sábado, 22 de junho de 2013

Onde isso vai parar?


Eu admito que fui ingênuo e até otimista demais em apoiar esses manifestos que estão ocorrendo em todo país. Não que eu ache que os manifestos sejam ruins, muito pelo contrário: eles quebraram a inércia do nosso povo num momento crucial. O problema é que esses manifestos perderam o rumo e os protestos ganharam um caráter individualista, onde cada um protesta pelos seus próprios interesses pessoais.
O Movimento Passe Livre, que começou as manifestações pedindo a redução das passagens, já teve a sua reivindicação atendida. O que restou agora foi um monte de jovens, apartidários em sua maioria, querendo mudanças a todo custo na base do grito. O problema é que não se resolvem mazelas sociais dessa maneira. É preciso primeiro ter foco, depois é preciso ter um porta-voz e, por fim, é preciso saber propor soluções. Todo mundo está indignado com a situação do país, mas quantos estão indicando as formas de resolver os problemas? É preciso saber propor soluções para os problemas do país. Se quisermos melhoria nos transportes públicos, então quais são as nossas propostas objetivas neste aspecto? Onde estão os nossos representantes? É preciso organização para poder dialogar com o Governo e exigir mudanças.

Apatia política
Uma coisa que me chama atenção é que a maior parte desses manifestantes são jovens que cresceram numa época de relativa calmaria econômica. Desde a criação do Plano Real, lá em 1994, que a inflação se manteve razoavelmente controlada. Essa geração atual não viveu grandes turbulências econômicas, não viu nenhuma ditadura e se acostumou com a relativa calmaria da era pós-Collor. Creio eu que essa 'calmaria' toda acabou acomodando as pessoas, mantendo-as longe do interesse pela política, afinal, se está tudo ok, para que se interessar por política, né? Some a isso os escândalos que ocorreram na nossa política ao longo dessas duas últimas décadas que temos o fortalecimento daquela ideia de que a política é algo "asqueroso" ou então uma coisa "sem tanta importância". Devido a tudo isso, talvez, a maior parte dessa geração dos videogames e da internet tenha se mantido alheia à conjuntura política. O resultado disso se reflete nas ruas com uma classe média revoltada, desorganizada e antipartidária. Aliás, este "apartidarismo" tem sido um dos maiores problemas dessas manifestações, porque as pessoas estão hostilizando os partidos políticos e apoiando um totalitarismo apartidário sem perceber. Que raios de democracia é essa?

Jeitinho brasileiro
Engana-se quem pensa que corrupção é algo exclusivo dos políticos. Que moral temos para exigir o fim da corrupção dos parlamentares se nós não largamos o nosso "jeitinho brasileiro"? Enquanto nós continuarmos sonegando impostos, subornando guardas de trânsito e aceitando propinas para burlar as leis, não teremos moral alguma para exigir o fim da corrupção. Para mudarmos o mundo, temos que começar mudando a nós mesmos para dar o exemplo. Precisamos dar um fim a essa hipocrisia, senão as coisas não vão para frente.

Ideias insanas
Durante os manifestos surgiram pessoas reivindicando todo tipo de coisa. Mas o que me preocupou foi que havia uma pequena fatia de pessoas querendo a dissolução do Congresso Nacional. Porem, o que poucos se dão ao trabalho de saber é que a culpa por existirem corruptos dentro do congresso se deve basicamente a três coisas: a cultura do jeitinho brasileiro, a impunidade e a alienação política da imensa maioria da população. Junte tudo isso e temos todos esses parasitas no congresso. Mas a solução definitivamente NÃO é fechar o Congresso. É preciso saber votar direito, combater a impunidade e abandonar essa cultura ridícula cheia de "jeitinhos".

Outra coisa que me deixou apreensivo foi uma pequena fatia de pessoas que protestaram pedindo a volta dos militares ao poder, como ocorre, por exemplo, nesta página aqui do Facebook. É inacreditável que após todas as lutas para derrubar um regime militar ainda exista gente que se opõe à democracia exigindo uma ditadura. Isso é simplesmente irresponsável: uma alienação política de nível colossal. Se houvesse uma nova ditadura, não haveria passeatas, protestos, liberdade de expressão e nem mesmo a internet. A internet teria que ser cerceada ou proibida no Brasil por ela ser uma arma poderosa contra qualquer regime. E qualquer um que tentasse se opor à ditadura seria perseguido, torturado e executado. Será que é disso mesmo que nós precisamos? Vão conhecer primeiro a história desse país antes de defender uma coisa tão sanguinária e repugnante quanto uma ditadura.

Possíveis desfechos
Eu vejo quatro possíveis desfechos para esses protestos, que são os seguintes:

1º - Fogo de palha
Se os manifestantes se calarem e voltarem à velha apatia política de sempre, então essa luta não terá servido para muita coisa. Esses protestos precisam de organização, de liderança e também de saber a hora de parar. Se houver protestos desorganizados todos os dias, as pessoas vão se cansar e o vandalismo vai comer solto. É preciso saber perseverar, mas de forma organizada e com foco em questões específicas em cada manifesto.

2º - Mudanças progressivas
Este é o melhor cenário possível. Aqui passarão a ocorrer protestos organizados e com foco, mantendo um diálogo entre o Estado e os manifestantes. Sempre que o povo quiser se manifestar contra ou a favor de algo, terá este direito.

3º - Golpe de Estado
Apesar de me parecer pouco provável, é possível que essas manifestações criem um grande caos nas ruas e a ordem então precise ser restabelecida. Num cenário de desordem total, vandalismos generalizados, saques e depredações que fujam do controle da polícia, poderemos entrar em um Estado de Sítio que culmine numa Lei Marcial: ambiente este muito favorável para um Golpe de Estado. Possivelmente teremos, neste cenário, algum conservador de direita surgindo com o intuito de colocar o país nos eixos através de uma ditadura asquerosa.

4º - Guerra civil
Este é o desfecho mais improvável, porque precisaríamos de pelo menos dois grandes grupos se enfrentando, e eu não vejo nada disso. O que eu vejo são marginais infiltrados nesses movimentos querendo arrumar encrenca à toa. Um passarinho me contou nesses dias que esses vândalos são radicais de direita que querem causar um caos nas ruas para forçar o fim do movimento. Eu, particularmente, não consigo ver a coisa por esse lado. Na minha opinião, esses vândalos são pessoas exaltadas ou apenas bandidos infiltrados querendo jogar mais lenha na fogueira.

5º - Regime totalitário
Se surgir um líder carismático que esteja disposto a atender aos desejos dos manifestantes e que seja "apartidário", é bem possível que este líder queira iniciar uma revolução com o aval popular. Neste caso poderemos cair num regime totalitário apoiado pelo próprio povo. Esses protestos genéricos e sem metas definidas se degeneram facilmente em "vamos derrubar o governo e acabar com os políticos": o que só é bom para golpistas e ditadores.

Terminando...
Pela primeira vez na história as pessoas estão recusando o "pão e circo" para protestar a favor da educação e da saúde. Isso, por si só, já é um feito incrível. Mas essa insatisfação generalizada precisa de foco, organização e liderança. Se não houver isso, correremos o risco de lidar com consequências que tornem as coisas piores do que já estão.
Outro fator é que o povo precisa aprender a votar, especialmente para o legislativo. Um país que escolhe um palhaço (com todo respeito ao Tiririca) para a câmara não possui qualquer cultura política.
Chega de alienação política.

2 comentários:

  1. Eu sinceramente acho que essas manifestações não darão em nada - as pessoas não sabem nem mesmo pelo quê estão lutando... foco inexistente, sem propostas. Fogo de palha.

    E sinceramente acho que nada muda enquanto o 'jeitinho brasileiro' não mudar... e isso engloba todos.

    E não espero nada além do "mais do mesmo" nas próximas eleições.

    Pessimista?...rs...

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    1. É isso mesmo, Rê, se não houver foco e propostas concretas, não ocorrerão mudanças. O povo precisa mudar de postura. Apesar disso, tenho a impressão que muitos políticos tiveram um instante de preocupação com essas manifestações. Isso porque o povo mostrou que não é inerte, além do risco de um golpe de Estado.

      Mas para não dizer que eu sou pessimista, pelo menos acredito que essas manifestações serviram para que as pessoas passem a ter maior interesse pela política. Quem não se alfabetizar politicamente não vai conseguir ter as suas reivindicações atendidas.

      Dias melhores virão.

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