quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Os rótulos da sexualidade

Será que homens e mulheres são tão diferentes assim?

Há algum tempo atrás eu escrevi um post intitulado "A 'morbidez' da sexualidade masculina" onde tentei rebater as críticas de moralistas, religiosos e feministas estereotipadas que tratam a sexualidade "masculina" como sendo pervertida e imoral em comparação com a "feminina". Apesar da pequena confusão que fiz quando a escrevi, a minha conclusão lá foi de que homens e mulheres são diferentes sexualmente. Pois bem, passado um tempo, li recentemente esta bela postagem do Doutor Asmodeu, que me fez chegar à conclusão de que o problema dessa história não está na sexualidade masculina ou na feminina, afinal, a sexualidade é uma coisa só. O problema está nos estereótipos sexuais atribuídos a cada gênero e no preconceito moral contra as mulheres sexualmente livres. E como o Dr. Asmodeu apontou, os malditos livros de autoajuda – especialmente aqueles voltados para as donzelas – são especialistas em criar rótulos para definir o comportamento sexual de homens e mulheres. Fantasias e práticas sexuais não são exclusivas de gênero algum, afinal, com quem os heterossexuais transam senão com alguém do sexo oposto? E contrariando a mim mesmo, afirmo: homens e mulheres são diferentes, mas, sexualmente, são muito mais parecidos do que eu imaginava.

Paradoxo machista

Influências do patriarcado
Coisas do patriarcado...
Lembro que quando o livro Por que os homens fazem sexo e as mulheres fazem amor foi lançado, muitas pessoas acusaram os autores de serem sexistas e de rotularem a sexualidade masculina e feminina. Apesar desta crítica estar fundamentalmente correta, é bom destacar que o livro apenas mostra a 'superfície' da realidade como a vemos, demonstrando que os homens geralmente têm uma preferência maior pelo que é mais "sujo" e "imoral", enquanto que a maioria das mulheres preferiam coisas mais, digamos, "suaves". Só que o grande 'x' da questão é que o livro não explica porque as coisas são assim. Se tirássemos todo o falso moralismo, sexismo e repressão sexual direcionados contra às mulheres, certamente o livro estaria mostrando uma diferença muito menor entre homens e mulheres. A verdade é que muitas mulheres ainda sentem culpa por terem (ou realizarem) certas fantasias sexuais. O medo de serem taxadas de "vadias" ou "promíscuas" impede que elas mostrem seus verdadeiros desejos.

É isso que o patriarcado quer
Enquanto a nossa moral cristã e o sexismo estúpido continuarem mandando na cultura ocidental, as taras de filmes pornôs e as "fantasias masculinas" continuarão sendo quase exclusivas do público masculino. Não é novidade para ninguém que meninos e meninas são criados de maneiras bem diferentes e, quase sempre, as meninas são castradas psicologicamente desde cedo. Muito disso se deve ao maldito patriarcado que trata as mulheres como sendo "posse" dos homens, desestimulando a promiscuidade feminina. Isso tanto é verdade que a valorização da virgindade da mulher surgiu como "garantia" de que o filho seria legítimo do pai, e não de outro homem. E o patriarcado sempre foi assim, passando as propriedades e os meios de produção de pai para filho (nunca de pai para filha), monopolizando o poder nas mãos dos homens.
Com o surgimento da pílula anticoncepcional, com a gradual descriminalização do aborto e com o avanço de movimentos feministas, o patriarcado começou a desmoronar. Mas, ainda assim, o patriarcado sobrevive, se agarrando ao conservadorismo, ao autoritarismo, ao machismo e à religião. É por isso que existe tanta resistência machista até hoje. E para quem pensa que o patriarcado nunca existiu, basta lembrar que o art.178 do código civil brasileiro de 1916 considerava que o marido podia pedir anulação do casamento se a mulher não fosse mais virgem, fato que caiu em desuso após 2003. Também considere uma evidência do patriarcado o fato de apenas a mulher mudar o sobrenome após casar.

Velhos estereótipos em ação

O resumo desta ópera é que o patriarcado literalmente castrou as meninas e permitiu apenas aos homens o direito à promiscuidade. 

Sexismo em ação...

Todo sexo é depravado
Ser livre é degradante?
Botem na cabeça uma coisa: não existe sexo sem safadeza. Sexo é sempre promíscuo, pervertido e imoral, SEMPRE. Mesmo que haja cumplicidade e sentimentos envolvidos no meio da coisa, a graça do sexo está justamente no prazer, na diversão, na criatividade, na "sujeira" e na safadeza. Ninguém faz amor, todos fazem sexo. Quem nega isso ou é ingênuo, ou é hipócrita. Foi por essa falsa dicotomia entre "sexo normal" e "sexo safado" que durante tanto tempo os pais de família dividiam as mulheres em dois tipos: as para casar, com quem tinham um sexo medíocre voltado para a reprodução e perpetuação do sistema patriarcal; e as outras mulheres eram as para "se divertir", ou seja, eram as prostitutas e meretrizes. Hoje, apesar da persistência do slut-shaming, tem muita mulher que curte uma sacanagem bem suja e pervertida igual ou pior que a dos homens. Como eu mostrei nos posts deste blog sobre feminismo e religião, muitos dos valores religiosos acabaram sendo incorporados por algumas feministas que acham que o sexo "pervertido" é machista, coisa de macho tarado e mais meia dúzia de argumentos ridículos. Se alguma feminista ainda insistir nesse discurso "faça amor, não faça sexo", me desculpa, mas vocês viraram marionetes da direita religiosa, que tanto as oprimiram. O que as mulheres devem exigir é igualdade, liberdade e democracia em dar e receber prazer – e não fazendo essa algazarra rocambolesca para chamar os homens de pervertidos ou querendo banir a pornografia. Por favor, tirem esse cinto de castidade psicológico e deixem de ser toscas e recalcadas. Ou como dizem algumas pessoas mais francas: isso é falta de pinto. Só pode ser mesmo...

Ah, não gostou? Então põe um véu e vira santa, que nem a Sasha Grey! Rarará!
Ave Sasha, cheia de graça!

2 comentários:

  1. "Ou como dizem algumas pessoas mais francas: isso é falta de pinto. Só pode ser mesmo..." sério que mesmo com toda a discussão sobre objetificação e violência sexual feminina, no final das contas temos todos os nossos argumentos ignorados pelos homens. Cuidado que esse seu argumento "falta de pinto" pode muito bem se enquadrar na cultura do estupro, em que a sexualidade dos homens imposta a mulheres a força serve para "corrigi-las". Eu poderia falar por exemplo, que todos os homens que utilizam de pornografia e machos raivosos e histéricos são assim por falta de vagina. Por mais, você demonstra uma certa ignorância na pauta feminista e parece ser apenas um defensor de punheteiros, quando na verdade o tema aborda políticas muito mais sérias.

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    1. O famigerado argumento da "falta de pinto" é mesmo um argumento horroroso, machista e reacionário. Mas "a falta de pinto" que me referi é a respeito da castidade psicológica que tantas e tantas mulheres incorporaram inconscientemente ao elaborarem seus discursos antissexo. E, sim (tirando a questão homofóbica), "falta de vagina" é um problema pra muito homem. Isso porque muitos homens estão precisando transar mais e falar menos besteira. E isso não tem nada a ver com cultura do estupro ou misandria: é apenas um fato que a falta de sexo torna as pessoas mais estressadas, frescas e apegadas a ideologias que impõem uma castidade emocional que justifique seu comportamento.

      Sobre o feminismo, especialmente o abolicionista (ou moralista), há uma tendência ao apego a pensamentos dogmáticos e isso é o que infantiliza a discussão. Há feministas que mais parecem religiosos querendo catequizar outras mulheres e até homens ao tornar a pornografia e a sexualidade "mais suja" como sendo uma espécie de demônio a ser odiado e combatido. Porém, o problema não é a pornografia e nem o sexo selvagem - como as santas dizem por aí - mas, sim, a incapacidade de muitas mulheres de se livrarem de suas amarras sexuais impostas pela castração do patriarcado. Não deviam estar combatendo o sexo "feio", mas sim o que te faz pensar que ele é feio, ou seja: o machismo.
      Quando o é sexo consentido e entre adultos, ele será sempre algo belo e sublime, principalmente quando o prazer é democratizado sem tabus religiosos, machistas ou feministas.

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