quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Devemos imitar outros países?


Acho engraçado e preocupante o depoimento de alguns brasileiros que vão morar no exterior e ficam comparando a cultura de outros países com a nossa. Eu vejo poucas pessoas falarem dos aspectos positivos do Brasil nessas comparações. Muitos brasileiros que viajam para o exterior tratam o Brasil com desdém, como se a sua pátria-mãe fosse um país pobre, aculturado e detestável. Eu até concordo que o Brasil não é um país das maravilhas, mas tem certas comparações que eu acho que não possuem o menor cabimento. Acho ridículo comparar um país multirracial, tropical e diversificado culturalmente como é o Brasil com países como o Canadá, a Austrália ou com países escandinavos. Acho que cada país é estruturalmente diferente e, por isso, cada um deles precisa de ações políticas e sociais diferentes para resolver os seus problemas. Copiar o modelo de transporte russo para o Brasil, por exemplo, não é viável, pois o Brasil não tem a estrutura ferroviária e nem a morfologia de relevo da Rússia. O uso massivo de termoelétricas é outra coisa que eu acho desnecessária no Brasil, porque temos uma hidrografia privilegiada em relação a outros países e as hidrelétricas são capazes de gerar uma energia muito mais "limpa" do que as termoelétricas. Enfim, existem muitas outras comparações entre o Brasil e os demais países que me parecem puramente apaixonadas.

Nossa diversidade é única

Não existe "cultura superior"
Viva a nossa culinária!
De todas as comparações que fazem do Brasil com o exterior, a que mais me deixou preocupado foi a questão cultural. Tem pessoas que viajam para o exterior e que passam a enxergar a cultura brasileira como um verdadeiro lixo. Eu entendo que nem todo mundo gosta de feriados religiosos, nem todo mundo gosta de funk carioca, nem todo mundo compactua com o jeitinho brasileiro, porém, acho ridículo execrar o país por ele não ser igual a um Canadá ou a uma Suíça. Tem coisas boas que são típicas do Brasil, como a nossa culinária, o nosso calor humano, as nossas festividades, as nossas vestimentas, as nossas formas de se divertir, os nossos esportes populares, etc. Acho indecente querer impor valores estrangeiros sob a desculpa de que eles são "moralmente superiores" ou "melhores" que os nossos. Essa xenofobia invertida não é boa para ninguém.
Acho que existe um relativismo cultural que precisa ser observado para que essas desculpas de "melhor e pior" não sirvam para alimentar mais preconceitos contra nós mesmos, o que recai naquele velho "complexo de vira-lata".

Calor humano é 'com nóis mermo'!

Respeito ou cultura da frieza?
Muita gente que viaja para o exterior costuma notar que em muitos países, especialmente os mais setentrionais, as pessoas tendem a ser mais 'frias' umas com as outras. Quando eu digo 'mais frias', me refiro ao comportamento meio distanciado, indiferente e contido. A desculpa para tal comportamento é que agindo assim, as pessoas se "respeitam" mais. Não estou dizendo com isso que os estrangeiros não são camaradas ou carismáticos – o que eu estou tentando apontar é que na cultura de muitos países esse "distanciamento" (especialmente físico) é algo natural. Encostar numa pessoa ao cumprimentá-la, por exemplo, pode causar estranheza e repulsa – diferentemente de muitas regiões do Brasil, onde tocar o outro pode ser um gesto de afetividade ou simpatia. Eu acho um absurdo que algumas pessoas queiram, seja lá por qual for a razão, que essa coisa fria de outros países seja incorporada ao Brasil. Um dos diferenciais do Brasil é justamente esse toque, esse calor humano, essa maior proximidade física. Eu mesmo já vi turistas vindos do Japão sentirem essa diferença aqui. A nossa forma de nos cumprimentarmos e de nos abordarmos é muito invasiva para algumas etnias que são culturalmente mais reprimidas, por isso essa comparação e estranheza. O bacana é que, por outro lado, muitos turistas gostam do Brasil justamente porque somos menos reprimidos socialmente e mais abertos nesse aspecto. Acho que respeito e distanciamento são coisas bem diferentes.

Brasileiros unidos jamais serão vencidos

Momento ufanista
É óbvio que o Brasil tem problemas, não nego isso. Mas a solução para os nossos problemas é algo para ser resolvido de acordo com as nossas necessidades e dentro do nosso próprio contexto social. Como citei antes, não acho que imitar as medidas de outros países vá resolver o nosso problema. Devemos trilhar o nosso próprio caminho para chegar aos resultados que necessitamos.
Nós, brasileiros, temos uma mesma identidade e um sentimento de brasileirice que não há em nenhum outro lugar. Eu não acho possível desfrutar da nossa boa música, da nossa culinária, da nossa sabedoria popular, do nosso folclore, da nossa riqueza dialética, da nossa televisão, do nosso clima e da nossa camaradagem em nenhum outro lugar do mundo. Por isso, acho que estamos longe de sermos "vira-latas" ou de qualquer outro rótulo pejorativo que nos inferiorize. Somos um povo independente que tem uma cara própria – e não precisamos importar aquilo que temos de melhor: a nossa identidade.

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