Não sei se é impressão minha, mas eu tenho notado um número cada vez maior de pessoas arrependidas de terem apoiado o "impeachment" de Dilma Rousseff. Na verdade, não é bem um arrependimento por ter tirado a Dilma, mas sim uma percepção tardia de que o que veio depois foi bem pior. Os coxinhas arrependidos continuam naquela cara de pau de dizer que quem colocou o Temer lá foram os eleitores da Dilma, mas lá no fundo eles sabem que se não tivesse ocorrido o impeachment Golpe, talvez não houvesse restrições ao Ciência Sem Fronteiras e ao Mais Médicos, por exemplo.
Exemplo de coxinha arrependida...
Ninguém é tão cego ou louco a ponto de afirmar que o governo Temer é melhor que o governo Dilma. O que os pobres de direita e despolitizados em geral estão começando a perceber é que foram mera massa de manobra que aderiu ao macarthismo e ao antipetismo apenas para atender aos interesses da nossa elite. Enfim, nunca é tarde demais para aprender com os próprios erros. Não é preciso se atolar ainda mais na lama para entender que sempre que a soberania popular das urnas não é respeitada, somos todos nós que pagamos o pato.
É provável que algum leitor desatento acredite que eu odeie os ricos por eles normalmente serem colocados como "vilões" nas minhas postagens sobre política. Mas a realidade não é tão linear quanto parece. Eu não odeio os ricos e nem os plutocratas. O que eu odeio são as políticas estúpidas orquestradas pela plutocracia. Digo isso porque, para quem ainda não sabe, quem manda no mundo – excetuando-se Cuba e Coreia do Norte – são justamente os tais plutocratas. É por isso que eu costumo fazer críticas duras aos mesmos.
Ao contrário de muitos esquerdistas que odeiam os ricos e adoram ver eles se ferrarem, eu não tenho esse rancor. Há ricos generosos e até mesmo filantropos. A questão não é ser rico. O problema é usar a sua riqueza para ferrar os mais pobres, aumentar ainda mais as desigualdades, vender o patrimônio nacional quase de graça, destruir o meio ambiente e agir de maneira inescrupulosa e irresponsável para aumentar seus lucros a curto prazo. E, infelizmente, tem sido justamente isso que tem ocorrido no Brasil e até nos Estados Unidos.
Como bem disse o plutocrata Nick Hanauer, ricos são necessários para uma sociedade capitalista por uma questão até motivacional. A desigualdade em si não é o que gera mazelas sociais e violência. O que gera problemas na sociedade é a sensação de injustiça quando as desigualdades são altas demais. A plutocracia da Suécia, por exemplo – que é um dos países mais igualitários dentre os capitalistas – apesar de manter várias desigualdades estruturais, tem uma postura mais humanitária que se reflete na maior tolerância ao bem-estar social.
Portanto, o problema não é a riqueza, mas sim as injustiças sociais financiadas pelos ricos que exercem o verdadeiro poder.
Um leitor me questionou no post Intimidade com Moro é para poucos sobre quem são essas tais elites que controlam o país e que estão por trás de toda essa turbulência política que estamos vivendo. Eu pensei inicialmente em responder lá nos comentários mesmo, mas para deixar um link fixo e também para elucidar melhor o questionamento a outras pessoas que possam ter essa mesma dúvida, preferi escrever a resposta numa postagem.
A nossa sociedade está organizada mais ou menos assim.
Hierarquia social
Em toda sociedade há uma hierarquia social que normalmente é representada por uma pirâmide onde os mais pobres ficam em sua base e os mais ricos, no topo. No Brasil do século XXI não é diferente. Temos a base mais numerosa formada por pessoas com baixo poder aquisitivo e menor nível de escolaridade. No meio dessa pirâmide, temos um degradê composto pela classe média baixa indo até a alta. Chegando ao topo, temos a elite econômica subdividida entre ricos comuns e ricos politicamente influentes. Os ricos politicamente influentes são aqueles que pertencem a uma classe conhecida por oligarquia. Essa oligarquia é formada por pouquíssimas pessoas (menos de 0,05% da população) que controlam a política através do seu poder financeiro: fato este que torna o nosso país uma plutocracia (governo dos ricos). São esses oligarcas – também chamados de plutocratas – que financiam as campanhas eleitorais dos políticos, que fazem lobby, que influenciam a imprensa, que controlam o banco central e que corrompem através do poder do dinheiro.
Quem faz parte dessa oligarquia? Os plutocratas são homens discretos: eles raramente se expõem publicamente. É extremamente difícil que uma população conheça quem são esses homens, porque eles aparecem, no máximo, nas colunas sociais dos jornais. Eles normalmente são donos de bancos, donos de grandes corporações, donos de multinacionais, donos de petrolíferas, donos de conglomerados de mídia, mega empresários, rentistas e especuladores, enfim todo aquele grupo que representa o grande capital. Eles formam uma espécie de casta bilionária que exerce um enorme poder devido à posição de chantagem que ocupam em relação ao Estado. Não vou dar nome aos bois aqui, mas é fácil encontrar os nomes deles entre os homens mais ricos do país, apesar de que nem todo rico é plutocrata. E ao contrário do que muitos pensam, não é o Estado que controla os ricos: é exatamente o oposto. Se o Estado contraria a elite burguesa, ele torna-se alvo fácil de golpes. É fácil cassar o mandato de um senador ou impichar uma presidente da república: difícil mesmo é "impichar" um membro da alta burguesia. Políticos se queimam sozinhos e costumam levar toda a culpa pela corrupção, porém, quase ninguém tem coragem de falar sobre sonegação fiscal, auditoria da dívida pública, reforma tributária que inclua juros e dividendos, democratização da mídia e restrição aos valores usados para financiar campanha eleitoral. Isso porque são exatamente esses pontos que mais incomodam as elites e que colocam a corrupção delas à mostra.
Você acha que eles estão a serviço de quem? Do povo? Da justiça?
Recentemente, publiquei um post onde um plutocrata norte-americano resolveu se expor pessoalmente alertando sobre o risco de uma revolução. E só assim os plutocratas aparecem: em situações de risco ao seu próprio lucro. Plutocratas não agem pensando no povo, mas sim em suas próprias ambições pessoais. Mesmo em países de social democracia avançada, há plutocratas influenciando o poder. A diferença da nossa plutocracia para a plutocracia de países como a Suécia ou a Dinamarca é que a plutocracia brasileira é extremamente imediatista, gananciosa e autoritária. Além disso, os nossos oligarcas são praticamente paus-mandados das oligarquias-mães das super potências estrangeiras.
Enfim, gostando ou não, o Brasil é uma verdadeira colônia de exploração de suas elites oligárquicas.
É por isso que as coisas são assim.
Para terminar, vou deixar um vídeo muito bom do Leandro Zayd que trata em maiores detalhes sobre esse assunto:
Pois é, todo mundo viu nas redes sociais que o deputado Jair Bolsonaro foi deixado "no vácuo" pelo juiz Sérgio Moro ao se aproximar para cumprimentá-lo. Essa cena só mostrou duas coisas: primeiro que Moro não tem a menor simpatia pelo deputado reaça e segundo que Jair Bolsonaro é um pobre inocente que só quer aparecer. Não é porque você é o queridinho dos moralistas da direita brasileira que você é obrigado a aturar um fascistoide oportunista como o Bolsonaro que já brinca de ser estrela na mídia há algum tempo. Moro e Bolsonaro, apesar das semelhanças, são de facções diferentes. Um está alinhado com a direita neoliberal; já o outro, com a direita reacionária. Eles jogam no mesmo time apenas quando têm um "inimigo" em comum, de resto são quase como água e óleo.
Eu, pessoalmente, achei a cena linda, porque dividiu a direita nas redes sociais. Isso mostra para os coxinhas que a realidade não é tão linear quanto parece. Moro está do lado das oligarquias que controlam o país, já Bolsonaro está do lado da ala mais reacionária da classe média. E o Bolsonaro é um nada para as nossas oligarquias. Ele é, no máximo, um bobo da corte descartável para as nossas elites.
O japinha do MBL, Kim Kata-sei-lá-o-quê, mais uma vez andou falando besteira. Dessa vez, esse coxinha pseudo libertário fez um vídeo onde afirma que as mulheres não ganham menos que os homens, que a sociedade não é machista e que o feminismo de hoje não é sério. Com argumentos tirados do buraco da bunda para justificar o machismo e atacar as feministas, ele simplesmente ignora todo o contexto sociocultural que vivemos e começa a bostejar argumentos reacionários que deixariam o Bolsonaro com inveja.
Daí que algumas mulheres resolveram dar uma aulinha para o analfabetinho político entender o que realmente acontece em um país machista como o Brasil. Deixo dois vídeos didáticos abaixo que são uma resposta à altura ao vídeo do Kim: