sexta-feira, 6 de maio de 2016

De volta para o futuro do pretérito

Confesse: você já estava com saudade desse tempo, não estava?

Que o impeachment, vulgo Golpe, de Dilma Rousseff virou cabo de guerra político-ideológico, isso ninguém discute. O que não faltam são pseudos cientistas políticos nas redes sociais dando a palavra final sobre fatos que até mesmo juristas renomados não conseguem ter pleno consenso. Só lembrando que o tema envolvendo orçamento público é complexo e necessita de conhecimento mínimo para ser abordado. Mas antes de qualquer conclusão sobre o assunto, é bom que se digam duas coisas fundamentais.

A primeira é que o impeachment é algo seríssimo que só deve ser usado em casos extremos onde o chefe do poder executivo tenha cometido claramente um crime doloso. Considerar categoricamente que a assinatura de créditos suplementares e as pedaladas fiscais são crimes de responsabilidade faz parte de uma conclusão arbitrária que depende da forma com a qual se interpreta a Lei do Impeachment. Por isso mesmo, a decisão, no final das contas, acaba sendo política – e não técnico-jurídica, como deveria ser. O problema disso tudo é que estamos aplicando, inconscientemente ou não, interpretações subjetivas que se parecem muito com a exegese e a hermenêutica bíblicas para decidir o futuro do país. Ora, isso é gravíssimo. As acusações para o impeachment são fracas, superficiais, forçadas e tendenciosas por apontarem irregularidades contábeis ao invés de criminais. O ex-ministro do STF Joaquim Barbosa, aquele que julgou o Mensalão, alertou sobre isso diversas vezes. Impeachment feito por razões que requerem interpretação pessoal e que dividem um país não tem chance de terminar bem. Se a Dilma fosse acusada de corrupção ou de um crime que realmente fosse indiscutível, essa polarização seria bastante reduzida, porque haveria uma prova concreta e clara de crime. Mas como não foi isso que vimos, as consequências para essa aventura política destrambelhada e irresponsável podem ser imprevisíveis. Até mesmo os governadores estão correndo o risco de serem impichados, porque a maioria deles também fez as tais pedaladas. Se a Presidente da República for afastada por isso, por que os demais também não seriam? Só por isso já se vê como as coisas podem ficar realmente complicadas num futuro próximo.

A segunda coisa a se dizer é que não estamos olhando para o contexto geral dos fatos, que envolvem política externa, crise internacional do capitalismo, crise internacional do petróleo, quedas de governos progressistas em Honduras e no Paraguai, o Banco do BRICS incomodando o FMI, a vingança do corrupto Eduardo Cunha contra Dilma e a velha elite burguesa querendo aumentar ainda mais a sua fatia do bolo. Como bem disse o ex-presidente da OAB Marcello Lavenère: “O impeachment tem o cofre e o cérebro fora do País”. É preciso parar de ingenuidade e ignorância, e olhar também para uma série de outros fatos suspeitos ocorrendo simultaneamente. Por exemplo, quem acha que as ações sincronizadas entre a Globo e o juiz Sérgio Moro foram meras coincidências, é um ingênuo total, para não dizer coisa pior. A Fiesp, que é uma das maiores patrocinadoras do impeachment, tem interesses que não são simplesmente os de baixar os impostos e o preço do feijão. O astrólogo medieval radicado nos EUA, Olavo de Carvalho, também possui interesses que não são simplesmente os de combater os "comunistas" do PT e do Foro de São Paulo. Os financiadores do MBL, por sua vez, têm propósitos que não se resumem a ressuscitar o neoliberalismo patológico disfarçado de combate à corrupção do PT. Falando nisso, o integrante mais notável do MBL, Kim Kata sei-lá-o-quê, que se aliou ao corrupto Eduardo Cunha, cai em contradição o tempo inteiro quando debate com alguém que conhece alguma coisa mais que os vilões dos Power Rangers. Disso aí já se vê o nível da oposição que temos hoje no Brasil e o porque esse impeachment, vulgo novamente Golpe, é uma das coisas mais vergonhosas, ridículas e lamentáveis já vistas na histórica deste país. Nada em política acontece por acaso e tudo está interligado por uma imensa teia onde o simples bater de asas de uma borboleta no Japão pode causar um tufão no Brasil.


Agora junte todo esse contexto a uma massa de manobra despolitizada – e que pensa que não é protofascista – que você tem os ingredientes certos para trazer a década perdida de volta para o futuro: para o futuro do pretérito. Futuro este onde teremos a volta da super inflação, crise econômica, queda drástica do PIB, queda do poder de compra, estagnação da economia, aumento da dívida externa, fuga de investidores e um desemprego ainda maior do que temos hoje. E ao contrário do que pregam os neoliberais: não, o governo do PT, apesar de ser ruim, ainda não chegou a este ponto.
Pode apertar os cintos, porque vêm turbulência das grandes por aí. Vários conhecidos e ex-colegas meus estão deixando o Brasil para morar no exterior, porque eles sabem bem que teremos tempos difíceis pela frente na terra achada por Pedro Álvares Cabral. Tire a sua pochete e o seu walkman da gaveta, porque estamos a caminho dos anos 1980 em pleno século 21.

“Infeliz a nação que precisa de heróis.”
(Bertolt Brecht)

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