sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

O conceito de virgindade é uma bobagem patriarcal


Há muitas e muitas gerações que os adolescentes vivem encucados com a ideia de virgindade. No caso dos meninos, a regra é que ela é um fardo que eles precisam se livrar o quanto antes para virarem "homens". No caso das meninas, já é o contrário, pois ela é tratada como uma espécie de "virtude". E essas formas opostas de se enxergar a virgindade para cada gênero só mostra que o conceito social de primeira relação sexual é uma criação totalmente sexista que tem origem no patriarcado.

O sistema patriarcal impôs o conceito de virgindade.


Muito antes dos métodos contraceptivos se tornarem amplamente acessíveis, o homem chefe da família tradicional precisava ter certeza que o filho era realmente seu. Isso por uma questão de dominância machista e para passar a sua propriedade (herança) para seus filhos legítimos. O melhor jeito encontrado para este fim foi de arranjar uma esposa que fosse "virgem", pois isso daria segurança ao marido de que se nascessem filhos, eles seriam biologicamente seus. Foi daí que a sexualidade feminina passou a ser controlada e a virgindade da mulher até o casamento virou uma exigência a ponto de ter existido um artigo na lei brasileira que dizia o marido podia pedir anulação do casamento se a mulher não fosse mais virgem. O sagrado matrimônio, com toda sua simbologia patriarcal – incluindo aí o vestido de cor branca da noiva para representar sua "pureza" – acabou virando um ritual divino com a bênção de outra instituição patriarcal chamada igreja. Porém, como tudo que é forçado, evidentemente que isso gerou uma série de problemas já na noite de núpcias, tais como cistites de lua de mel, acusações de infidelidade por conta de hímen complacente e até mesmo noivos que anularam o casamento ao descobrirem que casaram com um transexual. E o mais tragicômico disso é que essa virgindade pré-nupcial não garantia que a mulher era realmente virgem. Mas, falando nisso, o que é realmente ser virgem?

Perder a virgindade não é igual para homens e mulheres.

O conceito patriarcal de virgindade, por ser heteronormativo e falocêntrico, difere entre homens e mulheres. Para os homens é simplesmente não ter colocado o pinto dentro de alguém. Já para a mulher é ter o hímen intacto. Só que todo mundo sabe que isso é uma grande bobagem. Isso porque muitas mulheres tinham o hímen complacente; muitas faziam todos os tipos de sexo, menos o vaginal; algumas mulheres rompiam o próprio hímen se masturbando e existem técnicas cirúrgicas de reconstrução do hímen. No caso dos homens, não existe como saber se o cara realmente é virgem, já que a relação sexual não deixa nenhuma marca física. Aliás, falando de virgindade masculina, eu escrevi duas postagens bem descontraídas sobre como descobrir se o homem é virgem. Quem quiser dar uma olhada, os links estão no final do post.

Leilão de virgindade é o fim da picada.

Pois bem, o ponto que eu quero chegar é que não há como saber, de fato, se alguém é virgem dentro do conceito tradicional do patriarcado. A perda da virgindade é, na minha opinião, uma experiência mais mental e emocional do que física. Isso porque sexo não precisa deixar marcas ou "provas". A primeira experiência sexual é muito superestimada e ela normalmente é bem horrível para a maioria das pessoas. Uma pessoa que, por exemplo, tenha sofrido abuso sexual ou estupro em sua primeira vez carrega uma memória terrível da sua primeira experiência. Então, a primeira vez para uma pessoa dessa poderia ser a primeira relação sexual em que ela realmente consentiu e sentiu prazer. Sem contar dos casos de meninos homossexuais que são levados quase a força para transar com prostituas e de meninas que sofrem traumas físicos por falta de conhecimento do próprio corpo. Esses são apenas alguns exemplos de como essa coisa de virgindade é um conceito totalmente retrógrado e desnecessário. Enquanto isso, pessoas que fazem sexo verbal, sexo virtual, sexo lésbico, sexo tântrico, masturbação mútua ou que transam com sex dolls são consideradas tecnicamente "virgens". Aliás, se a gente parar para pensar, até um beijo na boca – no melhor estilo beijo francês – às vezes é mais intenso que uma relação sexual. E nesses casos, como fica? É por isso que eu tenho uma teoria de que a maioria das pessoas mente sobre como foi a sua primeira relação sexual, porque geralmente a coisa é esquecível, constrangedora e traumática.

Honestamente, por mim, esse conceito de virgindade nem devia existir mais, porque além de inútil, ele só traz sofrimento para a maioria das pessoas.

Seria cômico se não fosse trágico.

Postagens relacionadas:
Como descobrir se ele é virgem (parte 1)
Como descobrir se ele é virgem (parte 2)

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