quarta-feira, 2 de julho de 2014

Objetificação e a síndrome da mulher mal comida

Mostrar a bunda é objetificar? Então a bunda só pode ter superpoderes!

Essa ideia de "objetificação sexual" sempre me pareceu deveras moralista: um discurso de quem se ofende com a nudez ou a sensualidade usada como isca para capturar atenção de uma sociedade sexualmente infeliz. Ao contrário do que algumas pessoas pensam, os homens imbecis não assediam as mulheres porque as veem como objetos, mas sim porque são machistas, mal educados e sentem que têm liberdade para tal. O problema, neste caso, não é a objetificação: é a sensação de propriedade que muitos homens têm sobre as mulheres por achar que elas são inferiores a eles. É também um erro achar que uma mulher que se objetifica (ou que é objetificada) esteja cooperando para a tal "cultura do estupro". Se não gosta de sensualidade, não a use, não olhe, não compre, não consuma, não clique, não se venda: apenas boicote. Agora ficar com essa conversa mole de objetificação sexual para atacar a sensualidade feminina e ficar justificando supostas falsas simetrias é uma bobagem terrivelmente moralista. A maior prova de que isso tudo não passa de um moralismo barato é que muitas mulheres moralistas dizem que expor a sensualidade feminina na mídia é "romantizar a punhetice" – colocando a masturbação como a grande vilã. Enquanto isso, nas marchas das vadias, as mulheres lutam pela liberdade de andar com pouca roupa sem serem assediadas. Se isso não for um paradoxo hipócrita, não sei mais o que pode ser.

Quem disse que objetificação não é arte?

A contradição moralista
Indecente é a cara
Sabe, eu acho uma contradição monstruosa o feminismo lutar pela liberdade (inclusive sexual) da mulher e, ao mesmo tempo, virem algumas feministas querendo banir essa liberdade alegando que o direito de usar o próprio corpo de forma sensual (para ganhar dinheiro ou não) é machismo/objetificação. Acho que as neofeministas (e moralistas em geral) estão latindo para a árvore errada. Achar que as mulheres estão servindo apenas de objeto sexual para serem servidas em "açougues" (porque mostram apenas partes do corpo como o peito e a bunda) na mídia é que é uma visão preconceituosa das mulheres que assim desejam ser vistas. Se uma mulher se sente ofendida com o uso inadequado da sua imagem, ela pode perfeitamente processar a mídia que a fez. Mas ditar o que todas as mulheres devem fazer baseada em seu próprio preconceito moralista é ridículo e estúpido. Além disso, todo mundo deveria saber que a beleza abre portas e que é impossível desejar sem objetificar, porque quando desejamos alguém, este alguém se torna objeto de nosso desejo. Na minha opinião, o tema objetificação é vitimista e moralista, tanto é que ganhou forte simpatia e adesão de alguns religiosos bitolados. E para piorar, agora fala-se até de objetificação masculina... Francamente, essa ideia de objetificação já foi longe demais ou então perdeu totalmente a seriedade.

Qualquer semelhança com os grupos anti-objetificação não é mera coincidência

A patrulha das mal comidas
Além de todo esse discurso hipócrita e moralista acerca da objetificação, muita mulher usa esse argumento por se sentir menos atraente que as tais "mulheres objetificadas" ou, simplesmente, por ciúmes dos seus maridos 'babarem' por elas. Isso é parecido com a implicância que muitas têm com a pornografia mainstream. No fim das contas é tudo recalque, porque todos gostam de desejar e de se sentirem desejados.
Haja ciúme e inveja!
Por fim, é preciso entender que se uma mulher quer sensualizar e ganhar dinheiro com isso, isso é problema dela, e não das reclamonas ou das feministas abolicionistas. Ora, não são as reclamonas que estão sendo objetificadas, então que não se metam na vida das outras. Isso tudo me parece mesmo é papo de mulher encalhada que não suporta ver a rapaziada se derretendo por mulheres atraentes na mídia, nas revistas, nas ruas ou nos meretrícios. A cada dia que passa eu estou ficando mais convicto de que a objetificação não existe. Até porque se ela existisse, teria que valer igualmente para homens e para mulheres sem essa bobagem de deturpar o argumento da "falsa simetria" para dizer que só mulheres são objetificadas. Se não aprova a hipersexualização liberdade de usar pouca roupa conquistada pelas feministas de verdade, então que se tranque num mosteiro ou vá usar burca lá no Afeganistão.


Não gostou?

Então toma um beijinho no ombro pro recalque passar longe! Rarará!

11 comentários:

  1. Tá, você fala da objetificação das mulheres "atraentes", mas porque não a objetificação das mulheres "comuns"? Eu acho que um dos problemas com essa objetificação é esse imperialismo que só mulheres "atraentes" merecem a admiração ou até mesmo o respeito dos homens. Há a liberdade de se ter o gosto que quiser, mas infelizmente isso não condiz com a realidade, sendo que não tem nada de errado uma mulher ser "diferente" desses "padrões". Eu sou homem, feminista, e não sou contra a objetificação sexual, mas contra essa "propaganda de padrões".
    — Guilherme

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    1. Olá!
      Eu pensei em comentar também sobre isso neste post, mas evitei tocar no assunto para não deixar o texto muito extenso - e postagens extensas demais, o povo tem preguiça de ler.
      A objetificação das mulheres "atraentes" foi uma forma eficiente que o capitalismo e a publicidade encontraram de chamar atenção do público-alvo. Já me questionei muito sobre isso pelo fato dessa objetificação massificar padrões de beleza - e padrões de beleza tendem a ser cruéis e desumanos com quem está fora deles. É uma questão para se refletir com calma. Não sei se o público receberia bem pessoas fora dos padrões de beleza sendo objetificadas. Mas não custa nada tentarem, né?
      Obrigado pela sua participação.

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    2. Não há nada de errado em uma mulher não seguir padrões de beleza. Entretanto, ela não pode obrigar os outros a sentirem atração por ela. Ela merece respeito e liberdade por ser quem ela é, mas ela não pode forçar ninguém a admira-la fisicamente.
      Assim como a indústria não deveria menosprezar aqueles que não sigam seu padrão, os "diferentes" não podem impor seus critérios de atração.
      Você pode ser quem for, mas se não se encaixa nas preferências pessoais de outras pessoas, paciência.

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  2. É engraçado como a nova Teoria Da Objetificação não supera emboscadas que provam seu intrínseco moralismo. As estações transmissoras do conceito propagam suas ondas teóricas utilizando fundamentações duvidosas e mal formuladas, talvez submergidas em um moralismo emocional que elas não querem exibir.

    A culpa do assédio NUNCA é da mulher, e nem de sua sensualidade. Não importa se a pessoa esteja usando vestimentas com traços provocativos e nem suas respectivas razões para tal, o direito dela de ser respeitada jamais poderá ser abdicado. Não importa se a pessoa venda sua sensualidade como força de trabalho, ela ainda sim merece ser respeitada por ser quem ela é.
    A culpa não está na mídia ou na sensualidade das mulheres, mas em que as desrespeita.

    Acredite, feministas fracassadas conservadoras que anseiam pela abolição da comercialização da sexualidade serão aos poucos obscurecidas pela racionalidade, pois elas não conseguem assegurar sua argumentação sem recorrer ao moralismo e ao emocionalismo.
    Temos que lutar por melhores condições das trabalhadoras que trabalham com sua sexualidade? Sim. Elas podem falar por elas mesmas, vide as prostitutas que arquitetaram o projeto de regulação da prostituição, defendido incessantemente por Jean Wyllys. Elas não precisam de feministas para levantar suas vozes.

    Sobre a questão dos padrões, eu já vi posts excelentes seus onde você expressa sua opinião sobre eles. A indústria publicitária está errada em proliferar padrões homogêneos globais de beleza e menosprezar aqueles que não os seguem? TOTALMENTE. Jamais se deve vender idealizações de perfeição, e se alguma indústria o faz, tal atitude tem que ser combatida.

    No mais, quem achar que a sensualidade na mídia é degradante por si só, pode ir para os países do Oriente Médio, pois lá, isso não existirá e talvez você se sinta feliz assim.
    Usando um pouco de ironia: hipersexualização JÁ! Nada mais saudável e satisfatório do que impulsionar nossos instintos prazerosos e humanos admirando a beleza de outros indivíduos. Se você se incomoda com isso, você tem três opções:
    1 - se exercitar, quem sabe assim, você supera sua condição de pessoa inferior mal dotada pela natureza. Não inveje ninguém pelo seu corpo, e nem pense que essas pessoas são culpadas pelo seu fracasso.

    2 - Se contentar com o fato de que você é uma/um fracassada (o), mas que pode despertar o desejo de alguém eventualmente.

    3 - Ir pra PUTA QUE PARIU.

    Grande fraternal abraço a todos, e viva á liberdade!

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    1. Perfeita sua observação. Porém, eu concordo com as feministas que há um exagero na exibição de corpos sensuais de mulheres (em muitos casos apelando descaradamente para o Photoshop), mas discordo que a solução para isso seja uma censura moralista. Podemos variar padrões e mostrar também homens sendo objetificados, porque da mesma forma que os rapazes gostam de ver mulher bonita, as moças também gostam de ver homens bonitos. Fora que também seria uma boa para muitos caras ganhar uma boa grana apenas exibindo seus músculos na tevê.
      Abraço.

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  3. Essa sempre foi uma dúvida que eu tive, a luta pela liberdade com o próprio corpo e a objetificação. O problema em si, creio eu, não é a venda de imagens sensuais, mas alguns dos efeitos negativos que isso está tendo sobre a imagem das próprias mulheres sobre si mesmas e a busca massiva de uma beleza exterior vendida pela mídia. Entretanto esse ponto não está nem de longe relacionado apenas com a imagem sensual, mas com a imagem feminina publicitária de uma maneira geral.
    Agora, devo confessar que eu acredito em objetificação sim. Quando a imagem de uma famosa na praia é exposta e "fatiada" sob olhares críticos, isso é objetificação. A imagem em questão não foi vendida e portanto ainda está relacionada com a própria pessoa, mas a mídia ignora esse detalhe e trata como uma coisa. O outro momento que eu acho digno de nota e que eu continuo considerando uma objetificação da mídia, é quando uma mulher está dando uma entrevista principalmente para programas de fofoca e mesmo que o assunto não se relacione com corpo a câmera insiste em focar nas pernas, coxas e etc.

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    1. O problema todo nessa história de objetificação é que o capitalismo vive de cliques e de audiência. Mostrar pernas, peitos e bundas de mulheres são meios seguros de garantir mais cliques e mais público, trazendo mais renda para a tv ou site. Não sei qual o julgamento moral correto com relação a isso, mas o fato é que enquanto houver capitalismo, acho difícil não usarem o corpo feminino como imã de audiência.

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  4. Sexo vende. Para que eu vou gastar tempo e dinheiro se posso simplesmente colocar uma "gostosa" e vender o produto?

    Dizer que os "padrões de beleza" são impostos pela mídia é falso. A mídia os usa por que os consumimos. Se queremos que todos sejam inclusos nesses "padrões de beleza" devemos "consumí-los".

    Excelente postagem, parabéns.

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    1. É exatamente isso que eu estou cansado de dizer neste blog. Tem um post que escrevi chamado A Beleza Feminina como Produto onde me aprofundo sobre o tema. Quem cria os padrões de beleza é a sociedade: a mídia capitalista apenas os usa porque sabe que eles atraem mais. Claro que há exageros e descontextualização da sensualidade em alguns casos, o que acho contestável. Mas criticar qualquer sensualidade nos games, na tv ou na publicidade é coisa de quem não tem mais assunto para comentar.

      Abraço.

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  5. O texto não tem coerência nenhuma e no final fica bem agressivo: "então que se tranque num mosteiro ou vá usar burca lá no Afeganistão." A mente que pensa assim tem muitos problemas de aceitar o novo mundo que está por vir, simplificando demais um assunto tão complexo como o feminismo e dizendo apenas que as recalcadas e "mal comidas" devem se calar. Pois se você não "come" direito uma mulher a culpa é toda sua e não dela.

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  6. O autor está correto. Já perdi a conta de quantas vezes me esbarrei por aí com feministas que se tornaram pior que o pior dos opressores. O pior de tudo é que elas não escutam. Na primeira crítica te insultam da forma mais sádica e cruel que existe, sendo, como eu disse, pior que seus opressores.

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