quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Coxinhas e petralhas: será mesmo que merecemos isso?


Para quem não entende muito de antropologia, história e biologia evolutiva, gostaria de informar que os seres humanos são animais tribais travestidos de seres civilizados. Sabemos que a nossa espécie é naturalmente gregária porque ela passou a maior parte dos seus 200 mil anos de existência reunida em pequenos bandos, clãs ou tribos que, na maioria das vezes, mal chegava aos 150 indivíduos. Esses pequenos aglomerados populacionais foram formados desde os tempos das savanas para aumentar as chances de sobrevivência diante das intempéries e adversidades da natureza. E entre as muitas adversidades estavam as disputas contra grupos rivais por alimento, território ou outros recursos. Sempre tivemos essa inclinação tribal de nos sentir parte de um grupo específico e de hostilizar outros. Aí viramos sedentários, veio a revolução agrícola, a propriedade privada, a produção de excedentes, as indústrias e o resto você já sabe. Só que da Revolução Neolítica para cá se passaram menos de 10 mil anos. Ou seja, dos 200 mil anos de existência do homo sapiens, a nossa espécie passou apenas 10 mil anos como civilização propriamente dita. Sabe qual é o resultado disso? É que nós usamos até hoje os nossos instintos tribais para nos dividir em grupos afins e arrumar confusão com grupos opositores. Os exemplos disso são muitos: bairrismo, xenofobia, racismo, brigas de torcidas, intolerância religiosa, fanatismo ideológico, fanatismo musical e, claro, a polarização política.
O problema da militância política no Brasil é que ela ganhou uma rivalidade típica de torcidas organizadas. Nós somos o país do futebol e da herança classista colonial, daí que levamos esses (e outros) comportamentos tribais da nossa cultura para a política e o resultado é esse desastre que aí vemos. É petralha agredindo coxinha e coxinha agredindo petralha em nome do quê? Em nome de convicções políticas que não são representadas pelas pessoas que elegemos nas urnas. É ridículo ver gente achando que o PSDB é de direita, mesmo quando os tucanos apoiaram (e apoiam) os regimes de Hugo Chávez e Fidel Castro. E é triste ver gente achando que o PT é de esquerda, mesmo quando o PT está pouco se lixando para reforma agrária e para o lucro exorbitante dos banqueiros. O que estamos fazendo é projetando as nossas aspirações e idealizações políticas em candidatos e partidos que não nos representam. Estamos votando e defendendo fanaticamente o que, aos nossos olhos, é "o menos pior". Mas será que é isso mesmo que a gente merece? Óbvio que NÃO!


Essa polarização equivocada e picaresca que vemos na política é fruto de uma política de coligação onde quem governa não é um partido, mas, sim, uma chapa. E só temos duas grandes chapas com possibilidade vitória: a liberal, defendida pelos tucanos; e a progressista, atrelada aos petistas. Mas nenhum desses dois partidos realmente é o que se propõe a ser. Os partidos são verdadeiras marionetes de algo maior: a plutocracia. Os ricaços, os grandes proprietários e as mega corporações são que mandam nos partidos, porque financiam suas campanhas direta ou indiretamente. Em resumo, é que como se o sistema fosse um grande circo: nós somos a plateia, os políticos são os artistas do picadeiro e os donos do circo são os magnatas que financiam essa grande armação. Os impostos são o ingresso desse circo que vão, em grande parte para os donos do circo através da dívida pública. Na verdade, quem está sendo feito de palhaço somos nós, o povo. Daí que colocam dois grupos de palhaços fingindo que têm lados opostos e nós - como bons manipulados que somos - começamos a torcer para um lado ou para o outro, mas no fim das contas dá tudo na mesma porcaria. O PT está fazendo a mesma coisa que o PSDB teria feito se tivesse vencido as eleições. O povo é sempre quem se ferra. Enquanto isso, os donos do circo estão faturando bilhões e bilhões às custas da nossa alienação.


É claro que temos uma preferência com relação ao modo pelo qual o país é governado. O modelo semi-keynesiano do PT e o modelo meio-liberal do PSDB são opções diferentes que interferem de forma sutil no sistema como um todo. Mas o principal continua: a falta de aderência e de transparência. Veja o meu caso por exemplo: eu, que sou keynesiano, nutro mais simpatia pelo PT, mas nem brincando que o PT me representa. E eu nem vou falar de corrupção, porque isso aí é um mal generalizado não só para os partidos políticos, mas também para toda a sociedade do "jeitinho brasileiro".
Temos que fazer uma reforma política para acabar com essa politicagem de coligação nefasta que há no país. Nesse sistema de coligação partidária somos obrigados a passar a eternidade tendo que escolher o menos pior entre os mesmos de sempre e sempre dando evidência ao maior vácuo ideológico da política brasileira que é o PMDB. Infelizmente, não existe governo nesse país sem os parasitas do PMDB, porque a bancada deles é sempre a mais numerosa. E quem tem maioria no legislativo é que manda no país. Por isso precisamos de mais partidos que realmente nos representem e atendam os nossos anseios.
Outra coisa indispensável a ser feita é acabar com a doação de valores exorbitantes para campanhas eleitorais. Isso é um mal que corrompe a política, porque obriga os políticos de rabo preso a fazer trocas de favores através de superfaturamentos e especulação mobiliária. Se houver doação para campanhas, ela deve ser feita por pessoa física e com um limite acessível à maioria da população para, dessa maneira, não servir para financiar exclusivamente essa plutocracia escrota que rouba o país desde o seu descobrimento.
A única coisa que não pode acontecer é ver brasileiros se colocando uns contra os outros como se estivéssemos numa espécie de guerra civil ideológica do "bem" contra o "mal", onde cada lado é tão diferente um do outro quanto o seis é da meia dúzia. O PT só está há doze anos no poder com ameaça de levar uma puxada de tapete do PSDB porque esses dois partidos são os que monopolizam o debate político de apenas duas frentes. Se tivéssemos pelo menos uns seis partidos com chances reais de eleição, duvido que as coisas estivessem tão centradas neste maniqueísmo tribal onde os únicos que lucram são os próprios políticos e, claro, a pequena minoria lá de cima da pirâmide social que coleciona fortunas às custas do suor, do sangue e das lágrimas de todos os trabalhadores.

Este é o circo que você sustenta

8 comentários:

  1. Você tem pagina no facebook? Concordo com 99% das suas ideias e gostaria de debater sobre o outro 1% hahaha

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    1. Olá, Felipe.
      Infelizmente, não tenho página no Face. Pelo visto vc vai ter que discordar de mim por aqui mesmo! ahahah E o post que eu estou escrevendo sobre o Bolsonaro possivelmente vai estar neste 1% de discórdia. ehehe Aguarda aí pra vc ver.
      Abraço, camarada.

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    2. Na verdade eu só discordaria do texto sobre feminismo "exagerado", não vejo muito exagero não... Depois eu comento direto no texto la e aproveito pra participar da discussão que ja deve ter gerado
      Parabéns pelo site!

      Abraços, camarada.

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    3. O "feminismo" é, DISPARADO, o tema que mais desperta o ódio e a discórdia neste blog. Estou até dando um tempo nesse assunto porque ele meio que saturou.
      Sobre feminismo exagerado, acho que vc também vai adorar as duas páginas que vou linkar abaixo no facebook que provam que minhas críticas aos exageros feministas não são tão infundadas assim. Saca aí:

      Aventuras na Justiça Social
      Feminismo Sem Misandria

      Namastê!

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  2. Infelizmente apenas algo em torno de dóis por cento enxergam por esse ângulo...somente alguém com mente aberta consegue olhar para todos os lados envolvidos entende los e só depois expressar uma opinião.... Valeu!!!

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  3. A solução de toda crise existencial chama-se religião. O humano passa a ter revelações de um mundo exterior, superior, transcendente e transhumano. Migra de sua situação contingente e particular para uma outra vida, uma vida de espírito. A não militância religiosa, inconsciente, diferencia a vida do humano para pior.

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  4. O mundo cibernético não para de novidades instigantes. Comentários anônimos migram de um extremo a outro. Do mais deplorável ao mais inteligente. Estatística e percentualmente os identificados são tíbios. Os identificados não são agressivos ou chulos, mas raramente postam opiniões inteligentíssimas como sói acontecer com os escondidos...:)

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