quinta-feira, 9 de março de 2017

Estamos em meio a uma desleal luta de classes


Lá pelos meus 7 anos de idade, eu aprendi a jogar xadrez com o meu pai. Apesar de ter levado um xeque pastor logo na minha primeira partida, gostei muito do novo jogo que havia aprendido. Levei uma porção de mates rápidos do meu pai até aprender a jogar direito. Enfim, hoje eu tenho mais de 25 anos de experiência no xadrez e o jogo esporadicamente seja contra um adversário humano ou contra o computador. Porém, o xadrez não me serviu apenas de mero entretenimento, porque aprendi muitas outras coisas através deste jogo fantástico. Aprendi sobre estratégia, sobre blefe, sobre astúcia, sobre armadilhas, sobre guerra e sobre várias outras coisas apenas jogando xadrez. Diria até que foi o xadrez que tirou a minha inocência e me fez virar adulto.
Pois bem, daí você olha o título desta postagem e me vê falando sobre xadrez... "Onde esse sujeito pretende chegar" – você deve estar se perguntando. Como eu citei anteriormente, eu perdi a minha ingenuidade jogando xadrez. Aprendi que o ser humano pode ser muito mais calculista e pretensioso do que eu imaginava. Muitos jogadores te distraem com certas jogadas para te dar o golpe fatal através de outra jogada muito mais bem elaborada. Quem conhece a Partida Imortal de Anderssen sabe bem do que estou falando. Enfim, era neste ponto que eu queria chegar.

O que acontece no Brasil hoje é exatamente igual ao que ocorre numa partida de xadrez. De um lado do tabuleiro, com as peças brancas, está o 1% mais privilegiado da população, que convencionou-se chamar de "elite". Do outro lado, com as pretas, estão os outros 99% da população, o que inclui eu, você, o mendigo da esquina, o dono da mercearia, o médico, o advogado, o peão de obra, a doméstica e até aquele funcionário público que ganha um salário razoavelmente satisfatório. O que está acontecendo no Brasil agora é a tomada total do centro do tabuleiro por parte das peças brancas. A única peça inconveniente para as brancas é um peão preto no meio do tabuleiro que insiste em obstruir o domínio total das brancas. Esse peão já foi rei e sabe bem que se ele for capturado pelas brancas, o centro do tabuleiro será totalmente dominado. Nós, com as pretas, estamos amontoando as nossas peças de forma desordenada na retaguarda. Enquanto isso, as brancas estão em pleno desenvolvimento, já "rocaram" e têm todas as peças principais estrategicamente posicionadas. Pela experiência que eu tenho no xadrez, posso afirmar sem medo que uma partida como essa estaria perdida para as negras. A coisa está tão feia que nem mesmo o peãozinho lá no centro tem como evitar a tragédia. Mas, estranhamente, mesmo com o jogo praticamente perdido, as pretas não se deram conta do perigo... E é aqui que entra a mídia.

Certa vez, estive conversando com um ex-colega sobre a grande mídia brasileira e ele fez uma analogia um tanto obscena. Ele disse que o povo é a prostituta, o cliente é a alta burguesia oligárquica e os meios de comunicação são a vaselina. Ligue os pontos e você vai entender porque a Globo está tão empenhada em dizer que a revogação da CLT será "boa para o trabalhador", que a reforma do ensino é "maravilhosa" e que há um "rombo" na previdência. Desnecessário dizer onde ficará o verdadeiro "rombo" dessa história. A vaselina passada pela Globo e afins só tem a função de facilitar a entrada da giromba extradescomunal que vai adentrar no rabo do povo. É claro que o objetivo do cliente não é matar a prostituta, mas eu ficaria surpreso se algum cliente realmente se importasse com a saúde da garota de programa.
Enfim, voltando à comparação com o xadrez, a mídia é como aquele jogador maquiavélico (ou o palpiteiro que torce para o adversário) que se aproveita da inexperiência e da desatenção do adversário iniciante para enganar e fazer chantagem psicológica. "Olha, sabia que bispos e cavalos valem 3 pontos? Tanto faz perder um ou outro porque ambos têm o mesmo valor". E aí você troca um cavalo seu por um bispo do adversário durante um jogo embolado, justo onde os cavalos valem mais por saltarem entre as peças rivais. E nesse troca-troca indecente, você perde posições estratégicas, mobilidade e força de ataque.

O que vai acontecer daqui a poucas jogadas é um massacre total das brancas contra as pretas. As negras só irão perceber isso tarde demais. Ou seja: estamos numa guerra de classes onde a alta burguesia está a poucos lances de iniciar uma carnificina. Apesar da desvantagem, ainda há tempo para surpreender o adversário e tentar um contra-ataque milagroso. Se nada for feito para evitar esse avanço brutal da elite, logo, logo, não restará outra opção a não ser tombar o rei. Os que tiverem mais sorte, poderão fugir para o exterior. Já os menos afortunados entre nós, bom, esses verão o Brasil se transformar num inferno com o aumento da pobreza, da violência, do desemprego e das mortes por inanição. Lembre-se que neste jogo haverá um vencedor e um perdedor (uma conciliação de classes é impossível). Alguém estará vivendo no paraíso ao custo da sua estadia no inferno. Lembra-se contra quem estamos jogando? Pois é, sinto muito... Você não estará entre os vencedores.


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