terça-feira, 28 de outubro de 2014

O legado da direita


O resultado dessas eleições - apesar de ter contrariado a minha previsão de vitória do PSDB - não me deixou alegre e tampouco triste. O PT, apesar de ser um partido menos pior que o PSDB (na minha ótica), está longe de ser um partido ideal. Achei a vitória do PT muito menos catastrófica que um possível retrocesso tucano, mas ainda estou insatisfeito, porque o PT não representa o meu ideal político. Em todo caso, tenho que reconhecer como oficial a vitória do PT, porque ela foi legítima e democrática - fato que nem todos estão aceitando. Ora, se tem uma coisa que me impressionou no final dessas eleições foram as reações beirando a insanidade de diversas pessoas insatisfeitas com o resultado da escolha presidencial. E, não por acaso, muitas dessas pessoas são (conscientes ou não) de direita. Ah, a direita...

A direita fazendo direitices

A direita brasileira e a democracia
A história do Brasil é repleta de golpes de Estado. Para começar, a própria Proclamação da República veio através de um golpe dos militares. E tivemos outros golpes, como o Estado Novo e a Ditadura Militar. E adivinhe quem esteve por trás desses golpes de Estado? Ela mesma: a nossa "querida" elite. E, por excelência, a elite brasileira sempre foi individualista e perpetuadora de diferenças, colocando-se à direita política. O inconformismo que vemos hoje com a vitória do PT nas urnas é um reflexo dessa velha direita que nunca se conformou em ficar tanto tempo longe do poder. Ideias insanas como a divisão do Brasil, separatismo, um novo Golpe Militar, impeachment da Dilma, protestos e até uma guerra civil são ideias que já começaram a ser perigosamente difundidas na internet. Note que essas ideias golpistas no Brasil sempre proliferaram da direita, que adora inventar que a esquerda é que queria impor ditaduras por aqui. A verdade é que a direita não gosta da democracia quando perde uma eleição e ela sempre foi e sempre será separatista, fascista e reacionária. A xenofobia, o racismo disfarçado e o bairrismo infantil que explodiram no final das eleições mostram como a direita é intolerante, medrosa e raivosa. E isso que eu digo não é uma "manipulação maniqueísta", porque quem tem dado mal exemplo foi justamente o pessoal que defendeu o neoliberalismo do PSDB.

He-man e She-ha dando aula de política às olavettes

As mentiras da direita
Muitos direitistas, para não perder o costume, continuam a espalhar mentiras e distorções na internet, alegando (sem qualquer evidência) que o Foro de São Paulo é um esquema para implantar o comunismo, que o Brasil vai virar Cuba, que vivemos numa ditadura bolivariana e outras imbecilidades do gênero. Esse wishful thinking fascistóide é muito perpetuado por conspiracionistas malucos como Olavo de Carvalho que acham que ainda vivemos na Guerra Fria e esquecem que com a internet por perto é impossível que a grande mídia faça lavagens cerebrais nas pessoas. E lamento informar aos saudosistas do regime militar, mas uma ditadura não funcionaria sem acabar com a internet - fora que os EUA não estão interessados em uma nova operação Brother Sam, sem a qual não teria ocorrido o Golpe de 1964 por aqui. E a ideia de impeachment contra o PT também não daria certo, porque o vice de Dilma Rousseff é o Michel Temer, do PMDB, aliado do PT. Ou seja, seria trocar seis por meia dúzia. Já quanto a possibilidade de uma guerra civil separatista, também lamento informar que não daria certo, porque as Forças Armadas e policias são subordinadas ao Estado e eles não organizariam um levante contra o mesmo (sem falar que a constituição de 1988 considera inconstitucional qualquer movimento separatista).
O que esse pessoal inconformado deveria fazer é aprender a perder e entender que a democracia não será destruída mais uma vez por quem nunca teve maturidade política.

Ué, não gostou?
 
Então faz quadradinho de oito!
Rararará!

domingo, 19 de outubro de 2014

Por que não digito 45 nem no microondas


Antes de começar este post, eu quero deixar uma coisa bem clara: não sou militante do PT, não votei no PT no primeiro turno, deixei de votar no PT em duas eleições por conta dos escândalos de corrupção e continuo desaprovando diversas coisas mal feitas pelo Partido dos Trabalhadores. Posto isso, vou explicar por que eu não voto no PSDB de jeito nenhum e por que entre tucanos e petistas, me vejo forçado a votar na segunda opção. Vamos aos principais pontos:

Fidel (com Aécio): "Quem trai o pobre, trai a Cristo."

1 - Questões ideológicas
O PSDB, eu sua raiz ideológica, é um partido social democrata, como sugere sua sigla. E social democracia, para os menos ligados em política, significa ser de centro-esquerda, ou de esquerda moderada. A maior prova disso foi que o ex-presidente do PSDB, Fernando Henrique Cardoso, foi exilado durante a ditadura militar, foi opositor do regime, defendeu as Diretas Já e foi um forte simpatizante de nomes como Fidel Castro e Hugo Chávez. Porém, como a política brasileira está estruturada para favorecer à elite e aos mais ricos (plutocracia), o PSDB acabou então adotando esses "órfãos" da ditadura militar, recebendo apoio político e econômico das classes dominantes que outrora foram pró-ditadura. O que ocorre hoje é que, por conta disso, o PSDB - apesar de sua simpatia pela esquerda - acabou recebendo um apoio massivo da direita conservadora. E a maior prova disso é que os setores mais reacionários estão apoiando a candidatura do PSDB. Banqueiros, acionistas, conservadores, neoliberais, saudosistas da ditadura militar, olavettes, cristãos fundamentalistas e ultra-nacionalistas acolheram o PSDB e o elegeram para representar os seus anseios políticos.
A moral dessa história foi que os tucanos se venderam ao poder e mudaram de lado no tabuleiro político, tornando-se um partido de centro-direita. O resultado dessa 'virada de casaca' ideológica foi que o PSDB se tornou neoliberal, mefistofélico, defensor das privatizações e do mercado e porta voz dos grupos mais abastados da sociedade que querem manter seus privilégios. A maior prova disso é que o PSDB hoje faz oposição a um partido de centro-esquerda, que é o PT. Eu, como um homem de esquerda, acho inteiramente inimaginável apoiar as propostas claramente neoliberais apresentadas pelo PSDB, por isso me resta o menos ruim, ou seja, o PT.
Ex-membros de partidos de oposição, como um dos co-fundadores do PSDB (Luis Carlos Bresser) e o ex-presidente do PSB (Roberto Amaral), hoje declaram apoio à Dilma Rousseff pelos mesmos motivos que eu, sendo esta a prova de que o PSDB (e o PSB) abandonou as suas origens e não está se comprometendo em reduzir as injustiças e desigualdades sociais, sendo cúmplices de uma plutocracia.

Pastor Feliciano: Diga-me com quem andas que eu te direi quem és

2 - Os reaças estão com os tucanos
Os reacionários de direita (coxinhas) estão votando em massa no PSDB porque eles têm bons motivos para odiarem o PT. Muitos deles, como Paulo Eduardo Martins, Rachel Sheherazade, Lobão, Olavo de Carvalho, Marco Feliciano, Silas Malafaia, Jair Bolsonaro, Reinaldo Azevedo e Rodrigo Constantino são paranóicos e estão fazendo o jogo que a direita sempre fez, que é de tentar convencer a grande massa menos politizada que o PT é um grande monstro a ser derrotado. Justamente pela (má) influência dessa gente é que vemos aberrações como pessoas pobres votando em candidatos da direita - ou simpatizando com os mesmos por medo de um fantasioso "Golpe Comunista dos petralhas". Infelizmente, o Brasil é um dos poucos países do mundo onde o pobre vota massivamente na direita, escolhendo assim - com o perdão da expressão - o cachimbo ideal para levar fumo.
Outro grupo pró-tucanos é a nossa "querida" elite. A elite brasileira é uma das mais detestáveis do planeta, porque apesar de viver num país de grandes contrastes sociais, só pensa em ficar mais rica, mais poderosa e em ver os mais humildes mais ferrados para poder sustentar os seus luxos. É impressionante a falta de empatia, a avareza e a soberba de pessoas que defendem uma pseudo meritocracia e o liberalismo econômico somente para manter seu poder e seu esnobismo. Os programas sociais do PT simplesmente criam pânico nessa gente por elas verem que agora os pobres podem estudar na mesma universidade dos seus filhos, andar no mesmo avião deles e ir estudar no exterior. Fora que essa tal "geração nem-nem" (pobres que nem estudam, nem trabalham) causa neles muito desconforto, porque agora não são apenas os playboyzinhos, patricinhas e filhinhos de papai que sobrevivem sem trabalhar. Daí que culpam os programas sociais e o bolsa-família, alimentando ainda mais essa sanha irracional ao PT.

Já ouvi isso antes...

3 - O PSDB não me traz boas recordações
Sei que esse item é bem clichê, mas eu não tenho nenhuma boa recordação do ponto de vista político dos 8 anos que FHC esteve no poder. Como não quero me estender sobre esse assunto, vou deixar alguns vídeos abaixo que mostram por si só porque o governo do PSDB mais parecia um filme de terror:





4 - Aécio não é flor que se cheire
O candidato tucano diz que é oposição, mas foi a favor do Marco Civil; tentou censurar a internet; teve a carteira de trânsito apreendida por recusar fazer o teste do bafômetro e estar com o documento vencido; agrediu sua acompanhante numa festa; gastou quase 14 milhões para construir um aeroporto no terreno de um parente - isso sem falar na estranha fama que muitos mineiros o deram de "cheirador". Em matéria de boa índole, este está bem aquém do que eu desejaria para um presidente da república.

Fontes:
Sobre o Marco Civil
Sobre a censura da internet
Sobre a CNH apreendida
Sobre a agressão a uma mulher
Sobre o aeroporto
Sobre o helicóptero

Aécio Never

Tópico bônus: Quem vai ganhar essas eleições?
Na minha opinião, quem vai vencer essas eleições, infelizmente, é o PSDB. Não é o que eu quero, mas é o que eu acho que vai acontecer por uma série de razões. A primeira razão foi que o PT perdeu forças relevantes na sua base aliada. Partidos como o PSC e o PSB abandonaram o PT e estão apoiando o PSDB. A segunda razão pela qual o PT provavelmente vai sair derrotado é que houve um racha no PMDB, onde a decisão de apoiar o PT em 2014 foi muito controversa, sendo que quase metade do PMDB não vota no PT. A última razão pela qual eu acho que o PSDB vai vencer é a forte rejeição que o PT tem, especialmente entre a classe média mais abastada. Vai ser uma vitória apertada, mas acho difícil que o PSDB perca dessa vez. Espero que eu esteja bastante errado...

Os reaças estão com a faca e o queijo na mão

Se realmente for eleito, desejo ao candidato Aécio um bom mandato e que ele possa corrigir os erros de administração do PT, mas tenho poucas esperanças que ele possa dar continuidade à redução das desigualdades econômicas iniciadas pelo governo Lula porque ele é um neoliberal. Também tenho poucas esperanças que ele e seus ministros (ah, Armínio Fraga!) tenham discernimento necessário para evitar todas as lambanças feitas por FHC. O meu temor em um governo tucano é o desemprego, arrocho salarial, juros altos e acentuação das desigualdades. Portanto, é bom lembrar que a vida de Aécio Neves não será fácil como presidente, porque o congresso nacional tem a maioria de oposição ao seu partido e também quase metade dos brasileiros não deu seu voto a ele. Espero que ele governe não apenas para os que o elegeram, mas para todos os brasileiros.
E para finalizar, uma frase do nosso querido Chico, que sintetiza em poucas palavras o verdadeiro significado do confronto entre PT e PSDB nessas eleições:


quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Uma Luciana incomoda muita gente...


Toma!
Um fato que me chamou atenção nessas eleições de 2014 foi o rebuliço que a candidata Luciana Genro, do PSOL, causou nos meios de comunicação e, sobretudo, nos conservadores de direita. Um exemplo disso foi o blog da Veja, onde o colunista Rodrigo Constantino dedicou vários posts para criticar a candidata. Entre as muitas críticas, vi coisas bem clichês, como a suposta "simpatia" da candidata por regimes de esquerda, que ela faz parte da "esquerda caviar", que suas ideias são "insanas demais", que ela é uma "linha auxiliar do PT", que ela é uma "filhinha de papai mimada", que ela é louca, etc. Ora, para um partido pequeno como o PSOL estar ganhando tanta atenção assim - especialmente da oposição de direita - é porque algo nele está incomodando bastante.
Apesar de ter recebido menos de 2% dos votos, a candidata do PSOL conseguiu abordar vários temas polêmicos e atacou diretamente os interesses das grandes corporações (quem não se lembra quando a Luciana atacou a Globo no próprio debate da Globo?). Isso, sem dúvida, foi algo que muitos socialistas sempre quiseram fazer, mas nunca tiveram oportunidade ou coragem para tal. Esse comportamento revolucionário da Genro provavelmente suscitou em muitos reacionários o velho medo do bicho-papão comunista que se esconde debaixo da cama deles. Interessante notar também que uma parte do ódio irracional ao PT também foi direcionado para o PSOL por conta da postura antifascista que o partido têm tomado nessas eleições. Isso tudo mostra mais uma vez que os reacionários de direita estão com um pouquinho de receio do pequeno PSOL, parecendo esse embate uma espécie de duelo entre Davi e Golias. A grande verdade nisso tudo é que o socialismo destrói as grandes fortunas, o individualismo e a cultura consumista. Os reaças morrem de medo que o país acorde, por isso o PT e o PSOL são tão odiados por essa gente. Essa é a razão pela qual o PSOL está sendo tão criticado por essa turminha que só sabe falar de meritocracia, privatizações e livre mercado.

Toma você também!

E tome mais!
Agora falando em termos de realidade, é claro que o PSOL é um partido que precisa amadurecer, saber fazer alianças e parar de se agarrar a utopias marxistas que nunca deram certo. Também é necessário que o partido foque em questões de interesse da grande massa, porque a maioria da população proletária não está querendo saber de utopias ou de revoluções socialistas, mas sim de melhorar a qualidade de vida. Eu votei na Luciana Genro no primeiro turno como protesto e também por sua coragem em abordar temas mais "polêmicos", como os direitos dos LGBT - porém reconheço que ainda é necessário um grande salto de qualidade para que em outras eleições o PSOL tenha chances reais de disputar a presidência.
Mas o que realmente deve preocupar os comunistofóbicos é que a Luciana Genro não é a única a querer socialismo com liberdade. Foram mais de 1,6 milhões de pessoas que compartilharam com os seus ideias ao digitar 50 na urna eletrônica - e a tendência é que esse número aumente ainda mais nas próximas eleições. Se uma Luciana sozinha incomoda muita gente, imagine mais de um milhão e meio de 'Lucianas'?
Não gostou? Então #chupareaça!

E aí, vai encarar?

sábado, 11 de outubro de 2014

PT vs PSDB: a velha polarização está de volta


No post anterior, eu havia dito que não falaria sobre política em época de eleição, mas já que o primeiro turno acabou e a minha candidata está fora, não vejo mais sentido em me manter silêncio sobre o tema. Neste post, eu pretendo traçar um paralelo entre PT e PSDB, mostrando os prós e contras de cada lado e abordar diretamente sobre alguns aspectos dessa polarização que já dura 20 anos.

PSDB - Os prós
Quando FHC assumiu a presidência em 1995, o Brasil estava atravessando uma forte instabilidade econômica e vinha de vários planos econômicos fracassados (cruzeiro e cruzado). O PSDB conseguiu a façanha de manter a moeda estabilizada diante de turbulências e de dificuldades diversas. Tivemos também os programas Bolsa-Escola e o Auxílio-Gás, que beneficiaram muita gente carente. Além disso, a economia mais aberta do governo FHC foi responsável por algumas privatizações importantes, como a da Telebrás. O ponto mais forte do PSDB durante os 8 anos no poder foi o aspecto econômico, que, apesar dos altos e baixos, no geral, conseguiu evitar que uma super inflação voltasse a causar terror no país.

PT - Os prós
O grande feito do PT foi o assistencialismo e a redução sistemática das desigualdades sociais. Programas como o Bolsa-Família, o Luz Para Todos, o ProUni, o Mais Médicos, o Minha Casa Minha Vida, o Pronatec, o Fies, o Ciência sem Fronteiras, as cotas em Universidades e o aumento expressivo na quantidade de Universidades Federais mostraram que o PT não estava para brincadeira. Fora que o Brasil pagou a sua dívida com o FMI, os aumentos salariais passaram a ser mais expressivos, milhões de brasileiros saíram da linha da pobreza e as empregadas domésticas tiveram leis que as tratassem como trabalhadoras e não mais como semiescravas.

PSDB - Os contras
Quem não tem memória curta deve lembrar bem que durante os 8 anos de FHC tivemos muito, mas muito desemprego, aumentos ridículos no salário mínimo, escândalos de corrupção abafados, crise energética, ameaça de apagão, baixo investimento em educação, o país teve que recorrer várias vezes ao FMI e até os aposentados foram chamados de "vagabundos" pelo próprio FHC. Mas a maior lambança que o governo do PSDB fez mesmo foi a privatização da Vale do Rio Doce. A Vale foi subavaliada e vendida a um preço muito abaixo do custo sob a suspeita de vários escândalos.

PT - Os contras
As alianças feitas pelo PT e o financiamento de megaempreiteras acabaram deixando o atual governo refém de um centrismo político que acabou mantendo os privilégios dos 1% mais ricos e da elite burguesa. Entre os aliados bisonhos que o PT conquistou, tivemos nomes como Maluf, Sarney, Calheiros e Collor, que por si sós já são autoexplicativos. Infelizmente, o PT continuou seguindo a linha conservadora dos antecessores, sem sequer abordar os temas progressistas. E, claro, tivemos inúmeros escândalos, como o Mensalão e a corrupção nos Correios e na Petrobrás. O PT foi responsável também pela criação e aprovação do Marco Civil da Internet, que na minha opinião foi uma anedota que favorece a possíveis censuras e - falando em censura - algumas emissoras de TV afastaram alguns de seus funcionários por terem contrariado ou criticado o governo. Outro ponto que raramente vejo ser debatido sobre o PT é a eternidade que a transposição do Rio São Franscisco tem levado para ser concluída, o que aumenta o orçamento e adia algo que era para ter sido terminado há tempos.

Pois é, não tem virgem na zona...


Colocando na balança
Fazer comparações entre esses os dois partidos é algo que exige um pouco de cautela pelo fato deles terem administrado o país em momentos sociais e econômicos muito diferentes. No governo FHC, a prioridade era controlar a inflação; já no governo Lula, a prioridade era erradicar a miséria (lembra do Fome Zero?) e melhorar a vida dos mais carentes. As metas principais dos dois partidos foram cumpridas, ao menos parcialmente. Só que o grande problema dessas comparações com o passado é que agora as prioridades do PSDB mudaram. Ao consultar o atual plano de governo do PSDB, há mudanças positivas que o governo FHC nunca ousou por em pauta. E devido à aliança com partidos muito diferentes entre si, como o PSC e o PV, o plano de governo tucano teve que se modificar até agradar a gregos e troianos. O PT, por sua vez, conseguiu reduzir substancialmente a pobreza e a miséria e tem demonstrado que vai persistir nessa meta, mas também teve que agradar a gregos e troianos devido às suas alianças partidárias, deixando muitas pautas esquecidas.
A impressão que fica para mim, no fim das contas, é que PT e o PSDB, apesar das diferenças, têm sido o mesmo produto, mas com embalagens diferentes, uma vez que ambos estão pendendo cada vez mais ao centrismo político em suas alianças e em seus projetos. Ambos fizeram coisas boas e coisas ruins, mas nenhum dos dois representa uma verdadeira mudança. Por mais que a direita vote no PSDB e a esquerda vote no PT, nenhum dos dois partidos possui mais fidelidade às suas raízes ideológicas e nem representa aquela velha polarização entre direita e esquerda.

Tipo de comentário recorrente após as eleições

Sobre a xenofobia
Quem não vive em outro planeta viu que pipocaram nas redes sociais diversos comentários xenofóbicos e bairristas sobre o resultado das eleições para presidente. Enquanto que o sul, sudeste e centro-oeste votaram majoritariamente no PSDB; o nordeste e o norte votaram em peso no PT. Isso causou uma ira muito grande dos anti-PT contra o nordeste, rendendo comentários preconceituosos sobre as regiões onde o PT foi maioria. O preconceito contra nordestinos e nortistas, que é bem antigo, se tornou mais evidente após saírem os resultados dos presidenciáveis por estado. O que esses bairristas não levam em consideração é que no Rio, em Minas e no Rio Grande do Sul, o PT saiu vitorioso - enquanto que em Pernambuco e no Acre, o PT saiu derrotado. E mesmo que todo o norte e nordeste tivessem votado em Dilma, esse tipo de reação preconceituosa não se justificaria. E para piorar, o próprio ex-presidente FHC soltou mais uma de suas pérolas: "O PT está fincado nos menos informados, que coincide de ser os mais pobres. Não é porque são pobres que apoiam o PT, é porque são menos informados". Discordo que a frase do ex-presidente seja ofensiva ou preconceituosa, até porque realmente foram as pessoas de mais baixa renda que votaram no PT. O problema é que os eleitores do PT não são menos informados - muito pelo contrário - eles são bem informados. Basta ver como o PT melhorou a vida das pessoas mais pobres através de todo o assistencialismo que reduziu (mesmo que suavemente) as injustiças sociais. Pessoas mais pobres de todo o país votaram no PT justamente porque melhoraram de vida, e não por serem menos informadas. E se você acha que só gente "ignorante" vota no PT, acho que deveria perguntar isso a nomes como Chico Buarque, Leonardo Boff, Marilena Chaui e Chico César.

"Aqueles que dizem que aqui estão as pessoas com menos compreensão, com menos educação, que não sabem votar é porque não acompanharam tudo o que vem acontecendo aqui nesta região do Brasil. Nós olhamos com atenção especial pra essa região do país que foi tradicionalmente prejudicada por uma visão elitista do Brasil" (Dilma, sobre o nordeste)

O PT reduziu as desigualdades no nordeste

No caso do nordeste, segundo cálculos do Banco Central, a economia da região cresceu 2,55% no segundo trimestre do ano, na comparação com o primeiro – que já havia mostrado expansão de 2,12%. O nordeste também passou a ter mais indústrias, mais empregos, mais renda e menos gente na miséria - mudanças estas que reduziram o fluxo migratório para o eixo Rio-São Paulo em busca de empregos e melhor qualidade de vida. Tudo isso culminou numa maior votação no PT, porque comparando com os governos anteriores, o PT fez muito mais por essa gente, como explica essa página.

"As pessoas que falam mal do Nordeste não conhecem a região. Dizem que aqui as pessoas são desinstruídas. Nunca estiveram aqui, não sabem que o povo nordestino é mais compreensivo e desconhecem a revolução que aconteceu no Nordeste. Vocês têm que superar esta visão porque o Nordeste cresceu muito nos últimos 12 anos" (Dilma, ainda sobre o nordeste)

Maior medo da elite: ver todo mundo rico

Sobre a elite brasileira
A elite brasileira é a mais mesquinha e detestável do mundo, pois ela é esnobe, conservadora, egoísta, egocêntrica, preconceituosa, sádica, fanática, corruptora, fascista, plutocrata e teocrática. Os membros dessa elite não estão nem aí para o povo ou para o país, só pensam no próprio umbigo. Basta ver que muitos elitistas têm raiva do PT porque agora os pobres estão crescendo, mudando de vida e ameaçando o status dessa gente esnobe. Aécio Neves, o seu PSDB e aliados, queiram ou não, são os representantes mais diretos dos interesses dessa classe dominante e do imperialismo na América Latina. O PSDB, que foi social-democrata em sua origem, hoje se tornou praticamente neoliberal e representante da burguesia. O plano de governo "desburocratizador" do PSDB não é ruim em si, mas peca por apresentar propostas que não são adequadas para um país subdesenvolvido (ou emergente), como é o caso do Brasil. Esse liberalismo econômico camuflado funciona melhor em países mais ricos e com menos desigualdades, mas querer essa política num país de grandes desigualdades é extremamente prejudicial, especialmente para os mais pobres. É por isso que toda a turminha da ala da direita conservadora apoia integralmente o PSDB, apesar do PSDB ser, na visão deles, um partido de "esquerda". Nessa turminha da direita conservadora estão a elite burguesa, a classe média fascista, os neoliberais, os coxinhas e as olavettes. Por mais que neguem, eu vi com os meus próprios olhos que governo do PSDB foi voltado durante os oito anos para a elite. O vídeo abaixo mostra bem como é essa gentalha metida a socialite que vive vociferando dementemente contra o PT:


Claro que entre os eleitores de Aécio há pessoas politizadas e conscientes de sua posição ideológica que votam nele por convicção. A esses não tenho nenhuma crítica porque Aécio é o candidato certo para eles. O que me incomoda mesmo é que entre os que votam no Aécio há aqueles que o fazem apenas por ser anti-PT. O cidadão votar no PSDB porque se identifica, acredita no Aécio, vá lá, mas votar contra só porque está de birra e quer ver a cara do outro quando perder é brincar com o seu futuro e o futuro do país. Esse tipo de voto de gente que só sabe gritar: "Fora petralhaaa!" é uma vergonha total, porque eles se comportam como uma manada de despolitizados sem qualquer consciência ideológica ou partidária que escolheu o PSDB como voto de protesto.
Apesar da maioria das pessoas que votam no PSDB estarem ávidas por mudanças para melhor, creio eu que devido às múltiplas concessões dos tucanos feitas em suas alianças e também pelos rachas ideológicos internos, o PSDB vai mudar muito pouco: isso se de fato mudar para melhor.

Tudo isso para terminarmos na mesma?

Sobre a necessidade de mudança
A maioria do povo votou em candidatos de oposição, o que mostra que há uma grande insatisfação com o que aí está. Partidos que permanecem muito tempo no governo tendem a se acomodar e a fazer chantagens para permanecer no poder. O que o Brasil precisa é de uma grande faxina política, mas trocando o PT pelo PSDB há muito pouco a mudar, porque ainda que sejam diferentes entre si, ambos partidos foram seduzidos para um centrismo corrupto. Mas como no segundo turno não há muita escolha, temos que nos conformar em votar no menos pior. Eu, que sou esquerda de coração, não apoiaria jamais um tucano para presidência, então o que resta para mim é escolher mais uma vez entre o PT ou o voto nulo. Afinal, o PT fez muita coisa errada, detestei e me decepcionei com várias coisas feitas pelo partido, mas o PSDB foi infinitamente pior, pelo menos do ponto de vista ideológico e prático. Ao menos o PT tirou muita gente da miséria absoluta, deu a essa gente a chance de ter uma casa própria e estudar numa universidade - coisas que o PSDB nunca chegou perto de fazer.

E para quem não está satisfeito com nenhuma das duas opções, a solução é se mudar do país.

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Religião e política: uma mistura muito perigosa


As eleições se encerram e agora, finalmente, posso voltar a falar sobre política. Para os curiosos de plantão que não entenderam esse meu silêncio sobre o tema, eu evitei falar sobre política durante o período eleitoral para não servir de "má influência" para ninguém. Não vou comentar o resultado das eleições neste post, vou apenas fazer uma reflexão sobre a grande quantidade de pastores e bispos que se elegeram mais uma vez para o poder legislativo e como isso é perigoso para o país.

Ameaça ao Estado Laico
No estado onde eu moro, os dois deputados estaduais mais votados foram um pastor e um presbítero, e pelo menos mais uns cinco deputados eleitos também eram ligados diretamente a alguma igreja. Ser um deputado religioso não é um problema, mas ser um líder religioso travestido de deputado é, sim, um enorme problema. Essa turma da bancada evangélica não conhece (ou finge não conhecer) o Estado Laico e, frequentemente, cria leis absurdas e barra projetos de leis importantes baseada "na Bíblia". Mas a culpa em si nem é tanto dessa bancada religiosa, porque o erro começa bem antes deles legislarem "em nome de Jesus". A culpa maior é de quem coloca esses fundamentalistas lá: o povo ignorante. Infelizmente, a maioria da população sofreu uma forte lavagem cerebral através de doutrinas religiosas que se julgam soberanas e detentoras da verdade absoluta. E isso ocorreu de modo que qualquer ideia que vá contra os preceitos religiosos estabelecidos acaba sendo considerada má ou demoníaca pelo povão. É triste ver isso acontecer, porque direitos e liberdades que são individuais acabam sendo cerceados por uma pequena parcela de parlamentares fanáticos. Misturar religião com política é sempre desastroso.


Vendo os números para presidente da república, nós temos uma visão mais ampla sobre isso. Os dois candidatos que defendiam liberdades individuais (união homoafetiva, estado laico e descriminalização do aborto e das drogas) receberam menos de 2% dos votos. Isso mostra que o povo brasileiro, de um modo geral, é muito conservador e influenciado por antigos preceitos religiosos. E como a religião não ensina a contestar (muito pelo contrário, condena esse pensamento), então entramos num ciclo vicioso onde as liberdades individuais e os direitos das minorias nunca são aprovados. Se não houver uma ruptura nesse tipo de tradição política, estaremos caminhando a passos largos a favor de uma teocracia.




Apesar de na internet o número de ateus e agnósticos ser bastante alto, a grande massa (principalmente os mais pobres e, consequentemente, mais religiosos) é bastante religiosa e não possui qualquer conhecimento sobre estado laico e direitos de minorias. O povão é facilmente conduzido por seus líderes religiosos por não possuir consciência política, por ter baixo senso crítico e por ser despolitizado. A maioria da população sequer sabe o que um deputado faz e elege sem culpa um fundamentalista para o cargo, achando que está, dessa maneira, fazendo o melhor para país - mas infelizmente está fazendo justamente o oposto. O problema não está em escolher um religioso ou um pastor em si, mas no fato de que, na maioria das vezes, eles recebem uma alta votação apenas por serem pastores. O que ocorre na prática é uma espécie de voto de cabresto onde há uma indicação por parte dos próprios pastores para que seus próprios fiéis votem neles mesmos. E é aí que mora o perigo: pois depois de arrancarem dinheiro dos fiéis, agora querem arrancar dinheiro do país. Fora o risco de serem fundamentalistas.

Irreligiosos são minoria

Por que é tão difícil separar religião e política?
A religião cristã está tão fortemente enraizada na nossa cultura, que qualquer coisa que viole os seus dogmas é considerado errado pela maioria da população, mesmo que esse algo "errado" não viole nada na constituição. E é aí que está o problema, porque a sociedade passa a ser legislada pelas leis cristãs. Um Estado que deveria ser laico acaba então se tornando um escravo dos dogmas cristãos. Infelizmente, os políticos, para se elegerem, precisam sempre estar de acordo com o que pensa a massa cristã, do contrário, jamais se elegeriam. E isso gera um ciclo vicioso que não tem como ser quebrado enquanto a população não parar de sofrer lavagem cerebral e não entender o que é um Estado Laico.
Existem outros aspectos intrínsecos que fortalecem a religião e que contribui muito para que ela continue a ditar indefinidamente as nossas regras sociais e políticas, que são: 

1-Controle sobre a vida e a morte
O medo do desconhecido e a esperança de haver outra vida faz as pessoas se apegarem cada vez mais à religião.

2-Fator hereditário
Além de passar de pai para filho, já que os filhos quase sempre copiam a religião dos pais, a religião também depende do local de nascença de cada pessoa. Uma pessoa dificilmente seria católica na China ou hinduísta no Brasil.

3-Monopólio das virtudes
Altruísmo, amor, esperança, caridade, solidariedade, benevolência e humildade são aspectos positivos presentes em todas as religiões com conteúdo ético. Isso por si só é algo muito bom, porém essas qualidades não são exclusivas da religião. O grande problema é que a religião se utiliza do monopólio dessas virtudes para manter o seu poder. Ninguém precisa ser religioso para se bom: pena que a maioria das pessoas religiosas não consegue entender isso.

4-Condições sociais
Países mais pobres tendem a ser mais religiosos. Note que os países escandinavos, por exemplo, têm um índice de descrença religiosa muito elevada. Enquanto o país não tiver altos índices de educação e baixos índices de pobreza, a religião vai continuar escravizando ideologicamente as pessoas mais necessitadas e que só têm como esperança de vida melhor as próprias promessas da sua religião.

A verdade é que enquanto o Brasil continuar sendo um país repleto de desigualdades e com uma educação ruim, a chance de nos tornarmos uma teocracia sempre estará presente.