sexta-feira, 29 de junho de 2018

A falta que as mulheres fazem na ciência


Há alguns anos, num debate acalorado lá no Yahoo Respostas, eu lembro de ter deixado um masculinista revoltado simplesmente por ter cogitado a possibilidade do primeiro prêmio Nobel brasileiro vir para uma mulher. A causa do alvoroço do mascuzão foi porque, na cabeça sexista dele, os homens, por terem mais neurônios, seriam "mais inteligentes" que as mulheres. Ele alegou que seria humilhante para os homens brasileiros que uma mulher ganhasse o primeiro Nobel tupiniquim. Essa reação exagerada do cidadão só serviu para exemplificar o quanto a nossa sociedade ainda está impregnada de misoginia e sexismo. Em nenhum país minimamente igualitário esse pensamento preconceituoso seria exteriorizado sem pelo menos um pingo que fosse de reflexão.

O nosso país ainda é terrivelmente machista e isso, ao contrário do que muitos reaças acreditam, é MUITO ruim para todos nós. Quando enfureci o homenzinho de mente pequena lá no YR, eu estava tratando sobre a necessidade de incluir mulheres na ciência e ele tentava sempre argumentar que "mulheres são menas (sic) inteligentes que os homens porque inventaram menas (sic) coisas". O que nunca se passou pela cabeça daquele machão de internet é que não é uma questão de ter mais ou "menas" inteligência, mas sim uma questão de termos mais igualdade de oportunidades e de direitos. A falta de mulheres na ciência se dá essencialmente pelo machismo da nossa sociedade que trata certas áreas do conhecimento como sendo tipicamente "masculinas" e outras como sendo mais "femininas". E o meio científico, especialmente na área de exatas, infelizmente, carrega o estigma de privilegiar e favorecer muito mais o sexo masculino. Esse é o problema central.

Precisamos de mais mulheres na ciência

Diante desses padrões de gênero socialmente impostos que afastam as mulheres dos laboratórios, eu me pergunto: quantas coisas maravilhosas ainda não foram descobertas porque as mulheres que as descobririam não tiveram o estímulo necessário para seguir a carreira científica? Quantas doenças atualmente sem cura poderiam ter sido curadas se as meninas não desistissem tão cedo de seus sonhos de serem pesquisadoras? Quantas mulheres com inteligência igual (ou até maior) que a de um Einstein tiveram que desistir da carreira por puro machismo dentro do meio acadêmico? Quantas mentes femininas brilhantes deixaram de criar teorias incríveis porque a sociedade sempre subestimou o que as mulheres disseram? Quantos prêmios Nobel deixamos de ter por causa do machismo, da misoginia e da estupidez? Já imaginou o desperdício de talentos, de descobertas e de felicidade que temos só por causa do preconceito? Como eu bem disse ao machista lá do YR e repito aqui: por tudo isso, o machismo pode ter matado a cura da aids – ou pelo menos a adiado por décadas. Pois com menos cientistas pesquisando a cura da aids, menores são as chances de encontrar sua cura.
O machismo não é ruim apenas para as mulheres, o machismo é ruim para toda a humanidade. É por isso que é importante apoiar iniciativas como a da Unesco e da Mulheres na Ciência para incentivar e mostrar a importância das mulheres no meio científico. É preciso incentivar as mulheres a não desistirem de seus sonhos na ciência. E isso começa por uma educação igualitária entre meninos e meninas dentro de casa.

O próximo Einstein pode estar morrendo de fome em um país pobre

Claro que o problema da desigualdade vai muito além das disparidades de gênero, pois há muitos potenciais cientistas que precisam neste momento lutar pela sobrevivência ao invés de estarem dedicando seus neurônios em descobertas em prol da humanidade. Como bem disse Neil deGrasse Tyson: "Talvez o próximo Einstein esteja morrendo de fome na Etiópia". É preciso, por isso, lutar contra todas as formas de desigualdade, porque elas não são naturais e nem benéfica para nós.

A ciência é unissex

PS: Antes que eu esqueça, essa história de que mais neurônios tornam os homens mais inteligentes é pura bobagem. Sim, os homens têm mais neurônios em média que as mulheres, mas isso não indica mais inteligência. Os elefantes, por exemplo, possuem três vezes mais neurônios que os homens, e seriam os elefantes mais inteligentes que nós? A inteligência é determinada por um conjunto muito complexo de fatores. Portanto, essa falácia dos neurônios não possui coerência lógica: é machismo tosco.

2 comentários: