quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

Por que não creio em deuses?


Pois é, faz tempo que não escrevo sobre deuses e religiões. Eu tenho evitado escrever sobre esse assunto de forma crítica por duas razões básicas. A primeira razão é a falta de interesse mesmo, já que tenho pouco tempo para escrever e assuntos mais interessantes para tratar. E a segunda razão é para não desamparar espiritualmente os religiosos. Isso porque eu compreendo na essência o que leva as pessoas a seguirem uma religião/doutrina e a acreditarem em deuses. Afinal, já fui cristão um dia e sofri bastante quando perdi minha fé. Acho cruel tentar tirar dessas pessoas o único refúgio existencial que muitas delas têm diante das aflições da vida. Mas se as pessoas não se importarem em saber por que sou irreligioso, agnóstico e apateísta, então tenho que ser franco com elas.

Eu sou o que sou porque tudo que e vi e vivi ao longo da vida me levou à conclusão que, ao contrário do que as crenças espirituais pregam, não há verdades supremas no universo. Não há como haver certezas absolutas para nós, humanos, que temos uma percepção sensorial muito limitada da realidade e estamos em constante processo de aprendizagem e autocorreção. É precipitado, no meu entendimento, tirar conclusões definitivas sobre todas as coisas baseadas exclusivamente na fé ou em evidências anedóticas (pessoais). E as religiões são uma maneira de direcionar a fé das pessoas para uma percepção equivocada da realidade que se enquadre dentro dos padrões morais de uma sociedade. A religião serve, basicamente, para preencher o vazio existencial das pessoas e para tentar colocar uma ordem social e moral no mundo. Eu, hoje, creio em tudo aquilo que não contraria as evidências. E a existência de certas entidades sobrenaturais e seus dogmas me parecem contrariar muito todas as evidências racionais e científicas por violarem constantemente as leis da física e da lógica. Sem falar que eu não preciso seguir uma religião para entender a importância de ser uma pessoa ética, correta e generosa.
 
Eu acho absurda, por exemplo, a ideia de deus ser um velho de pele branca sentado num trono sobre as nuvens preocupado em fiscalizar a vida íntima das pessoas. Seria, no mínimo, sem sentido criar um universo com bilhões de galáxias para se preocupar com uma única espécie de um único planeta de uma única galáxia. É por isso que a minha visão de deus é uma visão panteísta. Ou, na pior das hipóteses, uma visão pandeísta que considera que o universo é, na verdade, um experimento: uma simulação criada por alguma super inteligência artificial pandimensional. Ainda que o mais provável, para mim, seja que o universo é apenas um entre infinitos universos de um multiverso infinito que nunca teve começo ou terá fim. As coisas não teriam um porquê. As coisas simplesmente são como são sem causalidade e ponto. O finito (nós) não pode compreender o infinito (multiverso). 

 
Pelo que tenho observado, para a maioria das pessoas, o deus de hoje (do século XXI) é um misto de "deus das lacunas" com o "deus da panaceia". Ou seja: é um deus que serve tanto para explicar coisas que não entendemos ou não conhecemos, tais como a morte e a origem de tudo; quanto para acalmar ou curar as nossas inquietações existenciais envolvendo a doença, o medo, a solidão, o desemprego, a dor e a angústia. Eu não preciso desse tipo de deus, porque acho que conviver com o desconforto da dúvida e a aflição do sofrimento é algo necessário para evoluirmos tanto como indivíduos quanto como espécie. Esse tipo de deus que é uma espécie de 'escapismo da realidade', uma 'muleta espiritual' ou um 'amigo imaginário' não é necessário para que a minha existência seja rica de significado. Viver é sofrer e a sabedoria está justamente em saber lidar com esse sofrimento. Uns buscam a religião para encontrar essa sabedoria, já outros buscam a sabedoria e a resolução de conflitos existenciais na filosofia, na ciência, a política, na filantropia ou mesmo no amor.
 

Outra coisa que me afasta da crença de um deus dogmático é que ele manda para o inferno (e por toda eternidade) quem segue uma religião diferente da que ele determina. É um absurdo uma pessoa passar e eternidade no inferno só porque não seguiu uma religião específica. Essa mentalidade medieval de vigiar e punir é por demais primata para soar como algo divino, ainda mais ligada a um ser supostamente "superior e perfeito". A ideia de um deus punitivo sempre me pareceu mera tentativa de controle social por parte das religiões com conteúdo ético. Deus, hoje, como mencionei anteriormente, virou uma fuga da realidade, um escape dos que estão desesperados atrás de emprego e saúde. Se há um deus preocupado com nós, certamente deveríamos procurar por ele não pelo desespero, mas pelas boas obras, tais como o amor, o respeito, a solidariedade, a gratidão, a alegria, o altruísmo, a empatia. Sem falar que um deus que se revela aos homens através de livros antigos em um mundo de analfabetos é, por si só, uma grande contradição.


Mas o grande problema mesmo na crença de entidades sobrenaturais é que essas crenças geralmente são alienantes e conflitantes entre si. Quase sempre essas crenças privilegiam grupos específicos e mantém o sistema dominante intacto. Enquanto muitas pessoas cristãs acham que o problema do mundo está no demônio e no pecado, o verdadeiro problema do mundo está nas questões práticas. Injustiça social, empobrecimento da classe trabalhadora, imperialismo, preconceitos, miséria e violência se resolvem com atitude, com conhecimento e com luta. Ficar dentro de um templo rezando e dando dinheiro pro pastor não vai mudar em nada o mundo. Essa coisa quase folclórica das religiões abraâmicas de enredar histórias fantásticas entre o bem e o mal foi copiada de religiões antigas e me soam por demais mitológicas e distantes da realidade. Elas já não servem mais para a realidade dos nossos dias.

Enfim, como eu sou um sujeito pragmático, cético e curioso, as crenças religiosas não têm nada a ver comigo. Ainda bem.

2 comentários:

  1. E aí Wellington,oque vc me diz dessa notícia ?

    https://meioinfo.eco.br/inteligencia-artificial-encontra-dados-divergentes-aos-estabelecidos-na-teoria-da-evolucao/


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    1. É precipitado tirar conclusões sobre a evolução por meio de IAs, porque elas não dispõem de todas as variáveis das pesquisas de campo. O tema é complexo e merece mais investigações. Abraço.

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