sábado, 27 de fevereiro de 2016

Sobre a sensualidade e objetificação no Street Fighter

Um brutamontes desse lutar contra uma mulher não é machismo, mas a roupa dela é?

Desde meados de janeiro deste ano que me comprometo a escrever pelo menos um post por dia como forma de dar dinâmica ao blog. Tenho tentado, na medida do possível, abordar os mais de 50 temas que estão na fila de espera para serem publicados desde o ano passado. Porém, tem duas coisas que têm me atrasado na divulgação desses posts, que são as lambanças da política brasileira e os justiceiros sociais, especialmente os que advêm do feminismo radical. E desta vez, mais uma vez, tenho que me dar ao trabalho de desconstruir a argumentação torpe de pessoas que têm atacado o game Street Fighter 5 o acusando de "machista" devido à sensualidade de suas personagens femininas. Mas antes de refutar qualquer coisa, vamos primeiro pensar sobre o que é sensualidade.

A subjetividade das paixões
A sensualidade é um sentimento ligado ao prazer dos sentidos, em especial à luxúria, ao erotismo. A sensualidade não é uma característica (ou um conjunto de características), como alguns pensam: ela é o próprio sentimento de volúpia que aflora ao enxergarmos algo belo e atraente em alguém ou algo. La Gioconda, de Leonardo da Vinci, apesar de ser apenas uma pintura mostrando uma mulher aparentemente serena e recatada, é considerada por muitas pessoas como uma representação extremamente sensual devido a sua simetria e razão áurea – além do seu sorriso que denota, a depender do ângulo que se olha, uma tímida devassidão. Isso pode parecer um pseudo eruditismo pernóstico de minha parte, mas o que quero dizer é que a sensualidade está nos olhos de quem a vê. Da mesma forma que é subjetivo achar sensualidade numa mulher que caminha usando trajes de banho no calçadão de Ipanema, como cantou o poetinha Vinícius de Moraes – é também subjetivo achar sensualidade num quadro renascentista. A sensualidade está na "maldade" de quem olha. Tudo depende do contexto histórico-cultural e do observador em questão. Portanto, achar sensualidade em personagens de quadrinhos, revistas e games é algo, por tabela, também subjetivo. E essa subjetividade serve apenas como critério de julgamento moral – e nunca como um valor ético para se tomar decisões.  

Chun-Li: a revolucionária injustiçada
Desde o Street Fighter 2 - The World Warrior, lançado no início dos anos 90 pela Capcom, que personagens femininas "sensuais" aparecem no jogo. A primeira delas, a lutadora chinesa Chun-Li, chamou atenção não apenas por ser uma mulher lutando contra um bando de marmanjos, mas também por suas roupas não muito recatadas, do ponto de vista da moral subjetiva da maioria. A Chun-Li, ao invés de ser tratada como uma personagem revolucionária por inserir uma figura feminina num ambiente tipicamente dominado por homens, acabou virando bode expiatório dos puritanos que prestavam mais atenção no comprimento do seu vestido, do que na eficiência dos seus golpes. É claro que os games daquela época tinham como público-alvo os homens, por isso uma mulher jovem e bela cairia melhor que outra que chamasse menos atenção. O grande paradoxo dessa história é que hoje há feministas que saem quase nuas nas ruas em protestos organizados e ninguém as acusa de machismo ou objetificação. Mas os trajes de lutadoras nos games – às vezes menos ínfimos que os das próprias manifestantes – são machistas e objetificadores segundo elas mesmas. Então o que me parece diferenciar se algo é objetificação ou não é se este algo atende aos interesses dessas feministas: se atender, não é; se não atender, é. Este critério arbitrário é que realmente tem me incomodado, ainda mais quando as roupas das lutadoras do jogo se parecem muito com as roupas usadas por mulheres comuns nas ruas.

Seria objetificação sexual se isso fosse nos games?

Portanto, essa história de que a sensualidade, as roupas ou as poses "degradam" ou "coisificam" as mulheres é um julgamento totalmente arbitrário, subjetivo e sexista. Querer impor os tipos de roupa que as mulheres devem usar em nome da sua ideologia é algo que só não soa machista na cabeça tendenciosa de machistas e feministas radicais abolicionistas. Portanto, pare e pense melhor antes de compartilhar nas redes sociais qualquer meme da Anita Sarkeesian. O mundo vai agradecer ao seu bom senso caso você faça isso.

3 comentários:

  1. Vi seu último post, e pensei: qual o real foco do seu blog?

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    1. O foco inicial desse blog foi o de divulgação científica, quem diria... Daí que comecei a abordar filosofia, religião, cultura, sexualidade, games, música, feminismo, política... E hoje não tem mais um foco específico, apesar de que eu gostaria de estar escrevendo mais sobre ciência e ceticismo.
      O blog acabou saindo da linha e virou um espaço opinativo onde abordo qualquer tema. Acho que essa diversidade de temas acabou sendo boa porque me ajudou a amadurecer em outros aspectos e a adicionar mais conteúdo na internet.

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  2. Há muita ignorância (proposital?) no feminismo.
    Feministas reclamam da objetificação da mulher por mulheres serem femininas e colocam homens em poses femininas para mostrarem como seria "rídiculo". Além de homofobia, essas feministas ignoram que a objetificação masculina é diferente. O homem é colocado como forte, sarado, herói, que pode tudo. O super-homem é um exemplo disso. É um personagem bem objetificado para a fantasia das mulheres.

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