terça-feira, 29 de dezembro de 2020

A tal direita anticapitalista


Sim, eu sei que parece uma contradição muito grande você ler as palavras "direita" e "anticapitalista" formando uma única expressão. Isso porque a direita, tradicionalmente, está ligada ao capital, ao status quo, à hegemonia das classes dominantes e à exploração da classe trabalhadora. Acontece que, de uns tempos para cá, tenho observado várias pessoas autodeclaradas de direita em fóruns e redes sociais que perceberam que o capitalismo não é perfeito e que elas têm muito a perder com este modo de produção. Daí você pode se perguntar por que essas pessoas não se tornam de esquerda. Mas é aí que está o ponto interessante. As pessoas que se consideram de direita, no geral, possuem aversão à esquerda, ou pelo menos ao que elas reconhecem como sendo de esquerda. Para muita gente, a esquerda nada mais é que uma mistura rocambolesca de coisas ruins envolvendo lacração (politicamente correto), corrupção, cristofobia, stalinismo, ditadura, perda de liberdade, defesa de bandidos, Estado máximo, fome, igualdade forçada e outras coisas mais. Agora imagine que uma pessoa que é tradicionalista, cristã, conservadora, pró-meritocracia, a favor da propriedade privada e da desburocratização estatal percebendo que o capitalismo destrói o meio ambiente, promove guerras, causas crises frequentes, privilegia oligarquias, causa miséria e favorece o capital especulativo. Pronto, nasce aí a direita anticapitalista. Essa galera percebeu que há também uma falsa dicotomia entre socialismo e capitalismo, tendo em vista que outros sistemas surgiram ao longo da história, como os modos de produção primitivo, asiático, feudal e escravista. E olhando para o futuro, há possibilidades diversas além do socialismo e do capitalismo, como o cooperativismo, a economia baseada em recursos, a automação total da mão de obra, o anarquismo e outros sistemas que podem ser teorizados. 

O que eu quero chamar atenção para essa direita anticapitalista é que ela precisa ser orientada de forma cautelosa para não cair nos fascismos da vida, porque ser contra "tudo que está aí" é uma ideia despolitizante. É preciso também acolher – ou pelo menos criar um diálogo – com essas pessoas, porque queira ou não, elas também são, de certa forma, antissistema. Elas não estão satisfeitas com essa desgraça toda que está aí. Isso só mostra a necessidade urgente de mudarmos o mundo para melhor de forma que atenda aos interesses da maioria dos seres humanos, e não de grupos minoritários poderosos que controlam o Estado e a economia contra os nossos interesses.

0 comentários:

Postar um comentário