quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

2020 nunca mais


Se daqui a uns 30 anos os jovens que não viveram nesta época me perguntarem como foi esse ano fatídico de 2020, eu vou ser franco: 2020 foi um ano para ser esquecido. Foi ameaça de guerra nuclear, incêndios florestais, explosão no porto de Beirute, vulcões adormecidos acordando, chacina de negros causando revoltas, feminicídio batendo recorde, muitas mortes, olimpíada adiada e a terrível pandemia da Covid-19. Tudo isso porque eu nem considerei que tivemos neste ano o pior governo da história, com um mentecapto negacionista na presidência que contribuiu para a morte de milhares de brasileiros com suas declarações irresponsáveis e atitudes psicopatas. Se bem que nem dá para se animar muito para 2021, porque o desastre continua para os brasileiros. É nessas horas que eu tenho inveja dos otimistas, porque o futuro não me parece nem um pouco animador.

terça-feira, 29 de dezembro de 2020

A tal direita anticapitalista


Sim, eu sei que parece uma contradição muito grande você ler as palavras "direita" e "anticapitalista" formando uma única expressão. Isso porque a direita, tradicionalmente, está ligada ao capital, ao status quo, à hegemonia das classes dominantes e à exploração da classe trabalhadora. Acontece que, de uns tempos para cá, tenho observado várias pessoas autodeclaradas de direita em fóruns e redes sociais que perceberam que o capitalismo não é perfeito e que elas têm muito a perder com este modo de produção. Daí você pode se perguntar por que essas pessoas não se tornam de esquerda. Mas é aí que está o ponto interessante. As pessoas que se consideram de direita, no geral, possuem aversão à esquerda, ou pelo menos ao que elas reconhecem como sendo de esquerda. Para muita gente, a esquerda nada mais é que uma mistura rocambolesca de coisas ruins envolvendo lacração (politicamente correto), corrupção, cristofobia, stalinismo, ditadura, perda de liberdade, defesa de bandidos, Estado máximo, fome, igualdade forçada e outras coisas mais. Agora imagine que uma pessoa que é tradicionalista, cristã, conservadora, pró-meritocracia, a favor da propriedade privada e da desburocratização estatal percebendo que o capitalismo destrói o meio ambiente, promove guerras, causas crises frequentes, privilegia oligarquias, causa miséria e favorece o capital especulativo. Pronto, nasce aí a direita anticapitalista. Essa galera percebeu que há também uma falsa dicotomia entre socialismo e capitalismo, tendo em vista que outros sistemas surgiram ao longo da história, como os modos de produção primitivo, asiático, feudal e escravista. E olhando para o futuro, há possibilidades diversas além do socialismo e do capitalismo, como o cooperativismo, a economia baseada em recursos, a automação total da mão de obra, o anarquismo e outros sistemas que podem ser teorizados. 

O que eu quero chamar atenção para essa direita anticapitalista é que ela precisa ser orientada de forma cautelosa para não cair nos fascismos da vida, porque ser contra "tudo que está aí" é uma ideia despolitizante. É preciso também acolher – ou pelo menos criar um diálogo – com essas pessoas, porque queira ou não, elas também são, de certa forma, antissistema. Elas não estão satisfeitas com essa desgraça toda que está aí. Isso só mostra a necessidade urgente de mudarmos o mundo para melhor de forma que atenda aos interesses da maioria dos seres humanos, e não de grupos minoritários poderosos que controlam o Estado e a economia contra os nossos interesses.

domingo, 27 de dezembro de 2020

Salve-se quem puder


2020 foi um ano terrível. Isso é um fato. Mas o pior mesmo está reservado para o início de 2021. Nos primeiros meses de 2021 teremos um agravamento ainda maior da segunda onda da pandemia, não teremos vacinas, não teremos o auxílio emergencial e o psicopata negacionista que brinca de presidir o Brasil não está nem aí. Isso porque eu nem mencionei o desemprego e a inflação. Pois é, meus amigos, agora é que teremos que ser fortes. Desejo força e sorte a todos.

Papo reto: porque não casei e nem casarei


Para começo de conversa, o amor romântico não existe: ele é uma ilusão idealizada pelo patriarcado. Esse "amor" romântico presente na cultura ocidental é um sentimento invariavelmente egoísta, imediatista e possessivo – exatamente o oposto do amor ágape que envolve doação, desapego, entrega e sacrifício. Já o casamento monogâmico é um contrato oficializado pelo Estado burguês patriarcal que recebe a bênção de outra instituição patriarcal: a igreja. Ora, duas pessoas se apaixonam, resolvem morar juntas, acreditam que serão felizes para sempre e acham que isso é amor. Por favor... tenha paciência. Se eu tivesse me casado, seria um sujeito infeliz, desiludido, chifrado, abandonado e tendo que pagar pensão para filhos que nem sequer teria o direito de ver. E quando um casamento não dá certo o que as pessoas fazem? Casam-se novamente. Que desperdício. Aí têm que aturar novamente brigas, abusos, perda de liberdade, intimidade invasiva, rotina desgastante, inferno com a família, burocracia com o divórcio... E no meu caso, que sou um sujeito que ama a solitude, a minha própria companhia, é inconcebível viver ao lado de alguém. Não me entendam mal, eu gosto das pessoas, só detesto relacionamentos. Liberdade, autonomia, privacidade e paz só existem para mim quando estou sozinho. 

Essa conversa de que precisamos de uma cara-metade para sermos felizes é tudo balela. Só gente que não se ama ou que tem baixa autoestima é que acredita nos romances idealizados de novelas, filmes e músicas da cultura patriarcal. Durante as sociedades matriarcais primitivas, ninguém era de ninguém e todos eram livres para amar e estar com quem quisesse sem a necessidade de compromisso ou de dividir o mesmo teto. É óbvio que a dinâmica da sociedade mudou do mesolítico para cá, mas ninguém precisa casar mediante contrato e achar que será um conto de fadas. A dica que eu dou é que as pessoas procurem curtir um pouco a solitude, a própria companhia. Temos necessidade gregárias básicas típicas da nossa espécie, mas elas podem ser supridas por amigos, familiares, animais de estimação, inteligências artificiais e até mesmo profissionais da área da psicologia. Estar só traz autoconhecimento, bem-estar e sabedoria.

Enfim, estar só não é condenação: é libertação. Se dê uma chance, vai por mim, você vai gostar de se amar. Namastê.

terça-feira, 15 de dezembro de 2020

Coisas de um mundo capitalista


 

Ao dar uma olhada no mapa global de vacinação contra a Covid-19 (acima), dois pontos ficam bem claros. O primeiro é que os países ricos, os tais países de "primeiro mundo", lideram uma hierarquia hegemônica em relação ao resto do planeta. Essa hierarquia é um dos problemas estruturais do capitalismo, porque nesse sistema sempre haverá a falsa ideia de superioridade de pessoas e países supostamente mais "desenvolvidos". A hegemonia sistêmica leva, na prática, a privilégios injustos de certas populações, enquanto que o resto do mundo fica em segundo plano. O segundo ponto a ser observado é que países de moral conservadora, teocráticos, autoritários e politicamente instáveis (repúblicas bananeiras) possuem graves problemas na organização da estrutura básica da sua saúde pública. Não é por acaso que o aborto, por exemplo, é ilegal praticamente nos mesmos países em que não há calendário de vacinação contra o coronavírus. Inclusive, aproveito a oportunidade para deixar um mapa sobre o aborto no mundo logo abaixo, onde os países em azul possuem o aborto legalizado e as demais cores mostram países em variados graus de ilegalidade para a interrupção da gravidez.

Mapa do aborto

No caso do Brasil, fica claro que um país que não respeita a laicidade do Estado, que possui um negacionista irresponsável na presidência da república e que é malogrado pelo imperialismo não tem a menor condição de ingressar no primeiro mundo. Mas saiba que você não é azarado por ter nascido no Brasil. Não é questão de sorte. Você e todas as pessoas desprivilegiadas do mundo foram condenadas propositalmente a viver sob um sistema que mantém privilegiados às custas dos excluídos. É por isso que insisto que o melhor jeito de resolver os problemas do mundo é mudando para um sistema melhor e mais justo que essa porcaria desigual baseada no acúmulo de capital. Ninguém deve depender de localização geográfica para ter acesso à saúde básica. Ou o mundo se torna mais justo através da nossa luta, ou seremos todos "azarados" para sempre.

sábado, 12 de dezembro de 2020

A solidariedade sozinha não muda o mundo



Todo natal é a mesma coisa: chovem campanhas solidárias de doação de cestas básicas, de brinquedos, de roupas... Gestos de altruísmo, de compaixão, de carinho, de empatia são indispensáveis em um mundo cruel, individualista e desigual como o nosso. O problema é que a solidariedade sozinha jamais irá mudar de modo permanente a vida das pessoas mais carentes. Depois que o natal passar, as pessoas menos favorecidas voltarão a sentir frio, fome e angústia. E mesmo que fosse possível ajudar essas pessoas durante o ano inteiro, isso não mudaria a realidade delas. As injustiças sociais continuam seguindo implacáveis e dar o peixe é muito menos eficiente do que ensinar as pessoas a pescarem. Temos que entender que a solução para resolver os problemas da pobreza, da desigualdade e das injustiças sociais passa, invariavelmente, pela política. Somente através de um sistema focado no social e na igualdade é que vamos tornar desnecessária essa "bondade" de fim de ano. Aliás, muita gente usa essa "bondade" ocasional como marketing pessoal para mostrar que é boa cristã. Se quisermos uma mudança real, ela tem que ser estrutural, a começar pela mudança na mentalidade das pessoas que preferem ficar ricas ao invés de ver um mundo mais justo para todos. Não temos que lutar por um mundo mais solidário; temos que lutar por um mundo mais justo. O bem-estar da coletividade deve estar acima de ações filantrópicas individuais.

CyberFlop 2077


 
Cyberpunk 2077, um dos jogos mais aguardados da história, chegou e o que vimos foi uma verdadeira tragédia. Um festival de crashes, bugs, glitches, má otimização, texturas horríveis, fps baixo, falta de dublagem em português e muita reclamação dos gamers. A versão do PC, apesar dos incontáveis problemas, foi a menos problemática. Mas a bronca séria mesmo foi nos consoles bases (Playstation 4 e XBOX One). O game parecia um pré-alpha produzido de qualquer jeito nos consoles da geração passada, tornando a experiência tão ruim que muitas pessoas desistiram de jogá-lo e chegaram a pedir reembolso. A coisa foi tão feia que as ações da CD Projekt Red, produtora do game, cairam em 20%. Enfim, nunca se viram tantos problemas no lançamento de um game que claramente precisava de mais tempo para ser otimizado e polido. 

Gráficos do PS4 no lançamento do game.

Quem jogou The Witcher 3 (último jogo produzido pela CD Projekt, em 2015) no lançamento teve que encarar muitos bugs e problemas também. Mas o caso do Cyberpunk foi muito pior, porque o game não dura nem 10 segundos sequer sem aparecer um bug ou problema técnico nos consoles base. A ambição da CD Projekt foi grande demais em produzir um game tão grande e complexo para tantas plataformas diferentes ao memo tempo. Esse game tinha que ter saído apenas para PC e para as gerações atuais, mas na ganância de vender mais jogos, tentaram produzir também para a geração passada um jogo que claramente não tinha condições de rodar direito nela. E com o tempo apertado para lançar o game, aí que as coisas saíram mais feias ainda. Eu acredito que pelo profissionalismo e pelo histórico da empresa, nós teremos, sim, um jogo melhor daqui a uns seis meses após vários patches de correção. Mas por hora, está praticamente impossível desfrutar de uma experiência bacana com um jogo tão mal acabado.

É rir para não chorar.

A minha experiência com o game não foi nada boa. Eu tentei jogar no PC, mas como eu uso o Windows 7, o jogo fechou sozinho dezenas e dezenas de vezes. A CD Projekt esqueceu de colocar nos requisitos para PC que o game necessita do Directx 12 para rodar. E o Directx 12 é nativo apenas do Windows 10. Ele só funciona no Windows 7 na base da gambiarra que eu até tentei fazer, mas que não resolveu o problema dos crashes. Fora que mesmo rodando com os drivers de vídeo mais recentes, a 720p e com tudo no low, o game ficava a maior parte do tempo abaixo dos 30 fps. Sem mencionar, claro, os bugs de tudo quanto é tipo que eu vi e que atrapalhavam a imersão. Joguei uma vez só, por cerca de 2 horas como Street Kid, e apesar de ter gostado do prólogo e da dublagem em português brasileiro, não achei a jogabilidade muito intuitiva e os menus do inventário me pareceram confusos. Como o jogo continuou dando problemas e crashando, achei melhor desinstalá-lo e só voltar a jogá-lo depois que ele tiver recebido vários patches e updates de correção que tornem o game estável.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

Politizar as massas não é tão fácil quanto parece

 

É engraçado ver como muitos intelectuais encaram com um romantismo ingênuo a possibilidade de se criar revoluções a partir da periferia. Causar uma modificação profunda e radical no sistema através do trabalho de base não é algo fácil como muitos teorizam por aí. A luta da esquerda não é apenas contra o sistema capitalista, mas também contra as estruturas locais de poder que ajudam a sustentar esse mesmo capitalismo. Boa parte das periferias é controlada por mandachuvas do poder paralelo, tais como coronéis, traficantes, milicianos, líderes de seitas religiosas, organizações criminosas, torcidas organizadas... É muito wishful thinking achar que basta a esquerda fazer um trabalho de base nas periferias para iniciar a mudança rumo ao socialismo ou outro sistema que o valha. Mas não é bem assim que as coisas funcionam na prática. Será necessário lidar antes com esses grupos de poder local. Não dá para ficar pagando "pedágio" para traficante sempre que entrar numa favela para "politizar" a população. Fora que a própria população, no geral, tem enraizado um pensamento muito nocivo, que é a de se tornar opressora. É muito comum ver gente pobre se inspirando nos magnatas, nos ricos, nos coronéis e até nos traficantes. Aliado a isso, tem o pensamento consumista, de ostentação, que é natural do ser humano. Enfim, para combater as grandes estruturas de poder da burguesia, temos que pensar antes em como lidar com as pequenas estruturas de poder local. Talvez a educação, as artes, o trabalho voluntário, os esportes ou até mesmo as igrejas possam ser nossos aliados nesse sentido. É preciso furar esse bloqueio que impede que as pessoas tenham o pensamento certo para mudar a vida delas e a história do país.

terça-feira, 8 de dezembro de 2020

A pandemia ainda não acabou


Aquela cena icônica da idosa britânica sendo a primeira pessoa do ocidente a receber a vacina contra a Covid-19 realmente nos encheu de esperança. Apesar de todo negacionismo científico e das teorias conspiratórias antivacina, as vacinas são uma realidade e salvarão milhões de vidas. O problema é que a vacinação ainda está longe de chegar ao Brasil. Com um desgoverno assassino que politizou a vacina, que aparelhou a Anvisa e que agiu de forma irresponsável durante toda a pandemia, as nossas expectativas não são nada boas. E para piorar, a população em geral também parece ter se cansado do isolamento social e das medidas preventivas. Isso coincide também com o início da segunda onda da pandemia. Temo que as coisas sejam ainda mais terríveis agora. Além de não termos a vacina, temos desemprego, descuido, descaso e até mesmo o auxílio emergencial chegou ao fim. Não acredito em milagres, mas parece que terei que rever meus conceitos se quiser ter um pingo de otimismo daqui para frente.

domingo, 6 de dezembro de 2020

Cyberpunk 2077 vem aí


No dia 10 de dezembro de 2020, após vários adiamentos, será finalmente lançado o esperadíssimo game Cyberpunk 2077 para diversas plataformas. A empresa que desenvolveu o game, a maravilhosa produtora polonesa CD Projekt Red, a mesma da série The Witcher, prometeu que este RPG de mundo aberto em primeira pessoa irá superar em qualidade e complexidade o game anterior da empresa, o premiadíssimo The Witcher 3. O jogo que está em produção há cerca de sete anos será mais orgânico, mais complexo, mais vivo e mais imersivo que o Witcher 3. Aliás, a empresa alegou que The Witcher 3 foi um mero "aquecimento" para este game futurista que teve mais dinheiro investido e uma maior equipe em sua produção, contando com a participação ilustre do criador original do Cyberpunk 2020, o Michael Pondsmith, e também do astro Keanu Reeves interpretando o rockerboy Johnny Silverhand. 

Possivelmente, Cyberpunk 2077 irá superar The Witcher 3 em tudo e não é apenas por ter melhores gráficos, mas pela complexidade das interações, pelos NPCs individualmente trabalhados, pela qualidade das missões secundárias, pelos diálogos, pela imersão, pelas novas tecnologias utilizadas, pelas DLCs gigantes e pelo multiplayer que promete ser inovador. Para os brasileiros, teremos algumas coisas extras interessantes no game que irão além da dublagem no português brasileiro com Lip Sync (sincronia labial), tais como a participação do Ozob (personagem do Azaghal, do jovem Nerd, dublado por ele mesmo) e da banda brasileira Deafkids com a canção Selva Pulsátil.

Em toda a minha vida, eu nunca vi um jogo de videogame tão cheio de hype. Nem mesmo o GTA 5 criou tantas expectativas e falação quanto o Cyberpunk 2077. A coisa foi tão surreal que os produtores do game chegaram a ser ameaçados de morte depois do último adiamento. Eu fiz a minha pré-compra na Steam há um mês (primeira vez que comprei um game na pré-venda) e pelo que vi em incontáveis análises de trailers, certamente o jogo será incrível.

Outro ponto que eu não poderia deixar de citar são as criticas sociais existentes no game envolvendo os oligopólios das megacorporações, as críticas ao Estado mínimo, a superficialidade de uma sociedade consumista e o uso abusivo da tecnologia em uma realidade brutal e decadente. Certamente, Cyberpunk 2077 será um divisor de águas na indústria dos games por suas inovações e por sua proposta ousada. Quem viver, verá.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

A esquerda sempre irá perder em um sistema burguês


As eleições burguesas, como bem citou o professor Humberto Matos, do didático canal Saia da Matrix, foram idealizadas e realizadas para a esquerda perder sempre. Isso ficou visível não apenas no resultado das eleições municipais de 2020, mas durante praticamente toda a história republicana do Brasil. Qualquer ideia minimamente à esquerda sempre foi censurada, golpeada ou tratada como um "comunismo terrorista". É verdade que o PT esteve no controle do poder executivo durante mais de dez anos, mas as propostas petistas nunca foram de esquerda propriamente dita quando o partido decidiu levar a sério as eleições. O PT apenas realizou uma "conciliação" de classes sem modificar a estrutura hierárquica do capitalismo financeiro. O PT nunca foi reformista e muito menos revolucionário, porque jamais chegaria ao poder com essas intenções. Apesar dos programas sociais, da redução da desigualdade e do aumento do consumo entre os mais pobres, o PT não é, do ponto vista acadêmico, um partido de esquerda. Aliás, eu afirmo com convicção que não há partidos de esquerda no Brasil que tenham chances eleitorais relevantes. O que temos são partidos de centro (PT, Psol, PC do B), partidos de centro-direita (PDT e PSB) e partidos de direita tradicional (todos os outros). O tal "centrão" que tanto é falado por aí nunca foi de centro: ele sempre foi um arranjo de partidos de direita que defendem os interesses corporativos de bancos, latifundiários, pastores evangélicos e empresas privadas.  

 


O que os meios de comunicação tradicionais da burguesia estão fazendo é aproveitando a conjuntura para tentar ressignificar a palavra "centro". Tratam o PT e Psol como "esquerda", Bolsonaro como "direita" e todo o resto como "centro". Essa confusão só serve para favorecer políticos de direita que querem descolar do Bolsonarismo, como, por exemplo, as principais figuras do DEM e PSDB. Outra conversa que também tem aparecido com certa frequência é a ideia despolitizante de que não existe mais esquerda ou direita. Isso é uma falácia, porque ela só serve para esconder dos incautos a real luta que é a luta de classes. Dentro do capitalismo existe sempre uma classe exploradora (burguesia) e uma classe explorada (proletariado). A esquerda é o único lado que defende os trabalhadores, porque tanto a direita quanto o centro trabalham para manter o status quo. Como no Brasil praticamente só o PT defende os trabalhadores, até por sua base sindical e sua história junto aos movimentos sociais, o que resta para esquerda eleitoral é se reinventar e seguir "enxugando gelo" ao lado do PT, traçando novas estratégias para se eleger e amenizar um pouco as grandes injustiças sociais do capitalismo.

A solução para superar esse círculo vicioso onde a burguesia sempre vence é entender que continuar jogando esse jogo é inútil. É preciso que surjam novas lideranças, novas premissas, novas abordagens e uma mudança real na estrutura do sistema. Somente movendo mentes e corações vamos conseguir por fim a esse ciclo maldito que só será possível quando o capitalismo for, de fato, superado. Temos que seguir fazendo o mínimo que é participando das eleições, mas sem perder de vista o objetivo final que é a criação de um novo modo de produção onde as injustiças sociais sejam eliminadas e onde não existam mais exploradores e explorados.