quinta-feira, 22 de março de 2012

Concursos públicos


Entrar no mercado de trabalho é fácil; difícil é se manter nele! Talvez por isso mesmo que muitas pessoas recorram tanto aos famigerados concursos públicos. Apesar de hoje existirem muitas opções para se ingressar no mercado de trabalho, tais como trabalhador autônomo, empreendedor empresarial, trabalhador assalariado (empregado), profissional liberal, bolsista de alguma IES, etc, de todas as opções disponíveis atualmente, o trabalhador concursado é a que traz mais estabilidade. Um funcionário público concursado, praticamente, só pode ser demitido por processo administrativo, além de contar com todos os direitos trabalhistas e ter a carteira profissional assinada.

O grande empecilho para ser um profissional concursado é que é preciso antes passar por um processo seletivo rigorosíssimo que envolve a prova intelectual, os exames físicos e psicológicos e toda aquela burocracia de entrega de documentos, de entrega de certidões, de consulta a uma série de órgãos para saber se você está mesmo 'limpo', etc. Mas sem dúvida, a parte mais difícil de todo esse processo é passar no exame intelectual. As provas dos concursos públicos geralmente não são o maior problema em si, o maior problema mesmo é a concorrência.

Eu tive uma época na minha vida que prestei quase todo tipo de concurso que se possa imaginar: Correios, Caixa Econômica, Petrobrás, Chesf, Ibama, Prefeitura, IBGE, TRT, Receita Federal... Isso para ficar só em alguns exemplos. Desses todos que eu fiz, só passei no do IBGE, mas só fui chamado quase três anos depois para trabalhar num município a quase 100 km de onde eu resido e ainda por cima ganhando uma miséria para trabalhar por três meses. Tive que recusar porque na época eu estava atolado de trabalhos na minha faculdade e não teria como conciliar os dois. Isso é só para se ter uma ideia de como a coisa é complicada. Quando você é chamado, você precisa abrir mão de tudo se quiser começar a trabalhar. E eu acho que esse é um dos maiores problemas.

Será que vale abandonar um sonho em nome da estabilidade?

Abandono dos sonhos
Lembro de certa vez quando tive um colega de faculdade que passou num concurso público antes de ter terminado a sua graduação. Ele ficou a um triz de ser jubilado porque tentou conciliar o trabalho com os estudos. Por sorte, o filho da mãe conseguiu se formar, mas foi ao custo de vários trancamentos de semestre e pagando uma cadeira por ano. Esse meu ex-colega foi uma exceção, porque a imensa maioria das pessoas que passa num concurso público, principalmente no nível médio, precisa deixar a faculdade de lado. Muitos sonham em ser arquitetos, por exemplo, mas acabam trabalhando como escrivães na PF; outros sonham em ser cientistas, mas acabam como técnicos judiciários no TRE; outros sonham em ser astronautas e acabam como analistas no TJ. Isso confere uma inegável frustração profissional, porque o cidadão troca aquilo que ele mais sonhava em fazer na vida por outra coisa não tão atrativa apenas por causa da estabilidade.
Honestamente, eu só consideraria isso válido após uma análise bastante cautelosa dos prós e contra de cada escolha, porque é muito duro ter que acordar cedo todos os dias para trabalhar numa coisa que você não gosta.

Prepare-se para entrar numa disputa acirrada ao entrar num concurso

Dificuldades
O maior problema de qualquer concurso público é a concorrência desleal. Eu nunca concorri a nada que tenha tido menos de 60 sonhadores por vaga. E olha que 60 candidatos por vaga é uma concorrência excepcionalmente baixa dentro de um padrão onde temos em média umas 400 pessoas brigando por uma vaga. Para se ter uma ideia do que significa essa concorrência, o vestibular mais concorrido do Brasil, o de medicina na Fuvest, teve em 2011 uma media de 49,25 candidatos disputando uma vaga: uma piada se comparado com os grandes concursos.
E como se não bastasse a concorrência desumana dos concursos públicos, ainda temos que aturar problemas nas próprias provas, como erros de gabarito, questões anuladas, questões mal formuladas, questões que não estavam no programa, etc. Isso sem falar nos locais de prova. Eu já precisei fazer uma prova quase fora da região metropolitana de onde eu moro, tamanha foi a concorrência. E eu já conheci pessoas que precisaram vir de outros estados só para fazer as provas - coisa que, diga-se de passagem, é bastante comum.

Haja estudo para passar nesse bendito concurso!

Maior concorrência
O concurso mais concorrido que eu vi nesse país foi o do TRE de Pernambuco em 2011. Somente para o cargo de técnico, tivemos 39.692 candidatos disputando 12 vagas, o que dá uma média de 3.307 candidatos por vaga!
Para analista nesse mesmo concurso tivemos 1.743 candidatos disputando 6 vagas, o que dá cerca de 290 candidatos por vaga. Apesar da menor concorrência, é bom lembrar que para analistas só concorrem pessoas com o ensino superior completo.
Essa concorrência estratosférica tem uma causa muito simples: as vantagens. Veja só do que desfruta um trabalhador concursado no TRE-PE:

+ Salário de R$ 4.052,96 para técnico e R$ 6.611,39 para analista
+ R$ 600 de auxílio alimentação
+ Gratificação de Atividade Judiciária
+ Vantagem Pecuniária individual
+ Vale-transporte, auxílio pré-escolar e reembolso de gastos com planos de saúde
+ 20 h de trabalho semanais
+ Estabilidade

Fontes:
Concurso TRE-PE 58 mil disputando 35 vagas
Estatísticas TRE-PE vaga-candidato (pdf)
Mais informações sobre o TRE-PE (pdf)

Agora eu imagino qual será a concorrência do TRE-RJ que tem as seguintes vantagens (além de ser no coração turístico do Brasil):

+ Salário de R$ 4.614,37 para técnico e R$ 7.172,80 para analista
+ R$ 490,29 de auxílio pré-escolar
+ Reembolso de até R$ 120 com plano de saúde
+ Vale transporte + Auxílio alimentação
+ 4 h de trabalho por dia
+ Estabilidade

Fonte:
Edital do Concurso TRE-RJ

Se você pretende se tornar um funcionário público concursado, é bom preparar o bolso para cobrir as taxas de inscrição e estudar muito, mas MUITO mesmo! Esqueça a sua vida social, esqueça a diversão, esqueça tudo: sua vida será apenas estudar. Ah, e recomendo um bom cursinho, porque passar sem receber as dicas e segredos é bem mais complicado!

2 comentários:

  1. Fiz um "bico" na fiscalização de um desses concursos. Se não estou enganada era para Receita Federal, salário inicial R$14.000,00!!
    Tive a oportunidade de conversar com uma das meninas que prestava o concurso, 23 anos, havia concluído o curso universitário, nunca trabalhou, mas há 3 anos vinha exclusivamente se preparando em tempo integral para concursos como esse. Se conseguisse ser aprovada, e tinha plena convicção que seria, teria garantido a sua vida profissional. Com dois anos de contratação poderia pedir licença não remunerada para tentar outras oportunidades profissionais caso não estivesse satisfeita, e voltar depois se lhe fosse conveniente.
    Sem dúvida, um grande investimento, mas com chances de um grandioso retorno.
    Bem pertinente seu post.

    Beijos meus

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    Respostas
    1. Uau! RS 14.000?! Imagine só a concorrência pra uma 'boquinha' dessa! rss
      Concurso público é uma coisa altamente estressante e desgastante, mas normalmente costuma compensar. O problema maior é passar...

      Inté.

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