quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Se Deus não existe, tudo é permitido?


frase do título ficou famosa no livro Os Irmãos Karamazov, do russo Fiodor Dostoievski - onde aborda uma das questões mais polêmicas do mundo moderno: sem uma crença em um ser superior, passaríamos a viver num vale tudo moral? A minha resposta é: não! A busca por um código de valores sempre foi uma preocupação central da filosofia, sem a necessidade de uma legislação divina. Durante o século 18, os filósofos iluministas criaram ideais de igualdade e justiça social, pois eles acreditavam que era possível defender a ética sem apelar para uma religião.





"Não somos amados por sermos bons. Somos bons porque somos amados" 
(Desmond Tutu)


O filósofo francês Jean Paul Sartre, o pai do existencialismo, disse que a nossa própria condição de seres que vivem em sociedade é suficiente para justificar a prática de valores solidários. Além disso, há de lembrar que a fé não se traduz apenas em atos de paz e harmonia, basta ver que os grandes conflitos religiosos do passado e o terrorismo fundamentalista moderno têm e tiveram como base uma ética religiosa.

A genética nos influencia a sermos éticos?

O papel da seleção natural no nosso comportamento
Há cerca de 75 mil anos atrás, o Vulcão Toba, na Indonésia, explodiu e provocou mudanças ambientais profundas em todo o planeta. Essas mudanças foram suficientes para causar quedas expressivas na temperatura global e a redução severa de alimentos disponíveis. Como consequência direta e indireta dessa catástrofe, tivemos a morte de um número incalculável de seres humanos.
Segundo exames de DNA mitocondrial, as 7 bilhões de pessoas que vivem hoje no planeta são descendentes de um pequeno grupo de cerca de 10 mil seres humanos que sobreviveram a esse cataclismo. Essa redução drástica no número de seres humanos foi um dos fatores preponderantes para que valores como a união, a solidariedade e o altruísmo fossem essenciais para a sobrevivência da espécie. Se houvesse discórdia, egoísmo ou antipatia entre os sobreviventes, acabaria ocorrendo guerras e disputas que poderiam eliminar de vez a espécie humana do planeta.
Isso mostra que o comportamento solidário e benevolente do ser humano vem também de valores genéticos. Tais valores foram transmitidos pelas pessoas que precisaram se unir por questões de sobrevivência naquela época. A empatia e o altruísmo são naturais do ser humano. Pessoas que eram vingativas, assassinas, antissociais ou inescrupulosas não eram bem vistas pelo grupo e, como consequência, foram excluídas ou tornaram-se minoria por não serem aceitas socialmente. É por essa razão que nos emocionamos quando vemos pessoas sofrendo e nos solidarizamos quando vemos pessoas pedindo ajuda.

Porcentagem de ateísmo nos países - seriam eles antiéticos?

De onde vem a moral dos descrentes?
A moral é o conjunto de regras de condutas ou de hábitos construídos a partir de diversos fatores, sejam eles consuetudinários, hereditários, filantrópicos, humanistas, culturais, sociais, pessoais, religiosos, etc. Esses valores são passados ao indivíduo, principalmente, através da sociedade, da família e da educação. A moral também pode ser definida como empatia, ou seja, baseada na regra de ouro ou na ética de reciprocidade, que diz: "Trate os outros como você gostaria de ser tratado".
Ao contrário do que muitos pensam, elementos como a caridade, a solidariedade e o altruísmo não são fatores morais, pois eles já nascem com o ser humano. Se uma criança cai num rio e não sabe nadar, qual é reação natural de um adulto, independentemente de ter ou não religião? A reação natural é de pedir ajuda ou de tentar resgatar a criança. É inerente ao próprio ser humano a capacidade de se comover e de ser solidário ao ver alguém precisando de ajuda. O altruísmo, a bondade e a solidariedade podem ser estimulados pelo ambiente, mas eles são inerentes ao ser humano e não dependem da moral para existirem.
Algo que precisa ficar claro é que a moral é um conceito totalmente individual. Veja no caso dos vegans, por exemplo. Para os vegans militantes, comer carne pode ser algo moralmente errado. Mas para um vegan moderado não é necessariamente errado comer carne. E quem está com a razão?
Já que a moral é diferente para cada pessoa, então como saber o que é certo ou errado? É justamente aí que entra a ética. A ética é justamente o conjunto de valores e princípios - baseados na razão ou num consenso - que são utilizados para regular as diversas morais conflitantes. É aí onde entra aquela velha história de "o meu direito termina onde começa o do outro".
Portanto, a ética está acima da moral. Um exemplo disso são os próprios cristãos. Afinal, ninguém de sã consciência leva ao pé da letra os versículos bíblicos onde Deus manda matar, como Deuteronômio 17,2-5, por exemplo - onde Deus manda apedrejar os incrédulos. Isso porque matar as pessoas, seja lá por qual for o motivo, é anitético.
O maior representante da ética universal são os direitos humanos, que consiste numa tentativa de unificar as diversas éticas das diferentes culturas.


“Se as pessoas são boas só por temerem o castigo e almejarem uma recompensa, então realmente somos um grupo muito desprezível.” 
(Albert Einstein)



Portanto, a falta de uma moral objetiva (religiosa, no caso) não é empecilho para praticarmos o bem - e a presença de uma moral não impede que as pessoas pratiquem o mal. O amor, a educação e o humanismo são que definem a índole e o caráter das pessoas. Para aqueles que descumprem as leis impostas pela ética, há punições e restrições sociais. Daí chegamos à conclusão que aquilo que torna as pessoas más são a injustiça, a impunidade e a falta de valores éticos - e não a descrença em divindades.



Fontes:
Teoria da catástrofe de Toba
A Eva mitocondrial
Moral e ética sem religião
Resposta ao desafio teísta sobre moralidade

2 comentários:

  1. Ola Amigo !!

    Eu concordo que se a pessoa faz o bem por obrigação, na verdade ela nunca foi boa... interesseira talvez...
    Mas se hoje as pessoas simplesmente perdessem esse medo de ser punida, o mundo enfrentaria um enorme caos, pq infelizmente a bondade é um ato de obrigação e não de amor! Que pena !
    Qta ignorancia existe no coração humano !
    Ventos de Paz !!

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    1. Olá!

      Concordo com o teu raciocínio, pois ainda tem muita gente que, infelizmente, precisa temer a algo onipresente para que não faça besteiras por aí. Inclusive pretendo criar um post falando sobre o lado bom da religião, que é justamente incentivar, mesmo que que por obrigação, que as pessoas façam o bem.

      Namastê!

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