sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Feminismo e religião: uma mistura indigesta


Muitos dos conflitos que eu protagonizei contra as religiões vieram por conta de divergências ligadas a aspectos ideológicos, morais, científicos e sexuais. Tive uma forte ruptura com toda a moral hipócrita cristã após notar que ela ignorava fatos científicos e defendia uma moral retrógrada e imutável. Passada essa minha rixa com os preceitos religiosos, acabei contestando também a ideologia de um outro grupo que – apesar de eu sempre ter o apoiado – acabou tomando rumos extremos. Esse grupo é formado por mulheres (e homens) que se autointitulam 'feministas' e que, muitas vezes, adotam uma ideologia praticamente idêntica a de religiosos. Eu escrevi diversos posts em defesa do feminismo (como este aqui, por exemplo), mas, sinceramente, há certas ideias que algumas feministas defendem que eu discordo inteiramente – principalmente porque muitas dessas fundamentações me parecem coisa de religioso enrustido. Os dilemas morais, sexuais e científicos, que antes eram encrencas exclusivas da religião, acabaram sendo assimilados também por algumas ideologias feministas. E qualquer um que apoie uma moral hipócrita ou negue o conhecimento científico, pra mim, não passa de um parvo fundamentalista. Acho ridículo que o feminismo às vezes se comporte como uma espécie de bancada evangélica de saia. É preciso entender que o feminismo é a luta pela igualdade – fato que muitas vezes se perde em meio a revoltas contra a opressão do machismo e do patriarcado. E no meio dessa revolta sem freio, às vezes falta senso crítico para não transformar feminismo em religião.
A seguir vou deixar algumas opiniões e críticas minhas a essas correntes feministas e fazer a correlação de algumas delas com a religião.

Acho que religião não combina com feminismo

Ginocentrismo
Vivemos numa sociedade machista, patriarcal e falocêntrica: fato que eu concordo em gênero número e grau. Inclusive, essa é uma das razões mais fortes para eu apoiar o feminismo na destruição dessa pseudo supremacia masculina. Mas discordo que a solução para isso seja o ginocentrismo, o femismo ou a misandria. Na minha opinião, o machismo invertido não tem nada a ver com o feminismo: feminismo este que é a luta pela igualdade, e não pela supremacia das mulheres. Não sou contra radicalizar e chocar (como fazem nas marchas das vadias) como forma de buscar mudanças e justiça. Mas quero que fique claro que buscar justiça é algo bem diferente de buscar vingança. Além disso, colocar um gênero acima do outro sempre foi uma bela estratégia religiosa para oprimir certos grupos, se é que as feministas radicais se esqueceram disso.


Leis
Neste post aqui eu mostrei que a Lei Maria da Penha defende apenas a mulher que apanha do homem, mas não defende homens que apanham de mulheres e nem crianças que apanham dos pais. É preciso existir leis contra qualquer tipo de violência doméstica. E leis precisam ser imparciais para evitar injustiças. Só que eu vejo muitas feministas dando chilique quando escutam qualquer crítica contra leis que protegem exclusivamente as mulheres. A crítica é contra leis parciais que defendem um só lado. Não seja parcial, do contrário, vai estar imitando a bancada evangélica que quer que o mundo e as leis girem em torno dos cristãos, apenas.


Prostituição
Este é o primeiro ponto notavelmente em comum com os religiosos. Para as religiões, a prostituição é a degradação absoluta, o fundo do poço para a mulher (ou para o homem). Não sei se é por resquícios da moral cristã, mas tem muitas feministas (feministas abolicionistas) que querem banir a prostituição do mundo alegando que ela "degrada" as mulheres (apenas as mulheres, travestis e garotos de programa não existem). No próprio post que eu defendo o feminismo (este aqui), eu mostro que ser contra a prostituição é ser contra o direito da mulher usar seu próprio corpo como bem quiser e entender. Fazer sexo por dinheiro é um direito de todo mundo (às vezes é mais rentável que fazer sexo de graça). O que é necessário é a regulamentação da profissão para acabar com prostituição infantil, a violência contra prostitutas e a exploração por cafetões.


Anticiência
É verdade que no passado a ciência se utilizava de argumentos equivocados e parciais para justificar a supremacia e o domínio do gênero masculino sobre a mulher. Mas insistir em afirmar que a ciência atual ainda se baseia em conceitos distorcidos, arcaicos e sem qualquer fundamentação em evidências é exatamente o mesmo que os religiosos gostam de fazer para empurrar os seus malditos dogmas goela abaixo. Na minha opinião, qualquer argumento que tente confundir a ciência com a pseudociência é, no mínimo, desonesto intelectualmente. A ciência atual NÃO afirma que homens são superiores às mulheres ou que o comportamento machista é natural e instintivo.


Liberdade sexual
Acho extremamente contraditório que algumas feministas considerem que certas práticas sexuais sejam "humilhantes" e "degradantes" para a mulher. Neste post aqui, por exemplo, eu ataco o argumento de que transar de quatro é degradante. Acho um absurdo que mulheres critiquem outras mulheres livres sexualmente, praticando um bullying sexual através do slut-shaming. A religião e os machistas são especialistas em atacar mulheres por suas roupas e práticas sexuais, infligindo culpa a elas. Acho o cúmulo da hipocrisia que supostas feministas tenham a cara de pau de reprovar publicamente outras mulheres por seus desejos, fantasias e sua vida sexual. Mas a sexualidade dos homens ninguém pensa em criticar, né? Como eu era ingênuo em pensar que só a Igreja condenava a liberdade sexual das pessoas...


Objetificação da mulher
Tem muita feminista por aí que faz protestos contra a mercantilização do corpo da mulher em campanhas publicitárias. A justificativa é que a publicidade constantemente expõe as mulheres como um produto para consumo dos homens, tratando-as como objetos. Eu até concordo que a mídia exagera na hora de usar a nudez feminina como isca para o público-alvo (masculino, no caso), mas será mesmo que faz sentido querer ser contra essa "objetificação". Na minha opinião, não devemos retirar as imagens de mulheres de biquíni das propagandas, mas, sim, incluir a de homens! Imagine só se a mulherada não ia adorar uma propaganda de protetor solar com um monte de homens sarados de sunguinha sendo "objetificados" para ajudar a vender o produto. Homens objetificados não passam na tevê porque a mídia machista detesta ver homens seminus. Contrariando a Igreja e as feministas abolicionistas, acho que a objetificação de homens e mulheres é um colírio para os olhos. Ou será que a mulherada não sua frio e respira fundo quando um cara atraente aparece sem camisa numa propaganda? Deixem essa história de "pecado da carne" e "objetificação" reservado só para os religiosos, ok?


Aborto
Na minha opinião, fazer aliança com a direita religiosa é a morte do feminismo. A maioria das religiões, especialmente as abraâmicas, sempre tratou a mulher de lixo para baixo. E se unir a religiosos para lutar contra o aborto é um absurdo total. Ainda que a imensa maioria das feministas compreenda a necessidade de legalizar o aborto, existem aquelas que insistem em querer mantê-lo proibido, mantendo as mulheres (especialmente as mais pobres) vítimas de clínicas clandestinas.


Segregação
Acho muito ingênuo que mulheres apoiem a criação de vagões exclusivos para mulheres em metrôs para se verem livres do assédio. Isso mostra apenas uma derrota do feminismo, que admite que homens são sexualmente "incontroláveis" e a melhor forma de evitar o assédio nos transportes públicos é separando homens de mulheres. O que precisamos é respeito, educação e punição para quem assedia os outros em locais públicos. Será que já não basta toda a segregação que as mulheres sofrem no trabalho, na sociedade e na religião?


Concluindo
A minha conclusão é simples: feminismo e religião são como água e óleo: não se misturam. Qualquer tentativa de aliar feminismo à religião, ou pior ainda: de tornar o feminismo uma religião, não passa de imprudência e estupidez. É possível ser religios@ e feminista@, desde que não tente usar uma coisa para justificar a outra.
E se alguém duvida da união entre religiosos e feministas, saca só o vídeo do pastor Silas Malafaia abaixo onde ele fala sobre o feminismo:


A conversa sobre esse assunto continua no post abaixo:
Feminismo e religião: complemento

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