sexta-feira, 31 de maio de 2019

Por que as pessoas fugiam de paises socialistas?


Uma pergunta muito recorrente nos comentários deste blog é por que raios tanta gente fugia desesperada dos países socialistas para os países capitalistas. Muita gente usa esse argumento para concluir que "o socialismo nunca deu certo" e que "o capitalismo é o melhor sistema". Mas não é bem assim. Há dilemas na vida que são muito mais complexos quando observados de perto. Como já cansei de explicar neste blog, o capitalismo só "deu certo" de fato para minorias privilegiadas que detém o poder econômico. Todo o resto da população paga a conta dos plutocratas trabalhando mais que o que devia para ganhar bem menos que o que merece. Isso sem falar das bilhões de mortes causadas pelas políticas de desigualdade e pelas guerras do capitalismo. Mas enfim, por que as pessoas fugiam de Cuba para os EUA e não o contrário? Ou por que as pessoas fugiam da Alemanha Oriental e não o contrário? Ou por que as pessoas fogem da Venezuela?

Balsa de refugiados cubanos

Primeiramente, é preciso dizer que estas fugas de países socialistas são recortes pontuais de fatos da narrativa capitalista. Sim, muita gente fugia dos países socialistas, isso é um fato. Mas o que a direita não conta é que muita gente também fugia dos países capitalistas para os socialistas. Gente que se encantava com a ausência de miseráveis nas ruas cubanas, gente que conseguia emprego estável na Alemanha Oriental e gente que deixou diversos países capitalistas para estudar na URSS são a prova disso. Claro que isso era menos comum, porque sempre houve uma propaganda capitalista violenta contra os países socialistas e em alguns casos, como nos EUA, viagens diretas para Cuba eram dificultadas. Fora que os fugitivos cubanos recebiam uma série de benefícios do Estado americano caso chegassem na costa estadunidense em botes.

Pois bem, agora vamos de uma vez às quatro razões mais recorrentes alegadas pelos refugiados de países socialistas.

1-Revolta de pessoas ricas que perderam suas propriedades, fábricas, terras e privilégios.
2-Racionamento de alimentos e produtos perecíveis pelo fato da produção ser sob demanda e baseada em recursos para evitar desperdícios.
3-Falta de liberdade individual, política e principalmente religiosa.
4-Salários mais baixos devido à planificação econômica e uma maior redistribuição de renda para reduzir as desigualdades.

Outras razões eram a frustração com relação ao padrão anticonsumista do socialismo e também a baixa variabilidade de ofertas e de inovações que faziam com que muitas pessoas não gostassem do sistema socialista. Além disso, no caso de Cuba havia um agravante que era a pobreza – pobreza causada pelo boicote econômico que ilha sofreu por décadas. Os EUA impuseram o embargo econômico contra Cuba em retaliação porque não puderam invadir Cuba militarmente após a Crise dos Mísseis de 1962, e isso foi decisivo para causar instabilidade econômica na ilha caribenha. E, para piorar, com o fim da URSS, Cuba perdeu grande parte dos investimentos necessários para desenvolver o país economicamente. A situação de Cuba foi (e continua a ser) muito difícil porque não é fácil ser uma ilha pobre socialista em um mundo capitalista que te boicota de todas as formas possíveis.


Nada disso quer dizer necessariamente que o socialismo era pior que o capitalismo. Isso porque enquanto o socialismo era ruim para uns, era bom para outros. Pessoas mais pobres, que não tinham nada, que não tinham emprego, que morriam de fome e de frio ao relento e que não tinham sequer esperança tiveram uma melhora de vida considerável no socialismo de Estado. Isso os capitalistas não contam porque não querem que você saiba.

E os refugiados venezuelanos?

Sobre a situação da Venezuela, o que ocorre por lá é um capitalismo de Estado que está sob intenso ataque das forças capitalistas. Depois da crise das commodities e com as petrolíferas internacionais loucas para roubar o petróleo do país, Maduro sofreu (e sofre) uma poderosa pressão de quase de todas as oligarquias nacionais e internacionais para entregar o poder a um neoliberal qualquer da direita carniceira venezuelana. E como Maduro não cedeu, passou a sofrer boicote de produtoras privadas de alimentos e de remédios para forçar uma crise humanitária no país. Aí vem os coxinhas dizendo por aqui que a Venezuela é, por isso, uma "ditadura socialista". Ora, tenha paciência. Nada na Venezuela foi coletivizado, não foi feita uma reforma agrária no país, os meios de produção continuam sendo privados, os trabalhadores não subiram ao poder, existem partidos de direita formando maioria no parlamento e vem aloprado por aqui dizer que a Venezuela é "socialista". Pior que isso é dizer que a Venezuela é uma "ditadura", porque essa seria a primeira ditadura da história com eleições diretas e com a participação da oposição. Apesar da oposição ter se recusado a participar por covardia, isso não exclui o fato de que o presidente foi eleito pelo povo de seu país. Muito pior foi no caso do Brasil, onde Lula foi preso para não ganhar as eleições contra o clã Bolsonaro. E no final, nós é que somos "democráticos". Durma com um barulho desse.

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