terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Opressão ou privilégio?

Quem é privilegiado e quem é opressor?

Tenho visto com bastante frequência as pessoas confundindo "grupos privilegiados" com "grupos opressores". Mas será que esses dois grupos são iguais? Ou será que eles possuem alguma diferença?

É comum o socialista acusar o burguês de ser opressor, assim como também é comum negros acusarem brancos de opressão e as feministas acusarem os homens da mesma coisa. Mas afinal de contas, o que é "oprimir"?
Segundo o Dicionário Online, a palavra "opressão" significa várias coisas, entre elas:

1-Impor-se através da força, da violência ou de comportamentos autoritários: o chefe oprimia seus empregados.
2-Ocasionar tristeza ou melancolia em alguém: o medo oprimia-o.
Sobrecarregar algo ou alguém com impostos e taxas exageradas: o prefeito oprimiu a população com suas novas taxas.
3-Abater ou suprimir por completo: o poder tudo oprime.

Agora vejamos o significado da palavra "privilégio", segundo o mesmo dicionário:
1-Vantagem (ou direito) atribuída a uma pessoa e/ou grupo de pessoas em detrimento dos demais; prerrogativa: os privilégios do presidente.
2-Qualidade ou particularidade específica de algo ou alguém; apanágio: segurança pública não deve ser um privilégio daqueles que pagam mais impostos.
3-Circunstância de supremacia, baseada ou não em hábitos culturais e legais, ocasionada pela má distribuição do regime político e/ou econômico.

O que fica claro para mim é que opressão é um ato ativo de cercear ou controlar alguém. Enquanto que o privilégio é, basicamente, ter mais direitos e liberdades que outros: é algo mais passivo, ligado às circunstâncias ou ao sistema. Então vamos raciocinar: se um burguês tem uma renda mensal maior que a de um gari, por exemplo, ele não está sendo um opressor, mas, sim, um privilegiado. Opressão seria se o burguês não permitisse que o gari ganhasse um salário melhor, seja através de leis ou mesmo explorando diretamente este trabalhador em questão. No caso do feminismo, por exemplo, homens têm mais liberdade sexual e ganham melhores salários que as mulheres, fato este que é um privilégio. Opressão seria se algum movimento reacionário tentasse evitar que as mulheres tivessem os mesmos direitos dos homens. No movimento negro, a mesma coisa: ter menos chances de ser confundido com um bandido na rua é menor para os brancos, o que é um privilégio. Mas querer manter os negros na miséria para perpetuar esse privilégio branco é opressão. Todo opressor é privilegiado, mas nem todo privilegiado é opressor. A falta de compreensão com relação a isso gera fanáticos que criam ódios de classes, separatismos e generalizações estúpidas. O que os movimentos igualitários devem fazer é lutar para que os privilégios virem direitos para todos. Combater o opressor e esquecer os privilégios destes não gera outra coisa a não ser uma luta de classes que não tem fim nunca e que não leva a lugar algum. O oprimido acaba se tornando o novo opressor. O combate não deveria ser para atacar os opressores em si, mas sim para atacar a ideologia opressora (fascismo, machismo, racismo) que usa o indivíduo como ferramenta, como massa de manobra. A batalha precisa ser no campo ideológico e legislativo, e não no campo jurídico. Isso precisa ser dito, porque senão seremos como a cobra que morde a própria cauda. Ou como disse certa vez o célebre educador Paulo Freire: "Quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é virar opressor".
Então pense duas vezes antes de direcionar sua sede de justiça contra qualquer homem, branco, cis, hétero, burguês, destro, cristão e/ou não-amputado. Direcione sua sede de justiça aos privilégios e os democratize. Opressores sem privilégios não sobrevivem.

2 comentários:

  1. Sabe uma coisa que seria muito nobre da sua parte? Assumir que tem privilégios e listá-los.

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    1. E eu digo o mesmo pra você, afinal, sempre há alguém mais oprimido do que a gente, olha só este quadrinho, por exemplo.

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