domingo, 20 de novembro de 2016

Se opor a políticas igualitárias é uma forma de racismo


Ser negro nunca foi fácil no Brasil – menos ainda agora que várias conquistas sociais estão sob risco diante de um governo que governa apenas para os mais ricos e privilegiados. "Afrocoitadismo", "vitimismo", "populismo" e outras expressões pejorativas do gênero têm sido usadas frequentemente contra qualquer tentativa de avanço rumo a uma sociedade mais igualitária. Quando as políticas de cotas e outros programas sociais passaram a incluir os grupos historicamente excluídos da nossa sociedade, a soberba reacionária se viu obrigada a inventar razões e desculpas para se manter no topo de seus privilégios. E boa parte desse ressentimento reacionário se exteriorizou de forma disfarçada justamente contra o partido que promoveu essa inclusão: o PT. Todos são contra o racismo, mas quase todos também são contra as medidas para combatê-lo. Aí eu me pergunto: que diferença faz entre ser racista e ser contra as políticas de inclusão social?

Eu também tenho um sonho...

O racismo que predomina no século XXI é o racismo dissimulado, que é aquele racismo "cordial", "velado" e com justificativas "bonitinhas" fundamentadas em velhos sofismas. O que temos, no fundo, no fundo, é uma rejeição a tudo que tenha origem negra. Os reacionários da internet são as provas vivas disso, disseminando aversão contra a música da periferia (funk ou rap), aversão contra as religiões de matriz africana (afro-brasileiras), aversão contra o biotipo (cabelo "ruim") e indiferença com relação à violência sofrida diariamente por negros e pardos. Temos cotidianamente um verdadeiro extermínio contra os jovens negros nas periferias e quase nada é feito para frear essa tragédia. Temos todos os dias jovens com potencial para serem grandes atletas, grandes intelectuais, grandes magistrados, grandes chefes de Estado ou grandes cientistas se preocupando em não morrer de fome ou não serem assassinados ao invés de terem as mesmas oportunidades que a maioria das pessoas de classe média têm. E todas as vezes que se tenta alguma medida para combater isso de forma prática, os reacionários inventam mil e uma razões para ser contra.


Essa história de dizer que brancos e negros são socialmente iguais e que cotas raciais são "racistas" não é uma conclusão racional. Ora, como uma sociedade formada majoritariamente por negros e pardos têm em seu parlamento, em sua classe média e em sua elite intelectual uma imensa maioria de brancos? Qualquer pessoa minimamente instruída sabe muito bem que não existe igualdade de oportunidades e de formação entre pobres e ricos. E a maioria das pessoas mais pobres, por razões históricas, ou são pardas, ou negras. Não dá para negligenciar o fato de que precisamos de medidas urgentes que reduzam essa desigualdade e salvem as vidas e os futuros de tantos jovens pobres e negros.
Quando dizemos que alguns grupos precisam de cotas não é por subestimar o potencial e a inteligência deles, muito pelo contrário: é justamente para que eles possam desenvolver esse potencial que em condições normais seria subaproveitado pela sociedade. Um futuro cientista que tenha o potencial para desenvolver a cura de uma doença grave não teria como pesquisar sobre essa cura se não tivesse antes a oportunidade de ingressar numa universidade. Nem todo mundo, por mais gênio que seja, tem condições de trabalhar e estudar aguentando racismo, preconceito, fome, violência e tendo que sobreviver com falta de saneamento básico, com uma saúde de péssima qualidade e um ambiente familiar desestruturado.
Temos que parar com esse combate estúpido a políticas inclusivas. Precisamos parar de choramingar por nossos antigos privilégios e entender que jamais haverá meritocracia enquanto uma parte das pessoas tiver tudo e outras não tiverem nada.


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