quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Impeachment não é a solução


É um engano achar que apenas aqueles que votaram contra o PT nas eleições passadas estejam revoltados com o atual cenário econômico do Brasil. As várias pesquisas realizadas mostram que a popularidade da presidente Dilma está baixíssima: fato este que comprova a decepção dos próprios eleitores do PT. Eu, por exemplo, sou uma dessas pessoas, pois votei no PT muito mais pelo medo do PSDB, do que por mérito do próprio PT. Eu sabia que o PT vinha conduzindo a economia de forma perigosa e que uma verdadeira bomba-relógio política estava prestes a explodir - mas considerei possível uma solução alternativa para este problema - solução esta que julguei ser menos amarga que a apresentada pelo PSDB e PSB durante a campanha eleitoral. Ledo engano. O PT está fazendo exatamente o que o disse que não faria, sobrando, mais uma vez, para o lado mais sofrido da população pagar o pato: a grande massa trabalhadora.

Sei que é difícil para muitas pessoas conter a raiva e a indignação pelo PT, seja pela corrupção, pelas medidas negligentes tomadas com relação à economia e pelas mentiras apresentadas durante as eleições. Sei que muitas pessoas perderam os seus empregos, que estamos de mãos atadas diante da disparada do dólar e do aumento da cesta básica, que estamos estarrecidos diante do aumento absurdo dos juros, do aumento sem limites da conta de luz... Mas, apesar de tudo isso, é preciso esfriar a cabeça e pensar de forma racional antes de cogitar a possibilidade de apoiar medidas antidemocráticas para tentar resolver o problema.


O PT venceu as eleições sendo eleito de forma democrática, ponto. Querer arrancar o PT do poder à força porque estamos insatisfeitos é um atentado contra a democracia. O tão falado impeachment não pode ocorrer só porque a maioria da população está insatisfeita ou porque o candidato favorito da oposição perdeu as eleições. O impeachment só deve ocorrer se ficar comprovado que a presidente realmente cometeu algum crime comum ou de responsabilidade, ou abuso de poder. Qualquer coisa fora isso é golpe. É preciso tomar cuidado com essa gente que acusa sem provar nada e com esses sites e blogs que forjam e distorcem notícias para convencer as pessoas do seu ponto de vista. A própria mídia é tendenciosa quando aborda este tema, sendo capaz de repetir todo o clima de golpe de Estado que foi responsável pela queda de João Goulart em 1964 e pelo impeachment de Collor em 1992 - impeachment esse que também foi um golpe, já que Collor foi inocentado por unanimidade pelo STF.
Agora junte um legislativo repleto de parasitas corruptos comprados pela plutocracia (pelo menos 70% da Câmara come na mão da alta burguesia) com a indignação em massa de grupos reacionários de direita (doutrinados por Olavo de Carvalho, bancada evangélica e a turminha da Veja) que temos um clima perfeito para um golpe de Estado. A nossa democracia ainda é muito verde e muito frágil, por isso temos que desconfiar de qualquer pedido de impeachment, afinal, só existem quatro tipos de pessoa que estão contra o PT: os que se preocupam com o futuro do Brasil, os que querem ver o circo pegar fogo, os que querem roubar no lugar do PT e os que querem manter o status quo.
O que temos que fazer é nos unir: mas não para pedir intervenção militar ou impeachment, e sim para evitar que o país entre em colapso dando um golpe duro na própria democracia. Roubando as palavras do jornalista Ricardo Boechat: "Quer tirar a Dilma do poder? Tira daqui a 3 anos, vai ter eleição". Não estou defendendo o PT, estou defendendo a democracia.
E essa nossa união precisa ser feita não para proteger o atual governo, mas sim para evitar que o país se torne ingovernável e afunde ainda mais na crise com greves gerais, inflação fora de controle e desemprego a níveis alarmantes. As coisas não devem ficar piores do que já estão, porque é o povo quem vai sofrer com isso desnecessariamente. Se quer dar o troco ao PT, que seja de forma democrática e nas urnas em 2018.


Sobre as Eleições de 2018
Na minha opinião pessoal, o PT não deveria lançar candidatura própria à presidência em 2018. Acho que o partido "fechou" o seu ciclo na política nacional e também está com a imagem muito desgastada e manchada, o que tornaria desastrosa até mesmo uma possível volta do Lula. Talvez, o ideal seria que o PT apoiasse a candidatura de outros partidos, como o PMDB, o PSB, o PDT, o PPS ou até mesmo o PC do B, formando a base aliada desses partidos. Não estou aqui desconsiderando todas as conquistas sociais que o país teve com o governo do PT: estou querendo apenas preservar a imagem do partido e também dar uma perspectiva de melhora mais profunda para o Brasil. O PT teve o seu momento de importância na nossa história, mas precisamos de renovação, de novas ideias, de novos partidos e de uma nova política.

5 comentários:

  1. "O PT venceu as eleições sendo eleito de forma democrática, ponto. Querer arrancar o PT do poder à força porque estamos insatisfeitos é um atentado contra a democracia."
    Eu poderia ter parado por aqui, mas vou te explicar direitinho: MENTIR PARA SE REELEGER NÃO É DEMOCRÁTICO. O que Dilma fez, estelionato eleitoral, pode perfeitamente ser considerado um GOLPE não só contra a democracia, mas contra a classe trabalhadora. Sendo assim, é completamente anti-ético ser contra o impeachment acusando os articuladores do processo de golpistas, quando o próprio PT contaminou a democracia dando um golpe nos seus eleitores.
    Impeachment da maneira que está sendo orquestrado no Congresso definitivamente não é solução, no entanto, não deixa de ser constitucional, ele só precisa ser minuciosamente averiguado. Entretanto, é legítimo que os trabalhadores construam uma frente de esquerda que vise derrubar o governo federal e a direita presente no legislativo. Se Dilma não está fazendo um governo que corresponda ao programa que ela apresentou durante as eleições, no qual seus eleitores votaram, cogitar a possibilidade de destituí-la é um direito da classe trabalhadora, ainda mais na situação atual, em que ela toma medidas de austeridade unilateralmente, sem o consentimento ou aprovação de quem realmente é dono do poder: o povo.
    Pessoalizando um pouco (meu argumento emocional): desculpa, mas você deveria deixar esse seu quartinho e ver como as pessoas mais pobres de sua região, sua cidade e seu estado, que não é nada rico, estão sofrendo com esse governo lixo. Aí eu queria ver você dizer aos miseráveis da periferia do Recife: "espere até 2018, quem sabe você não morre de fome até lá."
    Corrigindo: o PT venceu de maneira anti-democrática e anti-ética. Corrigir esse erro é um direito de todos que estejam insatisfeitos com o programa do governo, no qual nós NÃO votamos e NÃO aprovamos. Assim, como agentes democráticos impactados fortemente pelo ajuste fiscal, que foi aprovado sem nosso consentimento, nos reservamos o direito de derrubar o Planalto e o Congresso, ambos ocupados por burguesias divergentes, mas que compartilham de um objetivo comum: atacar nossas conquistas e nossos direitos.
    Saudações e cumprimentos.

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    1. Olha, eu não sei o que significa democracia para você, mas se mentir durante a campanha eleitoral fosse "golpe", todos os presidentes - desde Deodoro da Fonseca - teriam que ter sofrido processo de impugnação de seus mandatos. Mas a questão aqui nem é essa. Quem conhece a história desse país sabe que a grande mídia e a elite burguesa não têm interesse em perder seus privilégios. Eles querem que a saída do PT dê espaço para a entrada de quem atende aos seus interesses próprios. O impeachment é a carta tirada da manga para virar o jogo a favor dos interesses deles. Os trabalhadores e a classe média são apenas massa de manobra dessa gente. Se a coisa está ruim com o PT, imagina que delícia vai ser com o reacionarismo econômico do PSDB ou a falta de ética e compromisso político do PMDB. Por mais deplorável que tenha sido o governo do PT, acreditar que um impeachment (articulado por uma Câmara comprada) vai resolver a crise, é algo totalmente pueril. As medidas para resolver a crise, apesar de terem sido fruto da mentira eleitoral do PT, já estão sendo tomadas. A crise vai passar cedo o tarde. Impeachment não foi inventado para acabar com crises, ponto.

      Mudando um pouco o eixo da discussão, a esquerda precisa aprender a ter foco e a se unir. A direita já está toda organizada para "parar o país" no dia 16, enquanto que a esquerda fica assistindo atônita ao desmoronamento do sistema democrático que nos custou tão caro. É a história se repetindo como foi com Collor, onde o povo acha que os "caras-pintadas" foram responsáveis pela saída do mesmo, quando, na verdade, a tensão entre o legislativo e o executivo foi que criou o clima de golpe que injustamente "arrancou" Collor do poder.

      A solução para isso tudo não vem com impeachment, intervenção militar, guerra civil ou qualquer solução mágica a curto prazo. O Brasil precisa dar um "reboot" na sua política, acabando com o financiamento privado de campanhas, criando uma reforma política que seja de fato democrática e colocando essa corja de corruptos inteira atrás das grades. Mas isso não ocorre da noite para o dia, isso é um processo que pode levar muito, muito tempo.
      Enquanto essas mudanças não chegam, temos que aprender a conviver com a elite reacionária acusando a esquerda brasileira de ser golpista, cubana, venezuelana, gayzista, satanista, comunista, internacional socialista do Foro de São Paulo - enquanto arquiteta os seus golpes de Estado contra qualquer coisa que contrarie a sua eterna vontade de manter essa plutocracia.

      PS: sobre os miseráveis da periferia do Recife, pergunte ao PSB o que eles estão fazendo ali disputando comida com os ratos nos lixões após terem suas casas derrubadas pelo governo do estado (governo esse que deu um soco no estômago em movimentos como o Ocupe Estelita). E é claro que um impeachment vai mudar a vida dos pobres miseráveis antes de terem morrido de fome em 2018, nossa, e como vai, hein...

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    2. Qual interesse da burguesia está sendo contrariado no governo Dilma? Nenhum. Qual interesse da grande burguesia foi contrariado no governo Lula, quando ele mesmo disse que os bancos nunca haviam lucrado tanto? E não foram apenas os bancos, o agronegócio, as grandes empresas, o capital financeiro, eles nunca estiveram tão bem. Ou você acredita no mito do Bolsa Família salvador da pátria?
      Os interesses que compõem o impeachment são políticos, pois o PSDB e uma ala do PMDB, em conjunto com seus aliados, querem ocupar o espaço de poder político que no momento pertence ao PT. Mas sabe quais serão as medidas econômicas que eles vão tomar? Exatamente as mesmas. Nem pior e nem melhor.
      Eu concordo: nossa esquerda é um LIXO. Os adolescentes do PSOL estão mais preocupados em dizer que a saída é à esquerda no Facebook e em eventos fechados do que se unir e promover um impacto real no cenário político, algo que a direita está fazendo com majestade, admitamos. Mas obviamente, a direita tem mais visibilidade na mídia do que a esquerda.
      A reformatação política/institucional do Brasil não virá agora e tampouco ela será possível se deixarmos tudo como está e esperarmos até 2018. Não há como pensar em enfrentar a direita sem afrontar o governo federal, pois a direita não está só no legislativo.
      Me diz então: não ficará mais fácil unir a esquerda diante de um eventual governo do PMDB? A direita governista estará fora do caminho e não vai acusar ninguém de golpismo, mesmo que o programa de governo do PMDB fosse exatamente o mesmo do PT. Você realmente preferiria que Collor tivesse ficado?
      O fato é: se o impeachment ocorrer, ninguém vai mover um dedo para salvar o governo, o que é justo. Eu não o apoio, mas caso ele ocorra, nada farei. Continuarei defendendo uma mobilização de esquerda, que está impossível com alguns alienados como Guilherme Boulos que insistem na ideia de que o governo é diferente daqueles que ele acusa de golpismo.

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    3. Entendo a sua colocação, mas o que tentei dizer, e acho que infelizmente não fui muito claro, foi que nós temos que dar o impeachment pelas razões corretas - e não pelas razões erradas. Impeachment não é remédio para governo ruim e mentiroso: impeachment é para ser dado em governos que cometem crimes. Pensar em impeachment por qualquer razão fora do seu sentido restrito é golpe. E eu sou contra golpes, porque eles repetem toda a patifaria que foi feita ao longo de 500 anos de história desse país. Eu serei a favor do impeachment apenas se ficar comprovado que houve algum crime cometido pela presidente Dilma.
      Eu não gosto do PT, acho que o PT é uma versão "pop" do PSDB e concordo com tudo o que você escreveu sobre o partido estar "abraçado" com o topo da pirâmide social brasileira. Mas mesmo assim - diferentemente dos seus antecessores - o PT criou muito mais programas sociais e olhou com menos desprezo para a base da pirâmide. A prova disso foi que grande parte (senão maioria) dos votos do PT veio de regiões mais pobres do Brasil e de pessoas com renda mais baixa, porque essas pessoas tiveram melhoria na qualidade de vida a ganharam uma perspectiva de futuro. A grande revolta que nós vemos hoje contra o PT vem da classe média (especialmente a alta) e de grandes grupos de mídia, como a Globo, por exemplo, que está em atrito com o atual governo que não perdoou a sua dívida (por sonegação) que passa dos 180 milhões de reais.

      Sobre Fernando Collor, eu não queria que ele tivesse ficado, inclusive, apesar de ser criança na época, ajudei a engrossar o caldo dos caras-pintadas, carregando as bandeiras pretas ao lado dos meus irmãos mais velhos. Mas não querer que ele tivesse ficado não foi razão para dar impeachment algum. É uma vergonha saber que o Collor foi afastado sem cometer nenhum crime. Mas como não existe governo sem o PMDB, Collor acabou tomando cartão vermelho por sua imaturidade política e teimosia - e não pela pressão popular.
      E eu tenho minhas dúvidas se seria melhor ou não para a esquerda se o PMDB chegasse ao poder através dessa manobra antidemocrática. Honestamente, eu acho que mudaria muito pouco na prática - além de desmoralizar a imagem da esquerda, que, queiramos ou não, ainda é mais ligada ao PT do que ao PSDB.

      E sim: a esquerda precisa se organizar e oferecer alternativas decentes para o país. O grande problema é que o maior partido "de esquerda" do país ainda é o PT e eu não vejo alternativas à altura para mudar o Brasil no momento. Por isso que é melhor apoiar quem fez alguma coisa pelos trabalhadores, do que ser conivente com medidas que só darão alegria para a velha burguesia protofascista e pseudonacionalista.
      Porém, a gente também não pode ser tão ingênuo a ponto de achar que algum partido de esquerda nesse país vai chegar ao poder sem o apoio dos grandes grupos de mídia, de telecomunições, de bancos, de agronegócio e de megaempreiteiras. De que maneira a esquerda poderia se mobilizar para realmente consertar as injustiças desse país? É preciso tempo e planejamento à longo prazo para tal.

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  2. E olha quanta precisão da sua parte: "Os trabalhadores e a classe média são apenas massa de manobra dessa gente."
    Enquanto a esquerda é conveniente com a permanência desse governo e limita-se a criticar o ajuste fiscal de maneira isolada e ineficiente através da internet, a direita canaliza a insatisfação dos trabalhadores desse país, que acabam acreditando que Aécio Neves é uma alternativa viável. Por quê? Porque a esquerda não oferece alternativas! Dizer que a saída é à esquerda e não fazer nada vai ajudar? Como os trabalhadores vão dar credito a quem é conveniente com um governo que os penaliza pela crise para manter os privilégios do poder econômico? É assim que eles se tornam massa de manobra de movimentos como MBL e dessa gente que vai protestar dia 16.

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