sexta-feira, 8 de novembro de 2013

A beleza feminina como produto

Quem disse que a beleza não tem valor?

Ultimamente, tem ganhado cada vez mais força na internet um grupo de feministas (abolicionistas) que se posiciona contra o uso estereotipado das mulheres (ou da imagem feminina) na publicidade, na mídia e no jornalismo. Esse grupo se queixa de diversos abusos e exageros no uso da imagem das mulheres (ou de partes sensuais de seus corpos), argumentando, entre outras questões, que as mulheres não devem ser destacadas apenas por seus atributos físicos ou tratadas como objeto, já que elas não são "produto" para o "consumo masculino". Depois que andei bisbilhotando este Tumblr e postagens como esta, entendi porque há tanta chiadeira por parte de algumas mulheres (feministas ou não) com relação a isso (até comentei sobre isso neste post).
Abertura de Tieta
Realmente, há, de fato, um uso excessivo e muitas vezes desnecessário da sensualização feminina no jornalismo da internet e em jornais e revistas impressos. A forma como a mulher é representada muitas vezes é ridícula ou mesmo humilhante. Algumas pessoas gostam de rotular isso como objetificação, outras dizem que é machismo, outras dizem que é ditadura da beleza, enfim... o que ficou claro para mim é que há um anseio por censura muito grande por conta disso. Eu concordo que há um uso inadequado e parcial na exibição das mulheres (especialmente as bonitas) na mídia e na publicidade, criando um estereótipo perigoso e fazendo associações machistas. Uma moderação talvez seja necessária para esses casos. Mas o que me incomoda nessa história é que muitas dessas reclamações usadas atualmente pelas feministas pró-censura, curiosamente, são muito parecidas com aquelas mesmas reclamações de quando baniram da televisão brasileira aberturas de telenovelas que exibiam corpos femininos nus (como em Tieta e Pedra Sobre Pedra). O engraçado é que os argumentos anti-nudez usados no início dos anos 90 (objetificação, degradação, sensualização, etc.) vieram justamente de religiosos e moralistas que hoje atacam o feminismo. Acho estranho que as feministas tenham plagiado os argumentos dessa estirpe. Também acho paradoxal exigir o fim da nudez e da sensualidade na mídia enquanto protestam quase sem roupa pelas ruas. Mas enfim, deixando isso pra lá, alguém sabe dizer ao certo por que o corpo feminino é tão exaustivamente explorado pela mídia? Eu acho que tenho a resposta e pretendo desenvolvê-la a seguir.

Mulheres-objeto ou arte?

Por que a beleza chama tanta atenção?
Eu sei que tem muita gente que odeia história, mas não tem jeito, eu vou ter que falar sobre ela para explicar a origem de tudo isso. Se nós construíssemos uma máquina do tempo e viajássemos para cerca de 30 milhões de anos atrás – muito antes da espécie humana surgir – veríamos que os mamíferos que deram origem aos atuais primatas andavam sobre a terra com seus órgãos olfativos (vulgo narizes) bem próximos ao chão. Passados 25 milhões de anos depois, os descendentes primatas dessa linhagem ganharam a postura ereta, fato que afastou os seus narizinhos do solo e, consequentemente, diminuiu o poder do nosso olfato. Isso tanto é verdade que o olfato humano é uma verdadeira anedota se comparado com o de outros mamíferos farejadores. E para quem não sabe, o olfato era responsável, entre outras coisas, pela escolha do parceiro sexual. Nossos ancestrais eram mais ou menos como cachorros, que cheiravam a 'retaguarda' dos outros para reconhecer quem era macho, quem era fêmea, quem estava fértil, quem estava saudável... Com a perda do poder do olfato, o órgão que o substituiu nesta importante missão de achar um parceiro foi, adivinhe qual: os olhos! Se você for um bom entendedor, já deve estar sacando porque hoje as pessoas julgam se alguém é atraente não mais pelo cheiro, mas sim pelo aspecto visual. É por isso que o padrão usado pela espécie humana para escolha dos parceiros sexuais é a beleza física (foi aí que o conceito de 'beleza' surgiu). Mas o que é beleza? A beleza é um conjunto de atributos estéticos (como simetria, proporção e caracteres sexuais) que são biologicamente e culturalmente tratados como saudáveis, desejáveis e atraentes. É exatamente a beleza que nos faz preferir instintivamente uma pessoa com simetria bilateral ao invés de uma pessoa deformada para transmitir os nossos genes. A beleza, queira ou não, ajudou a construir a seleção natural entre seres humanos. É por isso que homens com ombros largos e cintura fina (formando o famoso triângulo invertido) costumam atrair mais a atração do gênero oposto – e é por isso que mulheres com cintura fina e quadris largos (o famoso violão) chamam mais atenção dos homens. A beleza é um anúncio que diz: "tenho excelentes genes para transmitir".

A beleza é um critério de escolha para parceiros saudáveis

A persistência do desejo
O poder da atração sexual
Vocês já viram como um cachorro se comporta quando sente o cheiro de uma cadela no cio? Ele fica bem agitado, né não? É comum você vê pelas ruas o poder de atração que uma cadela no cio exerce sobre os cães machos, acho desnecessário citar exemplos. No caso dos seres humanos, nós temos dois problemas com relação a isso. O primeiro é que as mulheres não têm cio. As fêmeas da espécie humana, apesar de terem um período fértil onde elas ficam um pouco mais, digamos assim, receptivas, as mudanças corporais e o cheiro praticamente se mantém inalterados ou imperceptíveis para os homens. Isso tornou as mulheres atraentes visualmente para os homens permanentemente, justamente porque o ciclo menstrual não causa impactos visuais relevantes na mulher. E o segundo problema é que os homens que não se sentiam atraídos pela beleza feminina ou que não gostavam muito da coisa de sexo, deixaram poucos descendentes. Some a esses dois problemas o fato de que nossos instintos são reprimidos socialmente em nome da moral e dos bons costumes e pimba! Você tem a resposta para a charada! É por isso que os homens são tão obcecados por mulheres atraentes e buscam vê-las o tempo inteiro.
Homens macacos adoram ver isso
O cérebro masculino praticamente evoluiu buscando parceiras atraentes, o que torna os homens até hoje reféns do poder de sedução feminino. E para colocar mais pimenta nesse caldeirão, adicione a isso tudo a alta dose de testosterona (hormônio da libido) no corpo masculino e a necessidade quantitativa (e instintiva) dos machos "cobrirem as fêmeas" para garantir a perpetuação da espécie. É por isso que revistas de mulher pelada vendem tanto, que filmes eróticos vendem tanto e que as prostitutas fazem tanto sucesso.

O capitalismo e a 'objetificação' feminina
A beleza vende!
O sistema capitalista depende de dinheiro para sobreviver, fato. E uma das formas que o capitalismo tem de chamar a atenção dos seus consumidores é explorando as nossas fraquezas mais instintivas. Quando mulheres gostosas atraentes e com pouca roupa são colocadas na publicidade, elas estão agindo, na verdade, como iscas para atrair os homens (héteros): algo que funciona tão bem que acabou 'viralizando'. O capitalismo usa a seu favor o desejo natural dos homens em ver mulheres bonitas para chamar a atenção para os seus produtos e serviços. Como na internet cada clique gera receita (dinheiro), então o uso da figura feminina é constante e abusivo. É por isso também que se multiplicam eventos como concurso de misses, de musas, de bumbum, de biquíni, etc. A beleza em si se transformou num grande negócio.

Durma com um barulho desse
Acontece que hoje temos três mazelas sociais que foram associadas (erroneamente) ao uso da beleza da mulher como 'negócio': a violência contra a mulher, a cultura do estupro e o machismo. Numa sociedade onde mulheres são reprimidas, vigiadas e estereotipadas para agradar visualmente os homens, isso gera um contramovimento dentro do feminismo que luta contra a exposição da mulher na mídia. Mas o problema não está no uso da mulher pela mídia, mas sim no machismo e na opressão contra as mulheres. É muito comum feministas associarem a nudez à exploração e insensibilidade masculina. Essa confusão é compreensível, porque vemos poucos homens sendo explorados pela mídia visualmente e pouca preocupação estética com os homens. Foi por isso que nesta postagem eu defendi uma objetificação saudável e um maior uso também da imagem masculina, afinal, homens também são atraentes para mulheres e para homens homossexuais (G-Magazine vende por que, né?). Eu acredito que a exploração da sensualidade masculina ainda é muito pobre na mídia porque a maioria dos publicitários são homens héteros – além do machismo e da homofobia que contribuem para a aversão ao nu masculino.
O que deve ser evitado, na minha opinião, são julgamentos e críticas baseados unicamente em emoção ou em wishful thinking para censurar ou remover tais conteúdos alegando teorias conspiratória diversas. A gente precisa enxergar também o outro lado da história para fundamentar melhor as nossas opiniões antes de militar a favor de uma postura ideológica.

Desejar não é 'coisificar'
Outro grande problema das pessoas que se posicionam contra qualquer tipo de objetificação é que elas generalizam e confundem frequentemente desejo sexual com abusos contra as mulheres. Acho o cúmulo da desonestidade e da associação forçada confundir 'cultura do estupro' com 'desejo sexual'. O desejo sexual é algo natural, a cultura do estupro, não. Além disso, não são só homens que "objetificam", muitas mulheres que vão nas baladas da vida também veem homens atraentes como "objetos a serem consumidos", para levá-los para cama e ter prazer com eles – e nem por isso é uma "objetificação nociva" contra o homem. Acho que todos têm o direito de ser castrados psicologicamente, mas querer castrar os outros com teorias conspiratórias é uma aberração moralista.

Flerte ou objetificação mútua?

Enfim, espero que tenha ficado claro o porquê do uso exaustivo da imagem de mulheres na mídia. Qualquer dúvida ou discordância, os comentários estão abertos para isso.

3 comentários:

  1. adorei vou fazer um trabalho para a faculdade com esta matéria "a objetificação sensualizada do corpo" obrigado.

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    1. De nada. Este tema realmente dá muito pano pra manga. Boa sorte e abraços.

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  2. EXECELENTE SO N CONCORDO COM ESSA CLASSE FEMINISMO AS MULHERES DEVEM SIM LUTAR PELOS SEUS DIREITOS MAS N ASSIM COMO ESSAS FEMINISTAS FAZEM.

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