? Como poderíamos escolher nossos parceiros sexuais sem levar em consideração a atração sexual que sentimos por eles?

É assim que algumas mulheres se sentem ao serem objetificadas?

Isso não é nada cristão!
A causa original da objetificação foi que as mulheres vítimas de assédio ou incomodadas com os olhares masculinos criaram este conceito por se sentirem meros "pedaços de carne" e por serem julgadas mais pela sua beleza do que pelas suas qualidades intelectuais. Só que aí, como citei anteriormente, vieram os religiosos e tomaram para si essa palavra para atacar qualquer mulher "mal vestida" ou com corpo sensual na mídia – como se isso tivesse alguma coisa a ver. O uso sensual das mulheres na publicidade acabou então virando um bode expiatório e aquela censura moralista dos tempos de ditadura voltou em grande estilo. A religião foi usada para corromper o conceito original da palavra para ajudar a tornar o nosso país mais cristão e menos promíscuo. Lindo, não?

Mas o pior nem é isso: o pior dessa história de objetificação é que o próprio conceito de objetificação é preconceituoso por si só, porque ele é uma mera questão de ponto de vista. Achar que os "homens malvados" querem se aproveitar do corpo das "mulheres indefesas" para enriquecer é totalmente ingênuo, porque a tal mulher "objetizada" é livre para usar sua própria imagem e ganhar dinheiro e até fama com isso. Acusar certas mulheres de serem "vitrines sexuais" é uma forma de condená-las pelos seus trabalhos e por suas escolhas. Afinal, ninguém está sendo desvalorizado por fazer o que gosta.

Erro de diagramação: o que está à venda, a mulher ou o carro?

A censura da objetificação
Corta pra 18!
Eu fico muito preocupado quando vejo algum religioso ou feminista caricata querer abolir dos meios de comunicação qualquer imagem em close da anatomia feminina. Mas vem cá: será que peitos, coxas e bundas não fazem mais parte do corpo humano? Por que não implicam também com closes em rostos, braços e olhos, já que eles também fazem parte do corpo feminino e recebem muitos closes? Uma coisa é a limitarem as mulheres a um par de peitos e uma bunda, outra coisa é aparecer peitos e bundas na tevê: são duas coisas diferentes. E o peito, a bunda e as coxas dos homens? Se aparecerem em destaque, também devem ser censurados por objetificá-los?

Objetificação do homem?
Pois bem, e não achando suficiente toda essa loucura em nome do moralismo, estão vindo agora também com essa história de objetização sexual do corpo masculino. Desculpem a honestidade, mas o objetivo do feminismo não deveria ser de engrossar o coro dos fundamentalistas religiosos e ficar censurando peito e bunda por aí. Ainda que aleguem que as mulheres são colocadas como "vitrines sexuais" na mídia, temos que levar em consideração que todos são livres para expor o seu corpo na mídia (ou fora dela) da maneira que bem quiserem. Não cabe a ninguém regular isso, porque isso faz parte da liberdade individual de cada um. Além do mais, a obrigação de respeitar as mulheres não diminui pelo fato de uma Panicat rebolar seminua na televisão. Se uma pessoa quer ser idolatrada por alguma parte do seu corpo, isso é problema dela. Se você quer ser idolatrado por sua inteligência, então estude ao invés de ficar balançando a bunda na tevê, simples assim. Ou se preferir os dois, que vire então uma Valesca Popozuda. Portanto, isso não tem nada a ver com objetificação, isso é uma escolha de cada um.

Belas mulheres atraem homens para o produto

Objetificação na mídia
Muuuitas mulheres!
Aqui é onde reside a maior parte da polêmica, por isso, vou ter que aprofundar mais neste item. Pois bem: a famosa associação entre mulher e produto apontada pela turma do barulho (religiosos, feministas, moralistas, conservadores e afins) em comerciais de tevê desconsidera que os homens (seja por razões evolutivas ou culturais) procuram se relacionar sexualmente com o maior número possível de mulheres. Os publicitários sabem perfeitamente disso e criam uma analogia metafórica entre o ato de usar um determinado produto e de ter (ou conquistar) várias mulheres (seja sexualmente ou não). Ainda mais quando vivemos numa sociedade onde a medida de sucesso para os homens se mede pela quantiade de mulheres que ele seduz.
Muuuitos homens!
Porém, curiosamente, isso ocorre também com relação às mulheres, porque já vi comerciais onde homens também são colocados como objetos a serem conquistados, usados e descartados pelas mulheres. O problema todo é que, do ponto de vista ético, não há nada de errado nisso. Não é errado "consumir" alguém, porque sexo sem compromisso já deixou de ser tabu faz tempo. E daí que um homem que bebe cerveja queira transar com várias mulheres? Ou então o contrário: E daí que uma mulher que use uma marca de lingerie queira "consumir" sexualmente vários homem também? Qual é o problema de transar com várias pessoas sem compromisso, é pecado? Se sexo sem compromisso com múltiplos parceiros fosse tão detestável, nem precisariam ter inventado a camisinha. Ter muitos parceiros e considerar isso um "prêmio" ou "objetivo" também não é errado. Querer paquerar, beijar ou transar com muitas pessoas também não é errado, exceto para os papa-hóstias defensores da moral e dos bons costumes, claro.

Beleza se põe em mesa!
Com relação à questão dos corpos atraentes, qualquer publicitário com mais neurônios que uma samambaia de plástico sabe que eles são um ímã para as pessoas, pois a beleza é um colírio para os olhos. E se sensualizar então... A audiência está garantida! No caso dos comerciais de cerveja, a correlação entre cerveja gostosa e mulher gostosa é uma metáfora que serve para atingir o público-alvo: os homens heterossexuais. E ponha na conta o fato de que o Conar, órgão que regulamenta a publicidade no país, já colocou diversas regras que evitam apelo sexual nas propagandas, coibindo certos exageros. Não é proibido aparecerem mulheres bonitas e sensuais, o que é orientado é para se evitar o apelo sexual desnecessário.

A beleza vende!
Quanto ao fato de tudo isso se opor às conquistas femininas e de fomentar o turismo sexual e a vulgarização da mulher, eu, honestamente, acho isso uma tremenda forçação de barra. É preciso muito malabarismo hermenêutico para  associar esses fatos a um comercial de lingerie ou de cerveja caso ele não tenha um contexto onde rebaixe ou degrade a mulher. Eu acho que as coisas seriam bem piores se as mulheres fossem obrigadas a usar burcas em comerciais para não serem objetificadas. Mas enfim, se querem proibir mulher de biquíni na publicidade (já que eles naturalmente sensualizam a mulher), ok, mas vamos ser coerentes e proibir mulheres de biquini em todos os lugares também, incluindo aí nas praias e nos clubes (Jânio Quadros já tentou isso e fracassou). Não tem sentido proibir certas roupas na praia do comercial de tevê e deixar seu uso livre nas praias da vida real. Se assim for, Salaam Aleikum e vamos mergulhar de vez numa teocracia islâmica ou então retornar à Idade Média.

PS: Eu concordo que não é necessário usar a sensualidade e o apelo sexual para vender produtos, mas também não acho errado que tais recursos sejam usados para o público-alvo certo, no veículo de divulgação apropriado e num contexto adequado.

O vídeo abaixo deixa uma pesquisa sobre o tema:





terça-feira, 1 de abril de 2014

A pesquisa do Ipea e a cultura do estupro


O assunto não é novo, mas a relevância dele é tão indiscutível que não há mais como ser ignorado. Recentemente, uma pesquisa do Ipea mostrou que 65% dos entrevistados são condizentes com a violência sexual nos casos onde a mulher usa roupas que mostrem o corpo. Quando eu vi o resultado dessa pesquisa no jornal, cheguei até a engasgar: como assim concordam total ou parcialmente com uma violência dessas?? E a pesquisa ainda foi mais longe, colocando não apenas as roupas, mas também o comportamento da mulher como fomentador de estupros para a maioria dos entrevistados. A pesquisa é mais ampla, mas eu vou focar apenas nessa questão da violência contra a mulher baseada na roupa ou no comportamento dela – violência esta que recebe o nome de 'cultura do estupro' por culpabilizar a vítima e tratar esta violência como algo aceitável. E se por acaso você acha que o estupro é uma "bobagem", saiba que o estupro é um crime hediondo que tem como objetivo unicamente humilhar e causar sofrimento à vítima. Vamos adiante:

Dados preocupantes
Nem a burca evita o estupro
Eu já disse algumas vezes neste blog que não confio em estatísticas, pois ela podem ser facilmente manipuladas. Mas mesmo se essa pesquisa mostrasse que 1% dos entrevistados fosse a favor da violência contra as mulheres só por causa da roupa delas, ainda assim seria algo alarmante, porque 1% numa população de 200 milhões de pessoas (mantendo a proporção da amostra) daria 2 milhões de pessoas! E o que dizer de 65%? Alguém tem um Lexotan por aí para me acalmar?
Outra coisa bizarra mostrada nessa pesquisa é sobre a avaliação em si das roupas. Como vamos avaliar se uma roupa mostra o corpo "além do necessário"? Será que um estuprador usa uma régua para medir o comprimento da saia das vítimas? Ou será que isso é arbitrário ficando a critério do psicopata que quer praticar a violência? Toda mulher corre o risco de sofrer violência, independente da roupa que usa. Esse foco direcionado para as roupas das mulheres é apenas uma desculpa para livrar os criminosos. A roupa não estupra ninguém, quem estupra é sempre o estuprador.

A culpa é da vítima?
Dor e culpa pela violência sofrida
Pois bem, essa tolerância com relação à violência sexual só mostra o quão doentia e misógina é a sociedade em que vivemos. Mesmo se a pesquisa fosse feita entre criminosos numa penitenciária, esses índices seriam inaceitáveis. Aliás, diga-se de passagem, pesquisas feitas com estupradores comprovam que eles sequer se lembravam da roupa que as vítimas usavam. Eu, como pacifista, repudio toda e qualquer forma de violência, mas nesse caso há um agravante: a culpabilização da vítima. A vítima nunca, jamais, em hipótese alguma pode ser culpada por uma agressão que sofreu! É cruel e desumano aumentar ainda mais o sofrimento de uma vítima de violência fazendo ela se sentir culpada pelo abuso sofrido. Dizer que a roupa estimula a violência é um absurdo, porque se fosse assim os índices de estupro em praias de nudismo seriam estratosféricos – e, em contraponto, o estupro em países onde mulheres usam burcas seriam inexistentes: fatos esses que estão muito longe de serem reais. Isso reflete naquilo que tantas feministas estão cansadas de afirmar por aí: que o terror da cultura do estupro é real. Enquanto as pessoas não compreenderem que a culpa é sempre do estuprador, nossas mães, irmãs, filhas, amigas e netas estarão correndo riscos nas ruas. Por acaso é nesse mundo que você deseja viver? Além disso, esses imbecis inconsequentes que são a favor das mulheres serem atacadas estão queimando o filme dos homens que repudiam esse tipo de atitude. É revoltante você ter que ver mulheres ter medo de você na rua por causa de uma mentalidade misógina que engrossa o caldo dessas pesquisas.

Quer dizer então que elas merecem ser estupradas?

Grupos conservadores dizem por aí que as mulheres hoje em dia se vestem com menos pudor que as prostitutas de antigamente e que isso alimenta o desejo desenfreado do sexo masculino. Sério mesmo? Estranho vivermos numa sociedade onde a maioria é cristã e, ainda assim, grande parte dela tolera ou pratica crimes sexuais, sejam as tais 'encoxadas' no transporte público ou mesmo os estupros. O próprio discurso da objetificação, tão mal usado hoje em dia, acaba se fortalecendo quando as mulheres se sentem objetos prontos para serem atacados por homens maníacos. Enquanto as mulheres não passarem a ser respeitadas como seres humanos, esse clima de insegurança e de medo não desaparecerão.
É claro que uma mulher com menos roupa fica mais atraente, mas isso não dá direitos de ninguém atacá-la e nem justifica qualquer forma de violência. Essa desculpa serve apenas para controlar as mulheres em nome da "moral e dos bons costumes".

Não devemos achar tolerável que o estupro seja algo justificável

Desculpas esfarrapas
Violência não tem graça nenhuma
Quanto ao argumento de que os homens não podem se controlar por causa da testosterona, ou por causa do nosso passado evolutivo, ou seja lá qual for a razão, isso é apenas uma justificativa estúpida e covarde para o estupro. Se fosse assim, homens homossexuais (que também são homens) sairiam estuprando todos os homens sem camisa que vissem pelas ruas – ou será que os homens estuprados nas cadeias usavam roupas "apelativas"? Se um homem está desesperado por sexo, que procure então uma garota de programa, ou uma mulher que tenha interesse recíproco em transar com ele, ou compre uma boneca inflável ou mesmo que se alivie sozinho, afinal, pra que serve mesmo o Redtube?  Reitero: nada justifica a violência contra as nossas meninas (e nem contra os nossos meninos também, afinal, ninguém merece ser estuprado). A principal causa para essa mentalidade, além do machismo, é a impunidade e o medo das vítimas de denunciarem os agressores.

Para os que não foram convencidos ainda, saibam que os abusos sexuais não são toleráveis nem mesmo se uma mulher resolver andar nua na rua. Se uma mulher (ou homem) andar sem roupa pela rua, deve-se chamar a polícia e fim. O respeito ao semelhante continua a existir independente de como essa pessoa se veste ou age. Seres humanos do sexo feminino não existem para serem bonecas infláveis de homens insensíveis ou psicopatas. O respeito não deveria ser um privilégio, mas sim uma obrigação de todos.

Atualização: Mesmo com o erro constatado na pesquisa do Ipea onde "apenas" 26% das pessoas entrevistadas achavam que mulheres com roupas curtas mereciam ser atacadas, esse índice ainda é preocupante. 26% é mais de 1/4 do total, o que é muita coisa. Como disse anteriormente, mesmo que o índice fosse de 1%, ainda seria alto se tratando de valores absolutos.